Valeu a visita!

Daqui pra frente, divirta-se trocando ideias comigo.
Conheça meu outro blog: http://everblogramatica.blogspot.com.br

sábado, 7 de setembro de 2013

Sombra da sombra

"Quanto não tinha nada, eu quis; quando tudo era ausência, esperei", canta esse moço natural de Catolé do Rocha. Excelente letrista, ótimo músico, de voz e sotaque característicos e inconfundíveis. Gosto demais de ouvir Chico César. Nem poderia ser diferente, pois o cara é autor de um verso como "É só pensar em você, que muda o dia; minha alegria dá pra ver" - versos que me lembram minhas filhas.

Mas há vezes em que não se lembra de ninguém. Ninguém que possa chegar naquele exato momento e dizer: "Vai, meu! Fala. Tô totalmente à disposição pra te ouvir. Fala aí". Ninguém que chega pra chegar, apenas. Que chega ali e só sua presença já representa um alívio, uma divisão do peso. Alguém que possa chegar e provar por A+B que determinados pensamentos são ruins, que determinadas práticas são nocivas...

Certa vez, quando ainda atuava na coordenação de banca de vestibular, achava já ter lido de tudo em possibilidades de erros (ou de desvios, como querem os mais cuidadosos). Engano meu. Um colega, ao constatar que aquilo não tinha fim, saiu-me com esta: "Pois é, Ever, aquilo que parecia ser o fundo final do poço tinha um ralo". Aquela expressão me remeteu direto ao que seria o fundo do fundo e seu profundo infinito.

Hoje, lendo Machado de Assis com meus alunos, fiz questão de ressaltar para eles a riqueza da expressão "sombra da sombra", que se vê em momentos nos quais o que parecia ser a maior das trevas ainda pode enegrecer. Momentos em que a solidão é imensa e que o tempo passa tão lentamente, que o pêndulo do relógio parece bater uma vez a cada século. É justamente nesses momentos que é preciso ter alguém de quem se lembrar, alguém que - só de ser lembrado - muda o dia. Alguém que, mesmo em face da ausência, consegue esperar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário