"Eu queria poder te dizer sem palavras. Eu queria poder te cantar sem canções", são versos bonitos, poéticos, encantadores de um poeta mineiro, chamado Vander Lee. Com certeza já o citei aqui, não sei se exatamente com esses versos, mas já o citei aqui. Me encantam porque "dizer sem palavras" é tão próximo de "dizer cem palavras", quanto porque canções são feitas justamente para cantar, mas o eu-lírico quer cantar sem canções (sem contar a possível troca de sem por cem).
Esses versos me vêm à mente em razão de uma experiência que tive hoje. Antagônicas experiências que me fizeram pensar sobre o falar, pensar sobre o que falar, pensar sobre por que falar, pensar antes de falar e pensar em falar hoje aqui no blog. A gente não tem mesmo uma clara noção do imenso bem que é essa faculdade de falar, e muito menos do poder que temos quando praticamos o exercício da fala. Poder expressar o mundo e poder expressar o nosso mundo por meio da fala é um privilégio, um dom, um poder...
Havia levado meus alunos para a biblioteca da escola, a fim de fazê-los ler crônicas não só para entrarem em contato com o gênero, mas também para poderem escrever sobre as crônicas em si e, sobretudo, para falarem acerca dos temas retratados nos textos. Apesar de a maioria aproveitar bem a oportunidade, alguns insistem em falar fora de hora, falar o que não se deve, do modo como não se deve... Aí entra a gente para ensinar que falar não é coisa que se desperdice.
Em meio à atividade e enquanto eu passava entre os grupos orientando-os, fui chamado pela bibliotecária que queria me falar sobre uma aluninha, muito novinha - talvez do 5ºano - que, se no ano passado falava muito pouco, neste ano já não fala nada. Ela pediu que eu fosse estar um pouco com a menininha e tentar conversar com ela. Tentei muito, de muitas formas. E ela interagiu comigo. Atendeu a tudo que pedi. Mas não ouvi a menor palavra da boca dela. Ela me disse sem palavras. Ela cantou sem canções.
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