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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Estresse à vista



O fim de ano está batendo às portas de nossas casas. De todas as portas. E, desde que nos guiemos pelo calendário cristão, nenhum de nós poderá fugir dessas batidas inveteradas, insistentes, incansáveis. São essas batidas que podem estar produzindo em nós um volume de ansiedade tal, que nos sentimos pressionados e, aos poucos, percebemos que nossa paciência está na reserva, e que o combustível do nosso equilíbrio está chegando ao fim.

Casais que dividem a vida já há muitos (ou mesmo há poucos) anos, em uma época com esta podem muito bem estar tranquilos e planejando os festejos de fim de ano. Ou podem estar ansiando incessantemente o final do ano para que esta situação estressante passe logo, para que possam sair do cotidiano repetitivo ver e fazer coisas diferentes e, assim, conseguirem renovar seus laços e reabastecerem seus respectivos tanques e conseguirem voltar a tocar a vida. Juntos.

Profissionais que trabalham com produtos ou que lidam com serviços, atendendo pessoas, podem estar, por um lado, satisfeitos com os resultados obtidos, com as metas alcançadas. Se alcançadas. Os que não as alcançaram enfrentam a contagem regressiva dos dias para o final do ano, para o final do prazo em que devem prestar contas. Estes também não enxeram à sua frente o momento em que o ano acabe, em que as pressões virem festas, em que podem respirar e gargalhar tranquilamente.

A gente, com a gente mesmo, anda menos tolerante, de modo que os pensamentos que se traduzem em xingamentos e repreensões a si mesmo se multiplicam. De igual forma, nas nossas relações com os outros, principalmente com os que vemos mais, perdemos um pouco mais a paciência. Damos maior vazão à nossa cólera que se derrama como vinho tinto sobre nossas vestes brancas. É preciso que vejamos melhor as coisas que nossa vista enevoada pelo estresse não permite.


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Enfermeiros enfermos




Estive boa parte do dia de hoje acompanhando minha filha em consultas e procedimentos médicos que se fizeram necessários, dado o agravamento de seu estado de saúde que vem se complicando há três dias. Cancelei meus compromissos da tarde para ficar com ela, ajudando no que era necessário e também para lhe dar uma força, brincar um pouco com ela, conversar, enfim, distraí-la das fortes dores que sentia, a despeito da muita medicação que tomava oral, intravenosa e intramuscular.

Demoravam cair os pingos daquele recipiente transparente cheio de soro que vinha para hidratar minha pequena. Depois disso ainda veio o pinga-pinga de medicação (3 combinadas). A coleta de sangue. O raio-x. Diversas tomadas de febre... não foi fácil nem foi breve. Passamos a tarde no interior do hospital, tempo suficiente para eu me distrair também com meus pensamentos, que se deitavam sobre aquela situação desenhada à minha frente: pessoas doentes à minha volta.

O fato de se tratar de um hospital amenizava aquela deplorável situação: para todos os lados da sala que eu olhasse, ou via doente ou via enfermeiros. Cada um em poltronas muito confortáveis, tomando folgadamente (mas cada um com sua dor) sua dose de soro e remédio. E se não fosse um hospital? E quando não é hospital? Fiquei absorto nesta ideia, pensando sobre o quanto estamos envoltos por pessoas doentes. Doentes da alma, dos sentimentos. Doentes do coração.

Fui além e, além de ficar imaginando as pessoas doentes convivendo pacificamente entre as demais pessoas, comecei a me interrogar sobre o que elas buscavam para sair daquela condição enferma. Buscavam a palavra de um? O sorriso de outro? O abraço de tantos? E, em meio a tantos enfermos, quem seriam os enfermeiros? Ou seriam todos assistidos uns pelos outros e, de mãos dadas, tocavam a vida da melhor forma possível?

Gente ruim




Um dia cheio, muito cheio mesmo pra observar um sem-numero de experiências que se apresentam para nós. Um dia pródigo em emoções - das boas às muito ruins. E, infelizmente, apesar de haver tanto discurso na direção contrária, o ser humano insiste em valorizar demais os sentimentos ruins, em detrimento dos bons; insiste em lembrar mais das pessoas ruins do que das boas. Hoje eu queria um dia como o de Djavan: frio, num bom lugar pra ler um livro.

Mas, deixando um pouco o Djavan para retomá-lo mais um pouco à frente, vou de Martinho da Vila, com o perdão da mudança brusca de estilo. E com Martinho, seu famoso refrão: "Já tive mulheres de todas as cores, de muitas idades, de vários amores...". O meio em que trabalho tem um predomínio da presença feminina, porque a educação neste país e o exercício do magistério faz predominarem professoras em detrimento de professores. E onde há muita mulher, há uma profusão de emoções, um tanto de sentimentos, um falatório quase sem fim, gargalhadas, fofocas e quetais.

Elas, claro, superam a gente nisso tudo. Quer dizer, uns menos, outras tanto, mas no geral, homens e mulheres propiciam a si mesmos mutuamente uma profusão de sentimentos que vão dos elogios aos insultos, muitas vezes. Tudo faz parte deste mundo adulto, que se resolve bem na maioria das vezes. E, se resolve, tudo volta ao que era. E, se não resolve, nunca mais volta ao que era. Assume uma nova forma - bem desagradável, por sinal.

Ruim, mas ruim mesmo, é quando adolescentes resolvem agir de modo desonesto, estampando valores reconhecidamente negativos, deturpados e em tudo deploráveis. O ruim pode ficar pior, bem pior. Quando? Quando esses mesmos adolescentes agem sorrateiramente e ainda se orgulham de o estar fazendo. E pode ficar ainda mais desagradável, quando são vistos dissimulados e ainda com a desfaçatez de criticar corrupção. Do outro. Não isso, estraga o dia. Por isso, volto a Djavan. Queria "um dia frio, um bom lugar pra ler um livro".

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Waze pessoal



Hoje, como tem sido rotina já há muito tempo, fui buscar minhas filhas nos lugares em que estão. Quando no claro do dia, não me incomoda que vão e voltem sozinhas. No entanto, à noite ou tarde da noite, faço questão de ir buscá-las. Uma delas estava bem distante hoje fazendo um trabalho de Inglês na casa de uma amiga, cuja família é amiga da gente. Apesar disso, não tinha tido ainda o privilégio de visitar. E para ir lá buscar minha filha hoje praticamente às 23h, não só pelo meu cansaço, mas também porque sou perdido à beça, precisei recorrer ao aplicativo Waze.

A utilidade desse aplicativo é imensa. Com sua capacidade de localização rápida dos lugares aonde precisamos ir, ele não só mostra onde está, como também traça uma rota que nos conduz ao caminho mais curto e mais rápido, já que evita congestionamentos, obras etc. Não bastasse isso, "reporta perigo à frente", avisa a presença de radares, indica a proximidade de restaurantes, postos de combustível e uma série de outras possibilidades.

Como o caminho era longo, entre uma e outra música que eu ouvia no rádio, me pus a pensar em como seria bom se pudéssemos ter um Waze dentro de nós, na nossa mente, no nosso coração. Se isso fosse possível, provavelmente evitaríamos rota de colisão desnecessária em muitos de nossos relacionamentos, preveríamos eventuais acidentes e nos desviaríamos de congestionamentos que truncam os relacionamentos (menos ou mais próximos), chegaríamos aos nossos objetivos para com a pessoa de um modo menos trabalhoso. Enfim, penso que seria um maravilhoso recurso para orientar melhor as nossas relações diárias - com quem quer que seja.

Se assim seria tão proveitoso por um lado, por outro seria o coroamento da preguiça (sob a desculpa do ganhar tempo), da comodidade e da conveniência. Mais que isso, reduziria em nós a possibilidade de decidir por nós mesmos e, dessa forma, assumirmos os riscos que muitas vezes é preciso correr. Por certo, deixaria a vida menos errática, menos errante ("sempre na estrada, sempre distante" - como canta Paula Toller). Ou não.




segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Rastros de água na pedra




Um mesmo dia é bem capaz de colocar diante de cada um de nós uma mesa farta de experiências que nos levam a pensar na esperança que mantemos nesse peito que bate insistentemente, como água mole contra a rigidez de uma superfície que, em geral, a despedaça e a lança ao ar em gotículas que logo se juntam a outras e reconstituem a força do mar.

Em meio a um grande grupo de pessoas com quem temos contato diário, muitas vezes somos expostos ao incômodo sentimento de que estamos esmurrando ponta de faca. Acontece que parecemos já ter esmurrado tanto, que estamos insensíveis aos cortes e firmemente resistentes, esperançosos de que um dia a ponta se dobra e vai permitir que os objetivos sejam alcançados.

Outras vezes, no acolhimento a famílias - que faz parte especificamente do meu trabalho, mas que pode muito bem se aplicar a familiares, amigos próximos e a quem quer que seja - somos levados a manter um grau alto de motivação, sem perder os pés do chão. Hoje, por exemplo, motivando pais de um garoto vítima de bullying pesado na escola de onde veio, passei mais de hora ouvindo e falando, como verdadeira água mole investindo contra a pedra.

Mas há vezes em que vemos claramente a água desenhar curvas na pedra, deixando nela seu rastro em forma de sulcos que ali estarão expostos à ação do vento e de mais água. De mais vento. De mais água. Uma clara representação da insistência com que a esperança insiste em bater na nossa porta, do mesmo modo que o coração insiste em bater no nosso peito.


domingo, 26 de outubro de 2014

Comparar-se




Muitas vezes gastamos considerável energia observando os outros e medindo-os em relação a nós, ou medindo-nos em relação a eles. De elogios a comentários maldosos, há um tanto de coisa que se fala numa situação dessas. De orgulho a inveja, há um tanto de sentimentos que envolvem comparações assim. De manutenção a mudanças de postura, há um tanto de gestos que caraterizam o fato de querer-nos iguais a outros, ou de querer os outros iguais a nós.

Pois hoje me senti um tanto orgulhoso não porque estivesse olhando alguém para ser como eu nem projetando sobre alguém meu modo de ser. Como em todo domingo de manhã, fui ao Museu do Ipiranga correr (hoje, depois de votar). Em plena consciência do que eu queria fazer, separei as melhores músicas previamente e montei uma play list só pra correr mais; fiz um alongamento totalmente pensado; dei uma volta de aquecimento e fui observando os pontos que poderiam me doer - sim, porque, se não correr com cuidado, eu me arrebento em hérnias, sacroileítes, bursites...

O resultado foi tão positivo que até choveu!!! Opa! Mas chover não tem nada a ver com minha conquista. O fato é que corri um quilômetro a mais do que estou habituado a correr. Sem dor!! E, mais do que isso, saí de lá hoje completamente realizado e confiante de que farei uma boa prova no próximo dia 2, com percurso de 5km. Confesso que, como em várias situações, tinha um pouco de receio, mas esta superação produziu em mim o resultado inverso ao receio: a determinação de correr a prova!

Não me comparei a ninguém nem ninguém a mim. Tinha claramente um objetivo, que era superar minha marca e fazer resultados melhores do que os de cada domingo anterior. Para mim, o que caracteriza este fato é a possibilidade de aplicar em outras áreas em que sou limitado essa mesma determinação e ir melhorando sempre, aprimorando aos poucos, me tornando uma pessoa melhor - sempre me comparando comigo mesmo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Parece? Cuidado para não perder




Hoje tive uma experiência muito engraçada. No momento imediato em que aconteceu, foi um pouco assustadora, porque poderia ter perdido muito dinheiro, além de também poder ter perdido uma relação de afeto que tenho com objetos que me ajudam muito no meu dia a dia, que me facilitam um número infinito de procedimentos de maneira rápida e segura.

Por uma necessidade de orientação, precisei ir ao banco. E como saíra da escola, ainda tinha a mochila nas costas. Não é possível passar por aquela bendita porta giratória com mochila. Também não o é com nada de metal ou eletrônico, como celulares, tablets etc. Dessa forma, o banco providenciou um armário para colocarmos a mochila, e uma espécie de cesta para depositarmos celulares, tablets ou qualquer outro aparelho eletrônico.

Pois bem, para tirar a mochila pesada das costas, precisei apoiar o celular e o tablet em algum lugar. Na continuidade do armário com portas, havia uma outra estrutura que na mesma altura da do armário. Foi ali que resolvi apoiar meus aparelhos. Dito e feito. Não demorou muito e nem consegui tirar a primeira alça da mochila das costas, quando fui tomado por um grande baque duplo: pá! pá!. Não, não era assalto ao banco. Nem no banco. É que tinham caído me celular e meu tablet por trás do que eu achei que fosse outro armário. Era apenas um biombo.

Depois de me tranquilizar, porque nada havia quebrado, ri relaxado com a minha confusão. Dali em diante, entrei no banco e, como demorei ser atendido, fiquei pensando em que outras situações em pude, posso e poderei me deixar levar pela impressão das coisas, por aquilo que elas parecem e não são. Fatos, objetos, seres, pessoas, ideias, valores, projetos... Quanto minha percepção limitada me levou a enganos como esse, e quantas coisas valiosas eu devo ter perdido? Quantas ainda perderei?

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Rir e aprender



Fui educado a pensar que, em termos de aprendizagem, aprendemos mais com os exemplos que vemos do que com o que aprendemos indiretamente, por meio de ensinamentos formais ou por leituras que fazemos. Em outras palavras, uma criança aprende mais com o que ela, de fato, vê do que com o que ensinamos a ela.

Passava hoje por um lugar em que a entrada ou a saída depende completamente do uso de uma carteira magnética. Lá não há problema algum em estar sem a referida carteira, porque sempre há algum segurança local que pode autorizar a entrada ou a saída da pessoa, desde que, claro, ela se identifique adequadamente.

Pois hoje, enquanto passava a minha carteira em uma das catracas, presenciei uma cena que me chocou. Eu sei que qualquer um que ler este texto poderá dizer: "nossa, Ever, que frescura! Que que tem?". Mas mesmo sabendo disso, vou contar que cena era. Uma criança e sua mala passando sua carteira pela catraca, arrastando sua mala pesada. Imediatamente atrás dela, no mesmo movimento giratório da catraca, vinha uma senhora (mãe? avó?), aproveitando a passagem da menininha para que ela mesma passasse.

Frescura ou não frescura, importar-me ou não com o que vi, pouco interessa. Não me preocupei com o fato em si, mas não o julguei natural nem adequado. Quem sou eu para julgar? Ninguém. Mas me preocupou o ensinamento que a senhora estava dando àquela menina. Ela, sim, por certo, como criança estava se divertindo com aquilo. Afinal, deve ser legal passar a catraca apertada entre sua mala e aquela senhora, e passando rápido, torcendo para não ser vista. Ela ria. Ria e aprendia. 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Remando e rumando




Não chego em casa hoje com as mãos na cabeça; mas Camões na cabeça. Especialmente em seus versos "Olhai de que esperanças me mantenho. Vede que perigosas esperanças, que não temo contrastes nem mudanças, andando em bravo mar, perdido o lenho". Trata do sujeito que se reconhece em meio a um mar bravio e sem remo, a esmo, lançado mais ao sabor das águas do que de dos próprios direcionamentos que ele mesmo pode dar.

Ora ensopado de esperança que lhe faz recorrer aos próprios braços para se locomover sobre as ondas e se proteger de eventuais tempestades, ora encharcado pelas lágrimas que resultam da luta da derrota contra a vitória, continua a se mover e a ser movido de um lado para outro, sem noção de seu destino, mas fazendo aquilo que sua razão ou seu instinto - e às vezes a confusão dos dois - o orientam a fazer.

Essas palavras me fazem lembrar de uma das leituras mais emocionantes que fiz com meus alunos. À época, eram alunos de 5º ano. Li com eles o livro do Amyr Klink: "Cem dias entre céu e mar", no qual o autor relata sua travessia de barco a remo, de Portugal ao Brasil.Tinha ninguém com quem ele pudesse contar. Era ele e Deus. Tudo que ele tinha era sua experiência com o mar e seus conhecimentos do mar e, sobretudo, de navegação.

Mas nem todo mundo tem um Amyr Klink dentro de si e não pode contar com muito mais do que um pouco de força e muito de sorte. Assim, com os (muitos ou poucos) recursos que tem à disposição, somados à ajuda que pode vir daqui e dali, o náufrago segue. Se não tiver conhecimentos de orientação espacial na água, estará remando. Apenas. Ou melhor: estará rumando. Apenas. E como diria Drummond: "José, pra onde?"

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ser competente para ser



Não são poucas as vezes em que sou convidado a integrar bancas de avaliação de candidatos que precisam conquistar um título ou melhorar sua carreira em um grau. Assim é com alunos que prestam provas de leitura e matemática. Também o é com adolescentes à beira do exame vestibular, ou com o adulto que precisa defender uma ideia oralmente e por escrito, seja ela por meio de uma monografia, de uma dissertação ou de uma tese. Em todos esses casos, o fator diferencial é a percepção de quanto o candidato se preparou para enfrentar aquela situação avaliativa.

É evidente que uma só avaliação, em um momento pontual, não deveria ser O único momento de examinar alguém. Quer dizer: algumas horas de prova não definem necessariamente a capacidade de uma pessoa. Na vida em sua totalidade não é assim que funciona, pois um alto grau de cordialidade - tão característica do brasileiro (como disse Sergio Buarque de Hollanda, no famoso Raízes do Brasil) - faz com que sejamos levados a compreender que sempre pode haver uma nova chance, sempre haverá uma ajuda, uma mão amiga. Entretanto, há muitas situações que não é assim que funciona.

Uma defesa de mestrado/doutorado, um exame vestibular, uma prova de ingresso, uma partida final de qualquer competição (coletiva ou individual), tudo se resolve em uma única oportunidade. Se houver necessidade de refazer qualquer uma dessas, o candidato deverá esperar a outra vez em que a avaliação acontecerá. Assim ele vai precisar estar suficientemente preparado para superar as adversidades e para demonstrar que é suficientemente capaz de exercer a função para a qual se inscreve: um aluno de série seguinte, um estudante universitário, um mestre em alguma ciência.

Não é diferente na vida, nas relações interpessoais, nos diversos desafios a que somos expostos todos os dias. O tempo todo temos de demonstrar capacidade suficiente não só para permanecer no estágio em que nos encontramos, mas também para ocupar um estágio além. Em seu livro Transformando suor em ouro, Bernardinho diz que "a vontade de treinar tem de ser maior do que a vontade de vencer". E é fato. Mas muitos, ao ter o olho apenas na vitória e nas benesses daí advindas, caem ao primeiro obstáculo. Para ser (o que quer que seja) é preciso ser competente, capaz, preparado.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Temperatura e esquecimento




Gostaria muito de entender melhor muitas coisas, mas meu conhecimento limitado e minha falta de tempo muitas vezes me impelem a me conformar com o que já conheço. Mesmo sempre querendo saber um pouquinho mais das coisas (sou um especialista em generalidades), ainda não consigo explicar por que a temperatura varia tanto. Ontem, por exemplo, os termômetros aqui perto de casa marcavam 37 graus. Muito. Pacas. Hoje, quando voltava do trabalho, os mesmos marcavam 18.

Caiu a menos da metade, assim, de um dia pro outro. Sei lá se a frente fria é mais forte que a onda de calor; ou se as nuvens ficaram tão densas que impediram a chegada dos raios solares com a devida intensidade; ou se... sei lá. Só sei que foi assim (como diria Chicó, de O Auto da Compadecida): caiu de 37 para 18 graus. E eu, que sou meio besta, meio tapado, meio viajandão, logo me lembrei que muitas vezes isso acontece com as relações entre as pessoas, com coisas e com coisas, ideias...

Como imediata recordação a cada vez que toco este assunto, lembro sempre da chegada dos videocassetes e depois dos dvd-players. Quando da sua chegada, aquela grande novidade que trazia o cinema para dentro de casa sempre que eu quisesse (e pudesse), causou um frisson. Eram muitos filmes alugados e assistidos. No começo. Depois foi esfriando. Tanto, que o videocassete logo virou um ocupador de espaço na estante. O mesmo se deu com o dvd-player. Muitas foram as causas.

Muitas também são as causas que nos aproximam de ideias com uma força tal, que parecemos viver para elas, por elas. Mas depois, esfriam como coisa menor na poeira da lembrança. O mesmo se dá com objetos, roupas e certas práticas, que nos consomem de uma tal forma, que parecemos ser definidos por elas. Às vezes também ocorre com pessoas. Tem umas que brilham tão intensamente para nós, nos queimam tanto com sua existência, que parecemos ser um só ser com elas. Mas, depois de um tempo, também são escondidas pelas nuvens e uma frente fria as leva de nós.