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sábado, 31 de janeiro de 2015

Coragem diante do novo



Estou aqui com o coração um tanto apertado, porque daqui a algumas horas vou estar diante de uma situação inusitada, há muito desejada por mim, mas que, dadas as situações desta semana se mostra como uma incógnita. O tempo que eu tinha reservado para treinar esta semana teve, ao menos, três fatores contrários a ele: carga de trabalho, demandas familiares e uma ruptura de 12 anos de contrato. Óbvio que, além de tudo isso, e até por decorrência de tudo isso, as dores de coluna voltaram.

Impossibilitado de treinar adequadamente e ainda com dores, praticamente às vésperas da corrida, não me sinto desmotivado. Despreparado, sim. Desmotivado, não. Quero ir e fazer o meu melhor para superar uma marca que desejo muito. Fico aqui pensando várias estratégias de corrida para contornar da melhor maneira possível as dificuldades que certamente aparecerão. Me parece que é assim que acontece quando a gente se coloca diante de uma situação desconhecida e desejada. A gente fica procurando meios de se antecipar às inevitáveis falhas que ocorrerão.

A segurança que nos veste quando estamos devidamente preparados para uma dada situação se apresenta diante de nós de uma forma tão opaca, tão oscilante e frágil, que até passa pela cabeça a ideia de desistir. Mas do jeito que essa ideia vem, ela vai, E se esvai. Sim, porque o novo não deve nos amedrontar nem imobilizar nossas ações ou confundir nossos pensamentos e retardar nossos planos. A experiência vai nos ajudando a robustecer a fragilidade de segurança que nos acomete diante de situações insólitas. Vamos dando roupagem forte como a dos guerreiros medievais.

Assim, nossa força interior faz nascer, sabe lá Deus de onde, uma capacidade tal que nos impulsiona e nos leva adiante na busca de nossos objetivos. Pode ser que falhemos caso percamos o controle mental e físico da situação, de modo que nossas forças de extingam antes de cruzar a linha de chegada do objetivo proposto. E pode ser que eu falhe amanhã na corrida, mas minha falha não será a ausência. Ao contrário: vou participar do evento e superar minhas marcas. Sim, porque minha única competição é comigo mesmo. E luto diante do que sei e abaixo do que não sei. Mas luto sempre.


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Coroar-se




Ia eu hoje para um encontro, um almoço, que era meio de amizade, meio de negócios. E, não sei bem por que, ia me lembrando de uma cena que vi em Olímpia há poucos dias. Enquanto ia com minhas filhas para o famoso Parque Aquático, passamos por uma senhora, idosa mesmo, que fazia pedágio na avenida. Sim, pedágio, desses que fazem os recém-aprovados em exames vestibulares importantes. E ela segurava uma placa em que estampava: Psicologia - UEL. Havia sido aprovada no vestibular da Universidade Estadual de Londrina, para um ótimo curso. Estar ali era um coroação para ela.

E no meio do meu trajeto, como sempre, passei em frente ao prédio de um desses grandes cursinhos pré-vestibulares. A movimentação era intensa. Gente pintada para todo lado, estampando no próprio corpo o nome da Universidade em que haviam sido aprovada. Chamou-me a atenção uma senhora que saltava agarrada ao pescoço daquele que parecia ser seu filho, comemorando com ele um momento sublime de aprovação no vestibular. Era tanta a sua euforia, que de dentro do carro eu me alegrei com ela, por ver aquele garoto coroando um percurso, como se sabe, árduo.

E é assim, sem segredo que a vida se apresenta para nós nos mais diversos contextos. Quem chega à vitória e recebe "os louros" como gostavam os gregos, ou recebe a coroa como gostavam os romanos em épocas áureas, quem chega, enfim, ao momento de poder estampar na cabeça, no corpo ou numa placa de papelão nos faróis da cidade; que chega expor nas mídias sociais ou nos telefonemas, nos comunicados sorridentes de família a conquista da vitória, pode estar certo: lutou muito para estar ali. Lutou o quanto foi necessário e às vezes até mais do que era necessário, para poder coroar-se.

Não é de estranhar que alguém pense que é fácil. Não é de causar espécie o fato de pessoas se iludirem achando que tudo se resume àquele momento de comemoração. Os mais jovens, especialmente, precisam aprender que aquele momento de coroação é "apenas" o ponto final de uma história de muito suor, muita dedicação, muito desafio. Um momento que não começou uma semana antes, mas anos antes. É toda uma história de pequenas conquistas que resulta naquela coroa. Merecida coroa a ser estampada no corpo, nas ruas, no mundo. Uma história de luta que não termina como o Quincas Borba, que "coroou-se nada". 

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Falta ou fartura de combustível



Teve uma vez que eu estava indo buscar uma filha minha em casa, depois de deixar a outra na Cultura. Como eu tinha um intervalo de 90 minutos para voltar e buscar a da Cultura, fiquei tranquilo. Explico por que o "tranquilo". Eu só tinha a quantidade da reserva de gasolina no tanque do carro. Porém o display me informava que eu ainda tinha uma sobrevida de 32km para rodar. Dava e sobrava para buscar uma filha em casa, buscar a outra na Cultura e ainda chegar em casa. Daria, melhor dizendo. Porque o mostrador estava errado. Logo após a primeira esquina, o carro parou.

Em princípio, esbravejei, me xinguei de irresponsável pra baixo, porque aquela havia sido a primeira vez que eu deixara o tanque de combustível chegar àquele nível tão baixo. Nunca gostei mesmo. Depois de passar o vexame, liguei para a filha e disse que me atrasaria. Resolvi o problema - que levou os 90 minutos certinhos e deu para fazer quase tudo que precisava. O tanto que eu aprendi com aquela situação para me precaver melhor contra a folga e a imprudência excepcional. Vejo como positiva a experiência porque ninguém saiu prejudicado. E eu ainda ganhei uma lição.

Isso me lembra dois alunos que, há alguns anos, devido ao seu pouco empenho escolar, perderam o ano. Repetiram. Reprovaram. A Direção da escola resolveu dar a mim a responsabilidade de acompanhá-los no ano seguinte, já que as famílias optaram por mantê-los no Colégio. Dediquei-me ao máximo aos dois e à família. A tal ponto que, os trimestres foram passando, e eles seguiam firmes sem qualquer recuperação. Ao final do ano, um prêmio pra mim, um orgulho pessoal. Na verdade, um orgulho profissional: ambos passaram de ano sem pegar sequer uma recuperação.

É assim: o problema que nos aflige em determinado momento, por maior ou menor que seja, não é ele em si mesmo o problema. Na verdade, ele é só um evento a mais entre tantos na nossa vida. O problema mesmo é o que fazemos com o problema. É o modo como reagimos a ele. É a opção por usá-lo a nosso favor, e não contra nós. É olhar para as portas dele como saídas, e não como clausuras limitadoras da nossa ação imediata e de nossas expectativas para a vida. Dependendo de nossa reação, os problemas podem ser a falta de combustível. Ou fartura de combustível, que vai nos dar a energia necessária para continuar.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Pra frente




Engraçado como as coisas vão se concatenando na cabeça da gente. Anteontem, se não estou enganado, escrevi sobre esperança; ontem escrevi sobre desdém. E é incrível como essas duas coisas estão interligadas. Na verdade, tudo está interligado neste mundo. E, como nós estamos ligados ao mundo, tudo também está interligado em nós. Até os assuntos. De fato, nada há de novo; o que há são apenas diferentes olhares, diferentes ângulos, diferentes relações que dão uma impressão de novo.

O sujeito que desdenha, bem no fundo, sente-se superior ao objeto desdenhado e considera poder tê-lo a qualquer tempo, a qualquer hora. Ao menos tem esperança de ser assim, dada a sua superioridade. O sujeito que espera, que se nutre de esperança, e se vê subitamente frustrado, muitas vezes faz o papal da raposa (da fábula de Esopo: a raposa e as uvas). Por não conseguir ter as uvas que tanto esperava, acaba desdenhando. Os sentimentos que partem de nós estão intimamente ligados.

Interligados também estão os sentimentos vêm em nossa direção. Na minha profissão - professor - cada ano é uma expectativa, é um quê de esperança que bate no peito insistentemente (ex-pecto) querendo mostrar que o bem maior está por vir. E a gente abre a porta do coração para conceder que entre aquilo que está fora. Que se apresente a nós como saborosas uvas a compor um banquete daqueles que gregos e romanos sabiam dar. Se o banquete não servir à nossa mesa e vier o sentimento de frustração para o peito que se abriu... paciência. São lados da mesma moeda. Interligados.

Pouco importa a ponta do que desfruta de interligação. Importa continuar indo. Hoje, por exemplo, vivenciei mais uma vez a experiência de ir para a frente. Minha filha, recém-maior na sua idade, me convidou para ir ao cinema. Ora, esta é uma experiência nova que vem se repetindo. E, pasme, me convidou para assistir ao filme Casablanca. Antiquíssimo, mas maravilhoso filme. Sim, esta jovem me chamou para ver um filme velho. Então: tudo interligado. Ela e eu. O novo e o velho. O que importa de verdade, não é ser novo ou velho, esperançoso ou frustrado. Importa seguir em frente.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O desdém e as escolas




Tomei conhecimento do rapaz que verdadeiramente estava disposto a fazer mais um curso. Mas não um qualquer, como um de extensão ou um desses de poucas horas (8, 10, 12, por exemplo). Não. Era um curso com centenas de horas. Estava tão cheio de si, que se ocupou bem mais de falar que ia fazer o curso do que em matricular-se e realmente fazê-lo. Viajou, falou, tagarelou, voltou. Sua volta ainda demorou uns 2 dias até tentar efetuar a matrícula no  grande curso, que começaria em breve. Mas não começou a fazer o curso, porque o prazo para ingresso tinha se expirado justamente 2 dias antes.

Semelhante a este foi o caso de uma mocinha, já na casa dos 18 para 19 anos. Por certo, muito bonita (para poder falar educadamente). E ela soube que tinha um rapaz muito interessado nela. Tal interesse se manifestou em sugestões, pedidos, propostas de encontros que culminariam em uma aproximação que poderia vir a dar em relacionamento sério. E teria sido, não fosse a estratégia que ela utilizava para adiar o encontro, fazendo-se de "difícil". Depois de mais de um mês de negativas, de despistes e de mentirosas razões, ela resolveu responder a uma mensagem antiga e aceitar o convite. Mas já era tarde, pois o coração dele havia se encantado por outros olhos, por outra moça bem apaixonada.

Também tem o caso do senhor que se viu diante de duas propostas de emprego muito boas, tanto quanto a do lugar onde já trabalhava. Pensou, ponderou e, depois de muito tempo, por comodidade, optou por ficar onde já estava. Com isso deu-se o luxo de sentir-se disputado e de poder desprezar os convites. E assim foi até o momento em que, dali a alguns meses, viu-se em situação de afastamento do emprego atual. Em sua ilusão de ser profissional disputado, não hesitou em contatar as duas empresas que o haviam convidado. Para sua surpresa, nenhuma das duas tinha vaga disponível.

E, por fim, o caso da moça que praticava vôley com maestria. Jogava tão bem, que chegou a ser indicada para seleções de bairro e, posteriormente, da cidade. Recebeu proposta de outra equipe, repetidas vezes, vale dizer. E rechaçou até onde pôde; recusou-se a ir para jogar por outra equipe. E o fez até que a sua entrou em crise e demitiu vários colegas - ela, inclusive. Quando admitiu a possibilidade de trabalhar na equipe que a havia convidado, descobriu-se vencida, por outro que aceitara e já estava completamente ligado a equipe e planejando títulos para a temporada.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Onde está a esperança



Hoje voltamos ao contato direto com a sala de aula, mais precisamente, com os alunos. E isso é tão bom, tão revigorante, tão cheio de expectativas, que a gente precisa se conter. Não escondo que sempre há um pé atrás, no sentido de também esperar que daquele grupo de alunos pode vir algo de não muito bom. Mas, paradoxalmente, isso não é ruim, porque vai nos dar ainda mais experiência para lidar com situações difíceis em que vai ser exigido algo muito maior do que nossas habilidades intelectuais. Para dar vida à esperança é preciso bem mais do que gente reunida.

E é disso que quero falar. No contato com os alunos hoje, meu olhar estava para muito além deles. Claro que os via, claro que os sentia e interagia diretamente com eles. Mas o que eu via estava em outra dimensão, em outro espaço, num lugar em que nunca fui, nem eles irão, nem ninguém jamais poderá estar. Tentava esmiuçar o que poderia vir deles, o que dariam para a vida ao longo de sua existência. Enxergava neles uma ponta de esperança que a gente sempre faz questão de ver nos jovens - tão exuberantes quanto cores e sons.

Daquele grupo, não tenho dúvida, há de surgir muita coisa boa, muita gente envolvida consigo mesma, com seu mundo e, principalmente, com o seu próximo. É fato que um sem-número de experiências ruins vão espreitá-los, esperando apenas um deslize para fazer um estrago maior do que o número de dias que já viveram. Tentei dizer a eles por várias vezes algo que não têm maturidade ainda para entender (mas, ainda assim, plantei a semente). Disse-lhes que a vida é apenas o resultado das escolhas que fazemos a cada minuto. E pedi que escolhessem bem. Sempre que possível.

Como sementes lançadas à terra na esperança de um dia colher frutos e desfrutar de folhas e sombras, lancei sobre eles palavras de esperança, que vou regar a cada dia para que ela floresça e frutifique. Uma pena que o crescimento dessa árvore de bons desejos não dependa somente deles ou somente de mim. Uma pena que a esperança se forma de um conjunto de fatores mais variados do que pessoas, cores e sons. E a esperança não está neles nem em mim, e ao mesmo tempo está em cada um de nós querendo romper o solo e mostrar que pode vir a produzir o bem de que tanto precisamos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A importância de tudo



A vida da gente, não parece, mas é curta. E por isso mesmo, cada decisão nossa deve ser voltada para o aproveitamento mais agradável desses momentos de vida que temos, sempre na partilha com o outro. Claro, porque a vida da gente só faz sentido na sua relação com o outro, com aquele que nos completa, que nos questiona, que se opõe a nós, ou mesmo aquele que nos é indiferente. Sempre o outro, o outro, o outro... aquele que dá sentido para o que pensamos, queremos, sentimos, fazemos.

E fazemos tanto, tanto que 24 horas parecem sempre pouco. Quem dera conseguíssemos nos ajustar ao esquema fordiano da época do boom da industrialização. Ford julgava que nosso tempo deveria ser equilibradamente dividido em 8 horas de descanso, 8 horas de lazer e 8 horas de trabalho. Mas não dá mesmo, até porque hoje nós fazemos muito mais do que dormir, nos dedicar ao lazer ou ao trabalho. Nossas relações, nossos estudos, nossos outros tantos projetos. Isso quando nosso trabalho não duplica, especialmente para quem tem dois ramos de atividades ou trabalha em dois empregos.

E é tanto que fazemos que não dá pra fazer de qualquer maneira. Se vamos dormir, que durmamos bem, a ponto de acordamos dispostos para o que der e vier do dia seguinte. Se é ao lazer que vamos nos dedicar, que ele seja revigorante, edificador, que nos leve ao sossego e ao riso desbragado. Caso, por fim, seja ao trabalho que vamos entregar nossos esforços, que seja para a consecução dos melhores resultados. Para nós, para aqueles que atendemos  e para e empresa em que trabalhamos.

Em uma das conversas deste final de semana, este assunto veio à tona. E como a conversa era coletiva, todos puderam se posicionar, apoiar ou refutar o posicionamento do outro. Sim, discutir saudavelmente também é fazer algo. Ainda que alguma coisa não seja um fim nela mesma, não seja o último dos passos a darmos em direção ao um intento, ela também é alguma coisa que está em função de outra, de modo que dedicar-se a uma conversa simples pode estar relacionado à consecução de um objetivo maior. Assim, é fácil ver como tudo o que fazemos precisa ter o máximo de nós que pudermos dar.




segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O depositário da esperança




Um ano novo, por menos que ele queira, sempre traz consigo a possibilidade de renovação. Até mesmo de inovação ou de qualquer que seja a palavra (o fato) que faça nascer ou renascer algo que em nós e por nós é desejado, é necessário, é esperado. Algo que pode fazer o próprio organismo funcionar melhor, fazer os projetos serem mais palpáveis e exequíveis, fazer os dias serem encantadoramente mais brilhantes, assim como as noites serem mensageiras de uma escuridão que ilumina o céu com astros, cometas e estrelas de esperança.

Quem será que está dando passos largos e determinados, cuja direção vai levar a um ponto em que cruzará com a direção dos nossos? Quem será o ser que, num desses momentos mais inexplicáveis da vida vai estender a mão para a esperança de que a nossa também atenda ao mesmo gesto e seja estendida num pacto de cumplicidade para durar o quanto tiver de durar? Quem será que, numa dessas melodias harmonicamente construídas fará soar a música interpretada em dueto para apaziguar corações que ora batem acelerados demais, ora batem como se não se importassem em bater?

Quais serão os terrenos sobre os quais as nossas mãos se lançarão com o objetivo de volver e revolver porções sob as quais serão depositadas as sementes de novas ideias para, um dia, virem a florescer e frutificar em forma de benefícios e de pão para alimentar vidas famintas de sentido? Qual será o trabalho a que nos dedicaremos como se o estivéssemos fazendo a nós mesmos, tendo em vista a ampliação das nossas próprias possibilidades, de nossas competências e habilidades pelas quais obteremos o reconhecimento merecido pela dedicação equilibrada, eficiente e eficaz?

E os focos para os quais nossos olhos serão dirigidos a fim de buscarem alimento para a alma, quais serão? Que paisagens se deitarão diante deles num convite lascivo de prazer para o espírito inquieto? Que matos, que cacheiras, que lagos, que montanhas? Que construções magníficas, que monumentos históricos, que estátuas? Que cinemas, parques ou teatro? Quais serão os lugares que se unirão a nós mesmos para ficarem gravados indelevelmente em nossos corações como fotografias magistrais? Quem, afinal, (ou o quê) será o depositário da nossa esperança? [provavelmente, nós mesmos]

sábado, 10 de janeiro de 2015

Tempo livre



Acabo de voltar para casa, depois de levar minha filha para uma balada. Enquanto a levava, entre uma conversa e outra, entre um e outro farol vermelho, durante a lenta frenagem do carro, pensava comigo acerca do que escreveria hoje aqui. Lançando o olha para fora da janela, nesta noite calorenta, um pouco iluminada pela lua e pelas lâmpadas tradicionais, vi pessoas sentadas em torno de mesas nas calçadas de bares, tomando cerveja, jogando conversa fora, dando risada.

Demais isso: cada um usando da melhor forma possível o tempo livre de que dispõe. Convenhamos - tempo livre hoje é privilégio de poucos, uma vez que tem virado um valor pessoal, profissional, cultural (numa palavra: social) o fato de se fazer muita coisa em reduzido espaço de tempo. E isso implica lançar mão do tempo livre para continuar fazendo. O quê? Não sei bem se importa o quê. Importa, sim, que se esteja fazendo aquilo que, de alguma forma, traga alegria, sentido, razão para estar onde se está, para fazer o que se faz.

Por certo, como variam as direções dos ventos, as luzes da cidade e os gostos das cervejas, também varia o que as pessoas apreciam fazer em seu tempo livre. Pouco me importa se este vai para o bar beber com os amigos (ou sozinho) e se aquele vai dançar em balada. Me interessa muito pouco que um vá deixar o tempo passar diante da televisão assistindo às suas séries favoritas ou filmes ou futebol... e que outro vá sentir o tempo escoar pescando à beira de um rio ou no mar aberto. Menos ainda me importa se alguém utiliza seu tempo livre para trabalhar projetos (novos ou velhos) ou ainda para correr atrás do que não conseguiu fazer no tempo devido.

O que importa mesmo é que o tempo seja utilizado a nosso favor, de modo que o fato de ele passar não nos seja causa de angústias e preocupações, mas que seja a possibilidade de estar na companhia de quem gostamos e/ou de quem precisamos estar, fazendo o que gostamos e/ou o que precisamos fazer. Dessa forma, o tempo não nos escraviza em segundos, minutos, horas, dias..., mas nos dá a liberdade de viver os momentos que temos, dando sentido ao tempo de vida de que dispomos.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A arte de ser e estar



Conheci há poucos dias duas moças muito especiais, sobretudo, pelo que delas emana. Desde o primeiro momento já parecia que havia entre nós um conhecimento milenar, tal a tranquilidade e naturalidade com que fomos apresentados e com que começamos e demos prosseguimento à conversa. Claro que falamos de nós mesmos, nossos afazeres diários, pessoais, profissionais etc. Nessas idas e vindas, me vi conversando com duas artistas: uma que canta, outra que desenha (em) pedras preciosas.

A arte, de alguma forma, regou a conversa daquele dia e vem ecoando até hoje, quando voltamos a tocar o assunto e caímos novamente numa rápida e divertida definição de arte: "colocar um pouquinho de si mesmo em uma expressão visual ou escrita. É tentar desenhar um pouco dos seus micro-mundinhos". Mais: "é lapidar; seja uma pedra, um metal, um caminho, um texto, uma vida. A própria". E gostamos da definição que brotou da nossa conversa, que, longe de ser pedante, descabida, metida a culta, foi muito reveladora do quanto a arte nos rodeia dia a dia.

Mesmo nas coisas mais aparentemente exatas, como nos produtos arquitetônicos, existe arte. Mais do que um aspecto funcional e pragmático das vestimentas, nelas há um quê artístico que fala algo sobre que as utiliza. Até nos simples posicionamentos dos astros e estrelas que pairam sobre nossas cabeças diuturnamente, parece haver arte. O pôr-do-sol, as estrelas, a imensidão azul recheada de nuvens que parecem imitar Juan Miró, tudo na natureza é uma obra (prima) de arte. O sussurro dos ventos, o chiado das chuvas, os rompantes dos trovões, assim como os traços dos relâmpagos sobre a tela escura da tempestade parecem expressões artísticas.

Mas a arte maior, por certo, está tão estampada diante de nós e com tanta crueza que nos passa sem ser percebida. Em si mesma, a palavra "arte" é derivada do latim (Ars, Artis) e remete ao modo de ser ou de fazer. No grego, ela remete à técnica do fazer. Seja em um étimo, seja no outro, logo vemos que arte é o fazer e/ou o como fazer. E o que fazemos no nosso cotidiano com o nosso corpo, nossa voz, nosso modo de estar no mundo, superando limites, adornando nossos gestos e palavras para construímos um mundo melhor e mais belo, não tenho dúvida, é uma forma de arte. Uma self-made, uma instalação, uma exposição... 


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Uma palavra é um ponto de vista



O mundo minimamente responsável (e, por isso mesmo, informado) ainda assiste, atônito ao desenrolar do episódio que culminou com  a morte de 12 jornalistas na França anteontem. Não há a menor sombra de dúvida: trata-se de um ataque que fere moral e emocionalmente a todos aqueles em que ainda há réstias de humanidade, de sensibilidade, de valor à vida, ao próximo - esteja ele próximo ou distante, como é o caso dos profissionais da Charlie Hebdo.

Em eventos assim, sempre me vem à mente o verso de Renato Russo: "todos têm suas próprias razões". Em geral, a compreensão dos atos de uma pessoa ou de um grupo não consegue enxergar a mesma lógica, se vista por ângulos diferentes. Porque não são as pessoas que veem, interpretam e qualificam: são suas filiações ideológicas, religiosas, teóricas etc. Aquilo que é inteiramente repugnante para um grupo pode ser a justa medida da coroação digna de todos os méritos, louros, distinções e louvores por outro grupo. A ideia de bem comum - tão cruel como a do senso comum - não significa um bem universal.

E as palavras que utilizamos para designar certas pessoas ou seus atos demonstram os pontos de vista tomados por nós. O mesmo ato que classificamos como "terrorismo", pode ter entre seus participantes pessoas "terroristas", por um lado, ou, por outro lado, "heróis". Sim, simples questão de ponto de vista. Veja-se, por exemplo, a notícia segundo a qual os atiradores do caso Charlie Hebdo são chamados de "heróis" por um locutor de rádio islâmica: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2015/01/08/radio-do-estado-islamico-chama-de-herois-autores-de-ataque-em-paris.htm

Guardadas as devidas proporções, o modo como a linguagem funciona nos acontecimentos grandiosos é o mesmo de como funciona nos acontecimentos pequenos do dia a dia. O ódio gerado pelas palavras dos chargistas aparece em menor escala nas nos pequenos desrespeitos do cotidiano, nas piadas, nas brincadeiras, nos bullyings - em nome do que quer que seja. De modo que o que para um é apenas uma "chacota", para outro pode ser razão de "chicote" ou de coisa pior. Não adianta julgarmos: todos têm suas próprias razões.