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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Surpresas de vida



O dia ainda não tinha chegado à sua sexta hora, quando recebi uma mensagem. Embora já estivesse bem acordado, não posso dizer que não me assustei. Infelizmente a gente não costuma pensar coisas boas quando uma mensagem chega junto com o clarear o dia. Respondi à mensagem que me perguntava se já estava acordado. E quando o fiz, fui me preparando para notícia ruim. Duas pessoas muito, muito, queridas tinham uma notícia para me dar. Respirei fundo já pensando no que dizer quando se concretizasse o que eu esperava.

Mas ainda bem que a vida, entre outras coisas, faz a gente ver que nem tudo é o que se espera. E em outras vezes ela nos mostra que uma das coisas mais lindas que ela nos oferece é a espera. A notícia era bem esta: eu iria ser tio!!!! Minha irmã e meu cunhado - essas pessoas tão queridas - quiseram dividir comigo sua imensa alegria de pela gravidez que estavam começando a gestar. As palavras que eu vinha preparando para dizer, caso a notícia fosse ruim, tomaram um golpe tão forte, que sumiram completamente da minha memória.

Só restou mesmo a recordação de que senti: grande parte da alegria que sentiram e compartilharam comigo. Gritei de alegria por eles; de alegria por esta criança linda que está sendo formada; de alegria por mim. Comemorei campeão, vibrei como torcedor, sorri como recompensado. Eu, por certo, recebia naquele início de manhã uma porção a mais de vida - que veio da alegria deles, que veio da minha própria alegria, que veio já da vida incipiente deste bebê que pulsa já em todos nós.

É muito bom quando uma notícia é alvissareira como essa, quando ela é assim trazida pelo anjo da vida e renova em nós o intenso gosto pela existência, o gosto por amar, por ter a quem amar, o gosto por estar vivo e por promover a vida em toda a dimensão da sua riqueza e complexidade. Que este bebê, meu sobrinho, esse anjo que já habita entre nós seja coberto do amor e da alegria que tempos para compartilhar com ele. Tem aqui um tio orgulhoso e feliz por esta surpresa boa da vida.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Com dignidade




Penso agora nos famosos versos de Gonzaguinha: "eu acredito é na rapaziada que não foge da fera e enfrenta o leão.  Isso porque nesta época do ano, no meu trabalho é normal estar fazendo duas ações: orientando aqueles que durante o ano não agiram de modo suficientemente capaz de evitar a perda do ano; e aqueles que correm risco de perdê-lo, mas ainda têm chances - razão pela qual precisam de apoio, incentivo e muita orientação. Sempre com o objetivo de que concluam com a maior dignidade possível: a de que chegaram ao final com a consciência de que fizeram tudo o que estava a seu alcance.

Nessas situações sempre me vem à mente a imagem de uma atleta maratonista que a metros da linha de chegada, vinha mais do que cansada, mais do que extenuada, mais do que exaurida; o corpo torto e os passos incertos a conduziam ainda dentro da pista que a levava para a reta de chegada. Aqueles sinais todos me diziam - na angústia e na esperança de vê-la chegar ao final da prova - que ela poderia estar mais que tudo, mas que estava menos do que vencida. Não. Ela venceu todos os sinais em contrário e atravessou a linha de chegada. 

Me vêm à mente também os filmes de luta juvenis, daqueles de artes marciais (como Kung Fu, Karatê Kid ou os os filmes do Van Damme ou ainda os do Bruce Willys - Duro de matar). Filmes de cenas improváveis em que o herói apanha tanto, que a última centelha de vida que lhe resta é justamente o incêndio que o leva à vitória. Vêm-me agora até um título de filme do Van Damme: "Render-se nunca; desistir jamais".

A música sempre me toca e me ensina. Renato Russo, em um de seus discos mais próximos da sua morte, teve gravada uma música (Mais uma vez): "nunca deixem que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem; ou que seus planos nunca vão dar certo ou que você nunca vai ser alguém". Os versos de Renato ou de Gonzaguinha, assim como os filmes aqui evocados, podem dar a muitos a força e a motivação necessárias para concluir com dignidade uma prova em que a derrota parece iminente. Não por eles em si próprios, mas por resgatarem centelhas de esperança.

domingo, 28 de setembro de 2014

Surpresas de vida




Talvez alguns tenham se surpreendido com o fato de eu não ter postado texto ontem aqui no SEMPREEVER. Era algo com que já tinha me conformado também. Não gosto quando não publico os textos; é um compromisso comigo mesmo. No entanto, é preciso dizer que uma surpresa mais do que agradável me foi apresentada. E não só ontem; hoje, ela voltou a se repetir. São surpresas como essas que renovam o amor da gente pela vida (que é feita pelas pessoas que a gente ama).

A noite já se encaminhava para o fim, quando eu, já extremamente satisfeito e emocionado pela estreia da peça "Bailei na curva" na qual minhas filhas atuam, me dirigia para a casa de amigos comemorar um aniversário. De lá eu pretendia voltar a tempo de chegar em casa e postar o texto do sábado (que seria continuidade do Saudade Suicida). Mas, quando estava me preparando para vir começar a me despedir do pessoal, vem meu amigo com um bolo nas mãos. Sobre o bolo, velas. Diante do bolo e das velas, o "parabéns para mim". Emocionante.

Hoje, com uma faringite brava, com dores decorrentes de hérnias e, portanto, com um monte de medicamento arruinando o estômago, me sentia um pouco triste por não poder ir correr como sempre faço aos domingos de manhã. Me dediquei a cuidar das coisas de casa (pra quem mora sozinho e trabalha tanto quanto eu, domingo é o dia disso) e me dirigi à casa de minha mãe para a tradição do almoço dominical.

Cheguei como sempre. Como sempre toquei a campainha sem que nunca precisasse. E entrei festivamente como sempre. Mas assim que meus olhos adentraram a sala, se depararam com um ambiente de festa. Sim, ali estavam eles todos com uma festa surpresa para mim: minhas filhas, minha mãe, irmãs, cunhados e minha tia. Busquei um fôlego gigante, de onde não tinha, para transformar em uma brincadeira minha vontade de chorar de emoção. De novo, a vida - ou seja, quem a gente ama - estava ali me parabenizando.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Saudade suicida



Houve um dia desta semana em que numa conversa absolutamente agradável o tema da saudade veio à tona. No meio da minha fala usei uma expressão que me impactou na hora mesma de seu nascimento: saudade suicida. Para chegar a ela, imaginei uma saudade que desse conta de suprir a falta que lhe dá existência. Uma saudade que, ao mesmo tempo em que se sacia, acaba consigo mesma. Uma saudade que se mata para viver; que vive para se matar.

Desde então, passei a desejar esta saudade em mim cada vez mais. Uma saudade suicida dos meus tempos de infância em que saía de casa descalço, trajando apenas calção e camisa para jogar futebol. Isso porque nossos times nunca tiveram uniformes: ou se jogava no time de camisa ou no time sem. E isso pouco importava diante da incomensurável alegria de disputar algumas partidas rodeado de amigos que dividiam comigo a alegria de estar ali.

Quero uma saudade suicida que corra na direção de todos os momentos em que, em banda, toquei violão, guitarra, contrabaixo ou percussão fazendo as pessoas curtirem um som que eu estava ajudando a produzir com meus amigos. Um som que passeava pelos fios de cabelo, dançava as curvas da orelha e ia tocar o fundo do coração, que mandava sinais para os pés e mãos nos acompanharem no ritmo, na melodia e na harmonia. Ou, numa palavra, na vida que jorrava daquelas canções.

Busco também uma saudade suicida de todos os momentos em que me emocionei com minhas filhas: desde a emoção suprema de sua gestação e nascimento até a emoção de cada conquista delas em suas apresentações e jogos. Quero manter sempre ressuscitada uma saudade suicida de tudo aquilo que despertou e desperta em mim os meus melhores sentimentos, que merecem ser relembrados e revividos. Uma saudade que me impulsione a ir em frente na busca do melhor que há na vida. Viver.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Acho e desacho



Adolescente é um tipo de pessoa que está no momento mais crucial da vida, pois se encontra entre o final da infância em que tudo lhe parece possível e no início da vida adulta, fase em que ceticismos, agruras, desapontamentos mostram gradativamente que nem tudo é possível. Depois se passa a lidar com a noção de viável, dentro do que dá e do que não dá para realizar. Mas, enquanto vigora a adolescência, o mundo concreto prepondera no modo de se conceber, entender, interpretar e interferir no mundo.

Em uma de minhas aulas hoje, separada para discutir problemas relacionados à sala de aula (escolares, pessoais e sociais), eu trouxe à tona uma discussão a respeito do mundo que não vemos, mas que sabemos estar aqui. Que não vemos, mas que sabemos estar nele. E é fato: seria uma pretensão altamente irresponsável imaginar que apenas nós com nossa forma de ser e de estar neste mundo é que o ocuparíamos (reis e senhores sobre animais, plantas e quetais). Às vezes acho que nossa pretensão é maior do que o mundo que experimentamos. Mas logo desacho.

Contei a eles algumas das minhas experiências religiosas e, portanto, ligadas ao transcendente, ao que é, para a maioria, invisível aos olhos. Não tardou muito para que se engajassem no tema que eu propus, entre eles: deja vu; visitas de entes mortos; contato com quem já morreu; previsões; coisas que se mexiam. Foram muitos relatos: ora divertidos, ora assustadores. Não tive dúvidas: a vida do adolescente está para muito além da simples realidade concreta ou virtual.

Apesar de ser preponderante o aspecto concreto e virtual no cotidiano desses meninos com quem convivo, há ali também uma ainda incipiente conscientização para a realidade que os cerca, que os antecede e que os sucederá. Em boa parte, eles estão ligados na ideia de Deus, na presença do espírito trazendo vida ao corpo e cuidando do brilho que tem o semblante de quem está satisfeito,contente com o modo como sua vida se encontra. Um brilho que enche de coloração própria o rosto desses meninos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O tempo e a ilusão da cura



Ontem escrevi aqui sobre o tempo e, ao final, concluí não ser o tempo que passa - apenas -, mas, sim, nós é que passamos por ele. Pelo fato de termos instrumentos e medidas para nos referir a ele, temos a ilusão de dominá-lo; no entanto, não passa de ilusão. Também é ilusão a nossa afirmação segundo a qual o tempo é o senhor de todas as coisas, ou ainda de que o tempo cura tudo, ou mais: de que é preciso dar tempo ao tempo. Veio bem nessa direção o relato que ouvi com um amigo num café.

Há muito tempo (e até já devo ter repetido), também publiquei aqui reflexão sobre o fato de que a ilusão é um elemento necessário à nossa sobrevivência. Afinal, "de ilusão também se vive", dizem alguns. Tanto a ilusão quanto o tempo compõem parte importante do que somos, do que acreditamos ser, do que mostramos ser... enfim, disso que chamamos de "nós" e que no interior do quarto escuro, sobre o colchão insone, chamamos "eu".

Olhar pra trás e reconstruir eventos passados alterando-os para uma forma mais amena; confundir o que de fato aconteceu com o que gostaríamos que tivesse acontecido; misturar realidade e impressão de realidade na intrincada rede de neurônios é algo que está para além do nosso controle. E nem sempre isso é possível, graças às muitas e profundas marcas que o passado deixa incrustadas em nossas lembranças - como cantava Belchior (cantarolado por aquele amigo na mesa do café): "na parede da memória esta lembrança é o quadro que dói mais".

Às vezes o passado se debruça sobre nós com uma força tão grande, que nos é impossível esquivar do golpe e maquiar sua aparência. É assim quando certas situações nos remetem aos becos doloridos das reminiscências machucadas. Se não por situações novas, por músicas, por aromas, por lugares, por fotografias que, de uma hora para outra assaltam o bloqueio consciente que fazemos e, sem pedir licença ou por gentileza, arrebata lágrimas do fundo do peito, escondidas a sete chaves, como quem dá tempo ao tempo, como quem espera que o tempo cure.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O tempo passa. Ou somos nós?




Neste final de semana, fui visitar um amigo, um grande amigo de longa data, amigo de infância. E levei uma turma comigo: filhas, mãe, irmã, cunhado. Ele, por sua vez, tinha sua família lá esperando por nós. Foi um fim de semana extremamente agradável a todos. Em certo momento, decidimos ir ao mercado para incrementarmos a mesa prestes a ser servida. Fartura de alimentos, fartura de alegria, fartura de surpresas. Quando entramos no mercado, nos deparamos com centenas de panetones expostos. Não teve como não nos surpreender com o Natal tão escancarado assim diante de nós.

Meados de setembro, ainda início de primavera e já o Natal ali, lembrado pelos produtos postos à venda. O tempo passa mesmo, passa como só ele mesmo passa. Não há luz nem sua velocidade; não há som nem sua velocidade; não há sinapse nem sua velocidade; com ou sem relatividade, não há nada que passe mais rapidamente que o tempo. E ele, tão senhor de si, nunca pede licença para passar e nunca atende nossos pedidos para que demore-se um pouquinho mais. Muito menos para que passe mais rápido. Não: ele tem o pleno controle de si mesmo.

Mas nós, com os milhares de sentimentos, de sensações, de responsabilidades, de desejos, de estados múltiplos de espírito, nós o sentimos passar. Não é o tempo o problema. Quando os relógios analógicos eram maioria e podíamos ouvir o tiquetaquear dos ponteiros; quando ainda ouvíamos aqueles toques a cada 15 minutos (como isso me lembra a casa do meu avô!!!); quando ouvíamos o sino da igreja tocar ou a sirene da fábrica tocar, enfim, quando tínhamos mais sinais da passagem do tempo, conseguíamos ter uma percepção melhor da regularidade de sua passagem.

Hoje? Não. Nem o tempo cronológico; tampouco o psicológico. Este último mal tem tempo de se estruturar na nossa mente e em nosso coração, pois quando começa a fazê-lo, já se vê ultrapassado. Vivendo o presente, que também não existe, sonha-se com o futuro, que nunca virá. Que tempo é este, senhor de todos nós, que não está nem aí para nenhum de nós? Na verdade, quando fazem o Natal chegar antes a nós, é para nos lembrar do contrário: nós é que estamos nos aproximando do Natal, uma mera referência temporal a nos alertar que nós é que estamos passando.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sonhos que quis sonhar (de 11 em 11 anos)




46 é o número de anos que eu habito este mundo. É o tempo que tive para poder aprender de tudo um pouco que este mundo já me ofereceu. Coisa boa e coisa ruim. É o tempo que usei para também dar a ele da minha experiência, com a intenção de que ele possa se tornar um lugar melhor em que eu e as pessoas com quem convivo possamos olhar para ele com a certeza de que fizemos o nosso melhor para continuarmos dignos de ocupá-lo. Este é o tempo em que vejo meus sonhos realizados. Tempo em que vejo minhas filhas fortes, lindas e saudáveis. Elas: meu maior presente, meu maior sonho.

Quando este tempo era apenas de 35, eu vivia um momento que talvez tenha sido o ápice da minha carreira profissional, realizava um sonho, porque havia sido aprovado no concurso da PUC-SP onde me tornaria doutor dois anos depois e, dali para frente, viria a lecionar na pós-graduação. Me orgulhava muito das aulas, das orientações que fazia aos pesquisadores, das Bancas de Mestrado e Doutorado, das publicações, dos grupos de pesquisa, dos congressos, enfim, dos muitos amigos que fiz lá. Era um tempo em que tudo estava sob absoluto controle. (óbvio que "absoluto" é engano)

Aos 24, nada estava sob controle. Eu me sentia cheio de energia para seguir em frente na busca de meus objetivos. Tinha comprado meu primeiro apartamento, estava prestes a me formar e a me casar - a constituir a família com que sempre sonhei e vim a ter. Àquela época eu já vivia o estilo workaholic que mantenho até hoje (um pouco menos). Figuras importantes que faltaram na minha vida, sem querer me obrigaram a me tornar alguém que aprendeu a trocar o pneu com o carro em movimento, a abastecer o avião em pleno voo, na perseguição implacável dos meus sonhos.

Isso não não acontecia aos 13, pois, com essa idade, minha ocupação era dupla: estudar e jogar futebol com os amigos. Me esforçava para obter os melhores resultados nos estudos e nos jogos. Acho que também é o tempo em que frequentei igreja; tempo em que, sem escola de música, aprendi a tocar um instrumento musical (um violão Giannini Awne 16). Tempo em que comecei a trabalhar. Época em que eu alimentava os sonhos que eu queria sonhar. Como Deus é bom demais para comigo, ele me colocou diante de situações que me conduziram até estes 46 anos e até estes sonhos. 


domingo, 21 de setembro de 2014

Horizonte de escadas e estradas



Falta pouco, muito pouco para mais um aniversário chegar e, então ser realmente possível colocar na balança o que foram os últimos 365 dias. Falta muito pouco para poder olhar para trás e julgar o que passou (com olhos nunca imparciais). Muito pouco também é o que falta para poder efetivamente projetar os dias que estão por vir, os meses e os poucos anos faltantes. Ninguém é capaz de saber quantos.

A única certeza que há é a de que muitos anos se passaram. Em muitos casos, não é possível saber com precisão, a despeito do registro de nascimento firmado em cartório. Principalmente nas regiões mais afastadas, nas quais não faltam apenas cartórios propriamente ditos, mas também instrução quanto ao uso eficaz dos serviços cartoriais de registro. Por razões diversas, alguns registros ocorrem muito tempo depois de a criança ter sido dada à luz.

A respeito dos dias que são, dos dias que estão sendo, a avaliação de quem está às vésperas de aniversariar é em relação ao grau de felicidade que se experimenta no dia a dia. Em outras palavras, avalia-se o quantum de felicidade tem vindo visitar e o quanto dela tem sido retido, revivido e comemorado. E, naturalmente, também o quanto dela tem escoado pelas mãos, como água potável que salta para o chão e nunca mais vai saciar a sede de quem a deixou cair.

A certeza mesma que se tem é em relação aos anos que virão. Se serão muitos ou poucos, não cabe a nenhum ser humano precisar. Cabe, sim, desejar que sejam tantos ou quantos se pretenda existir nesse mundo incerto e cheio de possibilidades. Cabe também mirar o horizonte e imaginar escadas e estradas que se oferecem diante de todos, num convite que só pode ser respondido por aquele que está na jornada - seja aos 13, aos 24, aos 35 ou aos 46.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Limitações em nós




Em minha rotina diária, sempre muito cheia de coisas por fazer, a tal ponto de uma coisa se enganchar na outra apenas do final de um minuto par outro, estava em hoje, indo buscar minhas filhas na Cultura. Enquanto parava o carro no farol no cruzamento de uma ladeira, meus olhos saíram da tela do celular para ver as horas e se voltaram para uma moça que estava aguardando o momento de atravessar. E, naturalmente, como o farol estava fechado para mim, com certeza estava aberto para ela. Ora, perguntei-me a mim mesmo, por que não atravessa?

Saído do meu torpor imediato pude, ainda que na escuridão das 20h, observar suas feições. Não demorou muito para eu perceber que ela estava fazendo movimentos de respiração profunda. Estava ofegante como quem acabara de chegar de uma corrida ou de qualquer atividade muito cansativa. E ela só tinha chegado à esquina e não conseguia atravessar. Tirei o foco dos meus olhos para ver seu corpo todo: era uma moça muito jovem. E muito gorda. Obesa.

Estava explicado. O esforço que ela fizera para chegar até ali, tendo vindo da rua de cima ou da rua de baixo, por serem enladeiradas, tinha sido um esforço sobre-humano. Essa era a razão pela qual, apesar de o farol estar aberto para ela, ela não conseguir atravessar a rua. Precisava repor oxigênio em seu corpo, de modo a poder produzir mais energia capaz de fazê-la prosseguir. Era jovem e estava visivelmente bastante acima de seu peso.

Aquela moça, que ficou para trás de mim quando o farol se abriu, guardava em seu corpo uma série de elementos que não estavam nele para auxiliar, para lhe permitir alcançar seus objetivos mais imediatos; elementos que a impediam de desejar mais, de sonhar mais, de travessar seus limites, de se propor e de aceitar desafios. No caso dela, por certo, era o tecido adiposo excedente. Mas, e no meu caso? E no seu? Cada pessoa deve ter em seu corpo, em seu coração, em sua consciência, algo que limita. Em que cruzamentos temos parado? Onde temos deixado de ir apesar dos faróis verdes?

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O jardim do vizinho



A vida do ser humano é um tanto curiosa em relação ao modo como ele olha para si, sobretudo, quando tem um vizinho em condições de competir com ele. Um estranho desejo se torna plenamente capaz de fazer com que um certo brilho, sabor e vigor (entre outras qualidades) seja visto como superior ao que é seu próprio. Assim nasce um habito de ver o que é do outro em geral como melhor e, a partir disso, uma insatisfação que vai resultar numa busca constante pelo que está lá, em detrimento do que está aqui. Tanto nos contos quanto nos romances, Machado de Assis sempre tratou insatisfação frequente do homem. Teria sido assim com ele também?

É do ser humano essa insatisfação perene, Homens, por mais seguros e autoconfiantes que possam estar, costumam comparar as conquistas de seus pares como superiores às suas e, dessa forma, que 7 ser mais também. Comparam a casa, a localização, o carro, a mulher, o emprego e tantas outras coisas. Se, por um lado, esta postura pode revelar uma questão doentia, um distúrbio; por outro lado, pode ser um elemento motivador para o sujeito que sempre vê o jardim do vizinho como mais verde e mais florido. Talvez seja menos mal ser assim do que ser prepotente, arrogante.

Por outro lado, as mulheres têm comportamento igual, afinal isso é do ser humano. Além das coisas comuns ao que  os homens desejam, elas também almejam roupas, cabelos, bolsas e os sapatos exatamente iguais ou superiores aos de sua "amiga". O jardim da vizinha parece mais bem cuidado, o que vai fazer com que elas queiram melhorar o seu. Ou, na impossibilidade disso, ficar admirando as flores, folhas, gramado e cores. E, quem sabe?, até pegando umas para si - sem quer ninguém veja.
Eis aí um fator importante e curioso: se for lícito pegar e usar o jardim alheio o quanto quiser, logo ele perde sua graça e abre a porta para outros jardins desfilarem em seu interior.

Entre adultos e adultas, adolescentes vão considerar melhor o tênis do amigo, a camisa de time, a marca da roupa ou a geração do celular. Muitas vezes até dá pra usar o que é do outro. Numa dessas "apropriações indébitas", realiza-se por um momento e tem a satisfação de provar do gosto que tem o jardim do vizinho. Vê, cheira, toca e o deixa lá rapidamente. Depois, simplesmente ver, cheirar e tocar rapidinho não é mais suficiente. Mas o mais curioso que tanto o homem, quanto a mulher e o adolescente não percebem  ser eles mesmos o jardim de outras pessoas.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Escolha o corpo



Quando crianças, naturalmente não temos a menor autonomia para decidir absolutamente coisa alguma sobre o nosso corpo. Decidem por nós. Se adultos responsáveis e ponderados, ótimo para a nossa saúde. Se não, já vamos penar desde cedo para regular o corpo diante do que lhe é oferecido. Mas como na vida de recém-nascido o humano é um dos animais mais dependentes entre entre todos, ele fica à mercê de quem tem o poder de decidir sobre o que será posto naquele corpo internamente (como alimentos) e internamente (vestimentas e adornos gerais).

No entanto, uma vez crescido e já com algum poder de decisão somado a um grau desejável de consciência, os mais jovens podem sempre optar entre a alimentação saudável e a alimentação desregrada. Mesmo considerando que o metabolismo do corpo adolescente tem um processamento muito melhor do que o nosso, é necessário que ele saiba que aquelas escolhas vão, a longo, prazo definindo boa parte do corpo que terão dali a alguns anos.

Já maior em idade, o sujeito terá diante de si todas as possibilidades existentes e que estiverem ao seu alcance, porque, afinal, já responde por seus atos. Poderá manter uma rotina de exercícios, seguida de alimentação adequada ou poderá optar pelo sedentarismo e se encher de substâncias inadequadas para a saúde do corpo - claro que falo das drogas, tanto lícitas quanto ilícitas. Por prazer ou por necessidade, como adulto, o sujeito poderá e deverá responder por todos os atos que fez contra si e contra os que o rodeiam.

Não, não. Imagine que meu pensamento é maniqueísta - no sentido de só poder ser uma coisa ou outra (bom ou ruim, saudável ou drogado) - não, eu não seria assim tão reducionista. É possível pisar as duas margens do rio e ocupar uma terceira, como proporia Guimarães Rosa. Os prazeres lícitos e ou prazeres ilícitos - dependendo do grau de consciência da situação - podem integrar um mesmo corpo a tempo e fora de tempo, sem que haja por isso grandes problemas de consciência - uma vez que o tempo de criança já passou e, por isso, o sujeito poderá optar entre os caminhos possíveis e arcar com as consequências de sua escolha - aliás, a vida é o tempo todo uma questão de escolha.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O gosto insosso da derrota




Nenhum de nós é tão ingênuo a ponto de achar que a vida de qualquer pessoa, seja ela mais nova ou menos nova, pode ser um eterno mar de rosas repleto de alegria. Por certo, nenhum de nós também é capaz de achar o contrário: que a vida de qualquer pessoa seja uma tribulação constante que resulta em uma tristeza e desânimo sem fim. Mas, imagino, todos nós consideramos que nesta vida há coisas que são sempre tristes de se ver.

Uma das coisas mais tristes de se ver é um jovem sem esperança, um jovem que se entrega à derrota antes mesmo de verificar as armas que tem para a batalha. Olha o tamanho da empreitada que o espera e, desmotivado pela preguiça, pela indiferença ou pela falta de autoconfiança, baixa a guarda e prefere tomar a pancada do insucesso a comemorar como um vencedor e subir no pódio para levantar a taça gritando para si mesmo sua total capacidade diante da ameaça.

Gastei muitas horas do meu dia hoje, boa parte da manhã e boa parte da noite, tirando jovens desse marasmo que os enreda e quer puxá-los para as ínferas regiões onde habitam os que vão passar o resto de sua vida ruminando o insosso gosto da derrota. Incuti neles a ideia que parecia tão distante, mostrando as condições reais em que se encontravam e apontando alguns caminhos onde poderiam encontrar a escada que pode tirá-los do sub e colocá-los no sobre.

O sabor da derrota é um tanto difícil de digerir. Ele fica impregnado na boca e em todo o aparelho digestório, que passará a exalar o odor do desânimo, capaz de contaminar os que estiverem aptos a descer. Mais indigesto ainda é o sabor da indiferença, cujas vítimas se comportam como seres insensíveis, imóveis, inertes diante do desafio. Para esses, tanto faz como tanto fez. Isso, sim, é fonte de tristeza, sobretudo quando chegam a um ponto em que nosso braço não é mais capaz de içá-los.

domingo, 14 de setembro de 2014

Ensina a criança no caminho em que deve correr













Exceto por alguma dor na coluna, provocada pelas três hérnias discais que me acompanham já há algum tempo e com as quais eu procuro manter uma relação saudável de muito respeito, isto é, quando não dá mesmo, todo domingo de manhã eu vou até o Museu do Ipiranga para fazer pelo menos 20 minutos de alongamento e, depois, correr 5km. A cada quilômetro, faço entre 5'50'' e 6'. Não sei se é marca boa ou ruim, mas como não sou atleta, para mim esta bom.

Hoje havia uma movimentação estranha por lá. Estranha no sentido de fora do padrão, não era nada de ruim. Afinal, havia uma grande número de crianças. Assim que entrei, já fui ver o que era. Tal não foi minha surpresa ao me deparar com um tanto de crianças de 2 a 10 anos, cada uma com uma faixa identificadora no peito, acompanhada de seus pais e esperando sua vez. Atrás delas, um biombo gigante que anunciava uma Corrida Infantil intitulada: A Volta do Museu. As crianças correriam dando uma volta em torno do Museu do Ipiranga.

Fiz todo o meu treino tranquilo pensando naquela situação. Reservaram um espaço somente para as crianças correrem. Era uma separação simples, com essas faixas amarelas e pretas do CET dando os limites por onde deveriam correr. Achei a iniciativa sensacional, de uma sensibilidade ímpar, daquelas de gente antiga tirar o chapéu. Eis aí uma prática na qual se deveria investir e muito, pois não só é saudável para a criança, quanto serve de unir a família em torno de uma atividade comum, bem como para estimular muito adulto sedentário.

Quando terminei, já exausto, fui assistir um pouco - afinal eram muitas baterias (de 2 a 4 anos, de 5 a 7, de 8 a 10 anos). Enquanto via aquelas crianças correndo, pelo gosto de correr, fiquei pensando no verso bíblico: "ensina a criança o caminho em que deve andar, e ela jamais se desviará dele" e, imediatamente, parafraseei: ensina a criança no caminho em que deve correr, e ela jamais desistirá dele. Que seja assim sempre, plantando sementes boas.

sábado, 13 de setembro de 2014

Porções de ser de estar de viver



Na maioria das vezes, a gente quer tudo. Quer abraçar o mundo com os pequenos braços que a natureza deu pra cada um de nós. Como bons adolescentes, nós acabamos achando que o mundo cabe em nossas mãos. Depois, chegados à idade e à vida adulta, vemos que o mundo é um tanto maior do que os nossos olhos poderiam ver. Igualzinho àqueles que achavam que o mundo acabava na linha do horizonte, no traço azul que parece separar o céu e o mar.

A gente precisa aprender a valorizar as porções, os pequenos pedaços, as pequenas vistas, os pequenos sabores. Sim: muita vezes um pouquinho de vinho do Porto é bem melhor do que se empanturrar de outra bebida alcoólica. Outras vezes, um pedaço de um doce gostoso é infinitamente melhor do que um quilo dele. Não é incomum também que a visão do mar ao longe, tomado da janela, é mais bonito do que o próprio mar com toda a sua agitação na areia. Sem dúvida é muito melhor sentir o sabor de um dos ingredientes no prato e distingui-lo dos demais, do que abocanhar insensivelmente um tanto dele mesmo.

Na vida também é assim. A duras penas aprendi a valorizar as pequenas porções de alegria do dia, em vez de ficar esperando que uma grande e incomensurável alegria viesse me visitar. Aprendi também que nem sempre (ou quase nunca) essas coisas vêm à nós, assim inconsequentemente. Logo vi que deve haver um movimento nosso na direção delas, por pouco que possam durar, por pequenas que sejam. Isso porque são alegrias, são sabores para a alma, são aromas para o espírito.

Cazuza cantava que o que lhe interessava eram as "pequenas porções de ilusão". Não importa de que sejam as porções: sejam de ilusões, sejam de doses de realidade; sejam de sabores ou de aromas; sejam de visões espetaculares, sejam de audições que acalentam o espírito; seja do que for - é preciso que valorizemos a importância das pequenas porções que, juntas, dão o todo da nossa alegria de ser, de estar e de viver.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A semente da transformação



Nesse mundo em que vivemos, especialmente nos dias atuais, em que tudo parece estar literalmente ao alcance da mão; em que tudo se mostra acessível - ainda que virtualmente; um mundo em que as barreiras e as distâncias se mostram cada vez mais reduzidas; um mundo em que a memória do que foi se mistura com a que se pretendia ter sido; um mundo em que as definições são mais vagas - ainda há espaços de limite que se apresentam intocáveis, inatingíveis. Inacessíveis

Milhões de brasileiros, muitos milhões, desfilam seu futebol pelos campos de várzea, pelas quadras, pelas ruas e por onde quer que seja, satisfazendo-se em terem aquela realidade e não outra. Outra que sonharam quando meninos; outra que acalentaram por anos, até chegar o dia em que tiveram de aceitar a dura realidade de que aquele sonho pueril não iria se realizar. Então jogam com os amigos, vão ao estádio, assistem aos jogos pela TV - como espectadores daquilo em que eles gostariam de ser protagonistas.

Os golpes duramente desferidos contra os sacos de areia. Os passos firmemente pisados no chão que recebe o peso de todo um corpo. O carro que se acelera velozmente como quem rasga o que está à sua frente. As palavras secamente dispostas no papel ou na tela, como se fossem facas afiadas sobre o corpo que não se quer mais vivo. Tudo isso (e muito mais) para desanuviar a sensação de incômodo que alguém ou algo intransponível faz questão de ofuscar em pleno céu de verão.

Os meninos no banheiro, por horas. As meninas na vitrine, por horas. O desabrigado diante das mansões, casas ou apartamentos, por horas. O desempregado diante da empresa, por horas. O próprio homem atual diante do homem que pretende ser, por horas. Todos, todos sublimando. Vivendo uma situação compensatória, mastigando a palha do conformismo ou a semente da transformação. Por horas, dias, semanas, meses, anos, uma vida inteira para descobrir que nem tudo é nem acessível.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Culpabilidade




"E então, a culpa é de quem?", clama Renato Russo em uma de suas aclamadas músicas que tratam dos conflitos juvenis consigo mesmo, com o outro, com o mundo. Taí uma pergunta interessante, por um lado, porque pode arrebentar o declarado culpado e, por outro, porque pode livrá-lo de um peso e transferir para ombros alheios o peso do fardo que se carregará por muito tempo. E também, quando se identifica o culpado, parece que tudo está definitivamente resolvido.

Há poucos dias, tomamos conhecimento pela imprensa do caso de dois rapazes que ficaram 30 anos presos, acusados de estuprar uma moça. À época, uma resolução rápida e objetiva. Foi fulano, prendam-no. E prendem Fulano e Beltrano. Uma vida inteira passada nas celas de uma prisão, sabe Deus em que condições; 30 anos de privação de liberdade, para, depois, por exame de DNA se descobrir que os rapazes eram, de fato, inocentes. Atribuir culpa é responsabilidade grande.

Um treinador, embora faça parte de uma equipe, não deve - a meu ver - assumir a culpa por uma derrota, sobretudo, quando ela implica perda de campeonato. Não é o treinador quem entra em campo, não é ele quem faz nem quem toma gol. Ele orienta a equipe (pode até errar a orientação), mas não executa as jogadas. Além disso, sabe-se que a culpa, embora incida sobre uma só pessoa na maioria das vezes, não tem apenas uma fonte, mas um conjunto de.

Um pai que, para infortúnio seu, vê seu filho enveredar pelo caminho tortuoso das drogas não deveria se culpar pelas escolhas erradas que  filho faz. No entanto, culpa-se. Uma mãe, que a despeito de suas orientações, recebe a notícia de que será avó também não deveria se culpar pela escolha da filha. Mas culpa-se. Um professor também não o deveria, quando um aluno seu perde o ano. Mas aponta contra si o dedo acusador. Em todos esses casos, claro, considero que  treinador, pai, mãe e professor tenham feito sua parte no processo responsavelmente. Em caso contrário, também estarão envolvidos no jogo da culpa, mas não exclusivamente. Atribuir culpe é responsabilidade grande.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Monstros de escuro imaginado



A cabeça da gente é uma coisa absolutamente poderosa. Para o bem e para o mal. "Quê que há? Quê que tá se passando com essa cabeça?", perguntava o meloso Fábio Júnior há algumas décadas. Já Raul Seixas, um pouco antes, revelava que nós não usamos sequer 10% de nossa cabeça animal. E eu acho que é fato. A gente conhece muito pouco dela e do que ela é capaz. Fabio Jr tem razão. Raul também.

É impressionante como nossa cabeça tem a incrível capacidade de nos trazer à memória coisas que aconteceram em nossa mais tenra infância, em flashes tão rápidos quanto a luz. Décadas depois (como é meu caso) muitos acontecimentos me revisitam já mesclados com o que eu pensei sobre o que aconteceu. E também já rasgados pelos esquecimentos. Ou alterados conforme conveniência de discurso. Sei lá. Não sabemos bem o que é realmente o passado nem o que dele é puro em nossa memória.

Não menos espantoso é o quanto a cabeça tem a capacidade de nos paralisar diante de algumas coisas que, por alguma obscura ou conhecida razão, simplesmente, nos afasta de felicidades possíveis. Basta que estejamos diante de algum evento intimidador, que travamos de um jeito que nos faz ver como única saída a fuga. O aniquilamento da capacidade de superar. Fugimos como crianças do monstro que nunca esteve no escuro imaginado. Fugimos como adultos que vivenciaram a situação adversa tantas vezes quanas o fizeram se sentir socando ponta de faca.

Mas nossa cabeça também tem a fundamental capacidade de manter vivos os sonhos, os desejos, as esperanças. De manter o olhar fixo e ávido em um futuro próximo ou distante. Um olhar para o ponto onde desejamos estar, um olhar que supera os quilômetros de distância entre o aqui e o longe. Entre o agora e o quem sabe um dia. É isso, aliás, a única coisa capaz de nos manter acreditando que ainda vale a pena manter a cabeça lúcida e sedenta de dias melhores. Espero que isso não seja coisa da minha cabeça.