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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Gabi



Tenho a impressão de que eu não percebo um milhão de coisas boas que acontecem na minha vida. Outro tanto igual talvez eu já nem perceba mais o quanto é bom, coisa que, de tão comum, já foi incorporada como coisa normal da vida - como se devesse estar sempre ali. Aquelas, porém, que são tão essenciais, eu faço questão de ver, de olhar mesmo, de perceber, de notar o quanto eu sou o que sou justamente por causa delas. Sobre toda e qualquer coisa ou pessoa, a existência das minhas filhas é precisamente o que faz sentido para os dias que já vivi e os que ainda hei de viver.

Amanhã, 30 de agosto, é aniversário de minha filha mais nova, a Gabi. A menos nova, Isa, faz aniversário logo no início do ano. Lá, escreverei para ela, pois será um dia muito especial. Daqui  a duas horas, a Gabi vai completar 16 anos e ela continua continua com um sorriso estonteante, uma beleza absurdamente encantadora, um bom humor contagiante, um senso de justiça invejável e uma maneira de lidar com a vida que é, em grande parte, aquela que eu queria ter para mim.

Já disse isso a ela. Como que num caminho de ida que vem, ela é como eu gostaria de ser. Ela não sabe - e não precisa saber - que espelho nas ações e reações dela muito das minhas para que eu possa me tornar uma pessoa melhor. Melhor pra mim, melhor pra ela, melhor pras pessoas que nos rodeiam. Sua determinação, sua plena doação de si mesma a tudo em que se envolve, sua escolha por uma vida saudável, seu ecletismo artístico, sua leitura variada, sua escrita escrutinadora, a transparência de seus sentimentos em palavras precisas...

Tanto é de tão maravilhoso nessa menina que eu admiro a cada dia, que qualquer coisa que eu venha a dizer ainda vai ser a pálida sombra do eco de uma frágil voz que profere o mais singelo elogio. Meu maior desejo em relação a ela é, ao mesmo tempo, simples e complexo: que ela se torne cada dia mais saudável, mais forte, mais responsável, mais feliz. Ou, numa palavra só: mais Gabi.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Entre a lua cheia e a lua nova



Há poucos dias, pudemos vivenciar um fenômeno natural de rara beleza: pudemos contemplar a chamada Super Lua. Portentosa, brilhante e bem mais próxima do nosso planeta. Um espetáculo de ver. Inspirador, por certo. Muitos foram os que postaram fotos, textos e tantas outras formas de expressão do Belo que irradiava daquele astro sem luz.

Pois hoje, estamos em fase de Lua Nova. Bonitíssima, delgada, singela, delicada. Parece um corte na escuridão do céu. Enfeita-o do mesmo modo. Inspira alguns com igual capacidade de sensibilização. Pude contemplá-la por um tempo hoje e pensar o quanto ela representa não só na fase em que se encontra, mas o que disso pode ser metaforizado para a nossa vida.

Claro que a Super Lua, por mais evidente, por mais imponente, chega chegando. Se mostra com mais brilhos e paetês ou como uma mulher que deixa entrever aquilo que se pode ver, mas dando a impressão de que se está vendo tudo o que se gostaria de ver. Uma lua super. Não uma lua superficial. Do mesmo modo que uma mulher super. Não superficial.

E a Lua Nova está ali no céu me dizendo baixinho que o fato de ela estar sendo vista em sua parte mínima não significa, em hipótese alguma, que ela não esteja inteira. Ela declama incessantemente o poema de Fernando Pessoa, parafraseando: "Para ser grande, seja inteiro. Não exagere nem exclua nada que do que é. Seja todo em cada coisa. Ponha tudo quanto você é no mínimo que fizer. Assim a lua brilha toda em cada lago, porque alta vive".

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Medidas de gripe




Outro dia comentei aqui no blog sobre minha impressão a respeito de uma médica que atendeu minha filha, quando ela estava - tadinha - com uma sinusite brava. E que se repetiu outras vezes, infelizmente. Naquela ocasião me chamou muito a atenção o fato de ela iluminar a garganta da minha filha com a lanterna... do i-phone que sacou rapidamente do bolso de seu avental. Logo pensei: ah, esses médicos jovens...

Hoje quem está sofrendo as dores e o incômodo da sinusite sou eu. Depois de 4 dias, fui ao hospital, o mesmo em que havia levado minha filha. Achava que era gripe, mas não: era sinusite. Segundo o médico, claro. O doutor apertou minha testa fortemente com os polegares. Dói? Depois fez o mesmo nas "maçãs" do rosto. Dói? Claro que dói pelo aperto. Putz, dali para o diagnóstico de sinusite, antibióticos, analgésicos, xaropes... quase um coquetel que se somou a dois dias de afastamento do trabalho.

Ao voltar pra casa, depois de passar na farmácia (quase uma feira, de tanta medicação) tomei chá bem quente duas vezes, um com comprimido desses que servem para uma gripe toda, um banho quente e cama. Acordei excelentemente bem. Ainda não tomei a medicação. Está toda aí, se eu piorar. E não o fiz porque tive a impressão de que estava pegando um canhão para derrubar uma formiga.

Tem coisas que são assim na vida. E em muitas vezes a gente pode até estar enganado. A gente não deve oferecer um filé mignon para um recém nascido. Nem deve assar quilos e quilos de carne para um churrasco para 3 ou 4 pessoas. Não deve exagerar na dose de uma bronca, para não virar ofensa. Muito menos no dimensionamento de nossos problemas pessoais, interpessoais ou mesmo físicos. Esse é o segredo, tão difícil de ser alcançado: o equilíbrio.





domingo, 24 de agosto de 2014

O pior doente



A gente que já tá indo pra casa da idade 5.0, já ouviu muita coisa. Tanto que já é mesmo capaz de prever a finalização das frases de algumas pessoas, dependendo, claro, do contexto em que se encontram.Todo mundo já ouviu dizer que o pior cego é o que não quer ver. E, de fato, não querer ver é um empecilho maior do que a escuridão ou do que a ausência de um nervo ótico.

Naturalmente, uma frase chavão como essa pode ser facilmente estendida para o sentido vizinho, o da audição. E realmente também há pessoas que cujo espírito se recusa a ouvir certas coisas. Por mais claramente que se lhe digam algumas coisas, elas insistem em ouvir outras. Bem dizia Sigmund Freud, em seus estudos, que a audição é seletiva. Quantas vezes já não alertei mães sobre o que seus filhos realmente faziam... e elas não quiseram ouvir. Nem vou falar das consequências aqui.

Não dá pra negar que tanto não querer ouvir quanto não querer ver produzem o pior surdo e o pior cego. Claro que não. Uma questão de bom senso admitir isso. No entanto, o que me ocorre aqui, em razão do meu estado de saúde dos últimos 3 dias, é que, de modo geral, pessoas doentes também podem ser seu pior doente. E o pior não é, talvez, o que padece enfermo de uma doença numa cama de hospital, isolado até de parentes e de pessoas mais próximas (em tese).

O pior doente, por certo, é aquele que não quer se curar. É aquele que continua no ringue como quem está lutando, mas há muito já jogou a toalha no canto do tablado, já está de guarda baixa, à espera de golpes que possam aos poucos minar o benefício da vida. Não poderão dizer que deixou de lutar, porque ele está lá. Mas não é verdade. Ele está como Eurico, o Presbítero, que foi para a guerra desarmado, para se deixar morrer. Este sim, era um doente que não buscava a cura, mas seu fim.

sábado, 23 de agosto de 2014

Doente do ente e do corpo



A sensação de não estar inteiramente bem é bastante ruim. É assim que estou me sentindo nesta semana, como se fosse um instrumento que já não se afina mais. Espero que este não seja o caso do meu estado, e que eu possa, sim, voltar a estar afinado e poder soar meu som completamente com os outros tantos que compõem a melodia desta nossa vida.

Estava previsto para esta semana um evento grande na escola onde trabalho. E, como se não bastasse o fato de ele ser grande, o responsável por todo o planejamento e execução dele era eu mesmo. O lugar onde tocar, quem iria tocar, o repertório que iríamos tocar, quando, quanto e onde ensaiar, além de contatar todas essas pessoas, ver instrumentos, estúdio e mais um tanto de coisas que, se não fosse a parceria e cumplicidade de cada uma das pessoas que se envolveram, eu não teria conseguido.

Foi na quinta-feira e, graças ao Bom e Eterno, tudo deu certo. À tarde, depois de pegar minhas filhas na escola e levá-las a uma consulta médica há muito marcada, fomos tomar um açaí. Daqueles bem gelados, com granola, e todo tipo de fruta. Temendo o gelado, pedi o menor que o rapaz tinha. E tomei com gosto. Muito gosto. Muito gelo. E não deu outra: na quinta à noite, minha garganta já não respondia bem, minha respiração estava ficando travada, uma coriza começou a me visitar... e eu tive imensas dificuldades para dormir. 

Na sexta-feira, eu já não tinha minha voz normal e meu estado era de alguém "acabado". Nem consegui jogar meu futebolzinho de sexta à noite. Hoje, em evento nacional de um projeto que integro, eu claramente não estava inteiro. Mas resisti. Vi que estava mal mesmo, quando, à noitezinha, quando estacionei o carro no restaurante onde fui, o manobrista passou a mão na cabeça e disse: "que calor é esse?" E eu estava com frio. De manga comprida e tudo. Foi aí que vi que estava mesmo doente. Não tenho dúvida: estar doente é uma coisa do corpo e do ente. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Colhendo o que se encanta



Não resta a menor dúvida de que um dos ditados mais conhecidos é o de que plantamos aquilo que colhemos. Fato. Quase sempre. E é, infelizmente, também verdade que muita gente colhe sem ter plantado, sem merecimento e, muitas vezes, por meios escusos que fariam corar qualquer cidadão de bem, que é o caso das pessoas com quem procuro conviver: todas pessoas de bem, que colhem o que plantam.

E é muito bom poder escolher o que se quer colher. Vislumbrar. Olhar lá na frente. Às vezes, com óculos, binóculos, telescópios. Às vezes a olho nu ou mesmo de olhos fechados, olhando para dentro algo que seja objeto de expectativa. A partir da identificação desse desejo, dar o passo seguinte, que é justamente selecionar as sementes que vingarão e darão fruto na hora certa.

Regar as sementes, defendê-las de eventuais pragas, mantê-las em temperatura propícia e ir contemplando o modo como elas desabrocham, se abrem para a vida e irrompem da terra para encontrar-se com a luz que nos ilumina a todos e, por fim, para se oferecer a cada um de nós, como parte de todos nós, como uma comensal que chega para a celebração da existência.

Foi assim, exatamente assim, com o grupo que formamos para uma apresentação músico-literário-pedagógica realizada hoje. 3 professores, 3 alunos e 9 músicas mesclaram-se para trazer à luz um momento especial de convivência, de admiração e respeito mútuo entre todos os envolvidos (cerca de 300 alunos que assistiam, além de professores, assistentes e técnicos). A esperança agora é de que esta apresentação seja apenas a semente de outros frutos que ainda virão a existir.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Isso




"Parecia que não ia acontecer com a gente... Não adianta reclamar, acreditar que basta apenas deixar levar isso! Que atrapalha nossos planos, derrubou o muro, invadiu nosso quintal. Isso! Passam-se os anos. Sempre foi assim e será sempre igual", canta Paulo Miklos, vocalista do Titãs, na música intitulada "Isso".

Tem momentos da vida que tudo está tão em paz, tão tranquilo e tão sob controle, que chegamos a folgar um pouco o nível de atenção e, por vezes, corremos riscos que seriam impensáveis em outras situações, nas quais houvesse uma escassez qualquer, uma ausência qualquer, uma falta qualquer. "Qualquer, mas qualquer mesmo", como cantam Caetano e Gil. Numa situação de segurança perigosa, o perigo faz questão de nos visitar.

Hoje, quando me aproximava aqui de casa, fui surpreendido pelo fato de ela estar interditada, tanto de um lado quanto de outro, justamente na frente do prédio onde moro. Reduzi a velocidade e vi com mais vagar, tentando entender o que estava acontecendo. O que vi era absolutamente estranho: quatro rodas de carro para cima. De ponta-a-cabeça, com o teto no chão. Capotado.

Histórias muitas. Imprudência, diziam alguns. Como é que pode descer tão rápido uma rua como esta?- perguntavam indignados alguns. Deve ter sido distração, porque ele estava com o celular. É isso que dá, também, bem feito, viu? - reclamavam alterados alguns. O velhinho passou mal e perdeu o controle do carro - ponderavam outros. Como eu cheguei à noite, e o acidente acontecera às 16h, não tenho como saber. Minha única interpretação agora é de que o que aconteceu foi "isso", que parecia que não ia acontecer com a gente.


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Non scholae sed vitae discimus



Esta vida de professor, que já mantenho há 20 anos traz muitos conhecimentos pra gente que ensina. Sim, claro que, dependendo do ponto de vista de quem lê esta frase, pode parecer haver nela um paradoxo: o da inversão de papéis que leva o professor a receber conhecimento. Evidentemente não é meu ponto de vista, pois, sem o menor grão de demagogia, acho que o professor aberto ao ato de realmente ensinar vai aprender com seus alunos nas muitas situações vivenciadas na escola.

Cedo aprendi que o que há de melhor no cotidiano escolar é justamente o privilégio do convívio, o prazer de poder acompanhar alguém em pleno desenvolvimento de si mesmo, e nas mais diversas áreas do ser. Seria absolutamente reducionista pensar que, como professores, só participamos do desenvolvimento intelectual de nossos alunos. Não, mas não mesmo. Eles estão experimentando situações que mexem com seu aprimoramento emocional, espiritual, psicológico e tantos outros.

Pude aprender, já para o meio da carreira aquilo que os naturalistas (e, dentre eles, Raul Pompeia), haviam tentado me ensinar: que a escola é um microcosmo, um espaço menor em que todos vivenciam experiências que o espaço maior da vida vai proporcionar. Mais tarde, lendo autores latinos, logo vi que "non scholae sed vitae discimus" (não é pra escola que aprendemos, mas pra vida). Recentemente, aprendi com um Irmão, que o vestibular da vida é mais importante do que aquele que tantos frisam.

Sendo assim, é de se lamentar quando nos perdemos irremediavelmente nas provas, diários e demais registros dos alunos e perdemos a capacidade de ver neles as pessoas que eles efetivamente são. E são pessoas antes (e depois de serem alunos). Quero meus olhos cada vez mais abertos para isso, para as pessoas que estão diante de mim, construindo sua vida vida, e não só sua vida escolar.

domingo, 17 de agosto de 2014

Fama oca




Me lembrou a música do Caetano: "não sou proveito, sou pura fama" o fato de haver muita gente que coloca na mesa um enorme volume de pratos, copos e talheres, mas para servir uma quantia ínfima de comida, que sequer precisaria, mas que foi enredado pela fama e só pela fama oca de ter muito a oferecer.

Me lembrou também aquele lance do Tite em que ele gesticula e fala para Felipão (técnicos do Corínthians e do Palmeiras, respectivamente, à época): "Fala demais, fala demais". Muita gente me lembra essa frase do Tite, sobretudo, aquele tipo de pessoa que faz questão de se autopromover e não perde oportunidade para falar de si. Para elas, eu gostaria de dizer apenas: "fala demais".

Me lembrou ainda a música do Pato Fu, na qual Fernandinha Takai canta: "Tem, mas acabou". Essa frase genial, tão comum nos mercados e armazéns que eu frequentava em minha pequena Janaúba quando era pequeno, caracteriza para mim o tipo de gente que vive às custas do que construiu um dia e segue se alimentando do rastro que já não marca o caminho novo.

Me lembrou, por fim, as sombras de Platão na caverna. Aquelas mesmas para as quais as pessoas olhavam sem serem capazes de distinguir o que era a realidade e o que era a sombra da realidade. Tem muita sombra sendo vista por aí, muita gente vendendo o que já não consta do estoque, muita gente falando mais do que deve, muita gente com uma fama totalmente oca.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

"Emozão e ração"



Estou introduzindo reflexões sobre a visão cientificista da vida para meus alunos de nono ano, a fim de situá-los melhor em relação à leitura de "O Alienista", que propõe uma discussão sobre os limites entre a razão e a loucura. Poderia muito bem apenas pedir que lessem e esperar as muitas dificuldades que teriam, dado o vocabulário e o contexto que são um pouco distante da realidade desses adolescentes com que trabalho. E, claro, leio com eles um pouco aqui, um pouco ali não só para aumentar o gosto pela leitura, como também para que se motivem e deem continuidade sozinhos.

Procurei fazê-los entender que, em seu contexto próprio, o Positivismo teve sua razão de ser (com o perdão do trocadilho); que o Evolucionismo é forte ainda hoje e as evidências fortalecem cada vez mais a teoria darwiniana; que o Determinismo tem sentido ao apontar a hereditariedade, a história e o contexto como fatores decisivos para determinada realidade; que a Psicologia nascia com grande força defendendo a existência do id, do superego e do ego. Falei vagarosamente de cada uma.

Entre o alcance e as restrições a cada uma dessas maneiras de ver a realidade e interferir sobre ela, é preciso ponderar outro tanto de coisas (inclusive o tal do imponderável, que já me entortou o entendimento muitas vezes). É curioso como não raramente pessoas tidas como predominantemente racionais tomam medidas absolutamente baseadas no componente emocional. De repente, a dita clareza da razão vira um breu sem fim, um buraco sem fundo, um beco sem saída em cujos muros não é encontrado o menor resquício de explicação.

Em outras não raras vezes uma situação claramente emocional se apresenta diante das pessoas e elas insistem em enxergá-la apenas e tão somente de um ponto de vista anterior às lentes da razão, que com frequência distorce e tolhe, disseca e ofusca a clareza com que a emoção poderia conduzir tais pessoas.  

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

2 adultos 2 crianças


Há alguns anos, graças à intenet e suas redes sociais, tive a feliz oportunidade de reencontrar dois caríssimos amigos muito queridos que eu não via havia cerca de 20 anos. E foi uma experiência encantadora reencontrá-los e poder compartilhar com eles um pouco do que foi a minha vida durante o tempo em que não nos contatamos. De igual modo, foi absolutamente interessante ouvir o que tiveram a dizer. Dali para frente, continuamos nos encontrando, sobretudo, pela internet.

Não foi diferente com um outro amigo. Este, de uma antiguidade mais remota ainda, da época em que eu ainda era menino que dedicava meus dias apenas aos estudos e ao futebol de rua. Independentemente do tipo de futebol: de campo, de quadra, de rua mesmo, de tudo inclusive futebol de botão. E como disputamos campeonatos de futebol de botão. Altos torneios. Cada vez na casa de um. E nosso time era grande, algo como uns 5 entre os mais próximos.

Palmeirenses, sampaulinos, corinthianos, santistas... não dependia o time para o qual torcíamos, pois a alegria de todos era sempre a mesma, o compromisso um com o outro, os sarros tirados, as perspectivas criadas, os caminhos que cada um pretendia tomar. Evidentemente era o momento em que as menininhas habitavam nosso imaginário e a lista de nossos desejos, assim como as carreiras que imaginávamos seguir. Daí a preocupação com os colégios em que iríamos estudar. Públicos, porque nossa condição sempre foi a de quem precisava lutar pela vida com toda a dignidade que sempre nos guiou a vida toda.

E nos separamos justamente nesse tempo da nossa entrada no que, à epoca, se chamava Colegial. Cada um de nossa turma foi estudar uma coisa, cada um num lugar. E o hiato se fez. Hoje vou reecontrar um deles. É bem verdade que havíamos nos encontrado uma (única) vez e tido alguns contatos via Face, ao longo dessas décadas. Mas dedicar algumas horas às lembranças de uma amizade pueril, tomando o chope que não podíamos beber à época, é impagável. Será, por certo, o encontro de dois adultos com duas crianças.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Datas: o que são?




O que são as datas que tanto marcam, que tanto demarcam? O que são as datas que tantos esperam? E as que tanto são objeto de cobrança? E as datas que tanta gente gostaria de esquecer? Friamente as datas não são mais do que mais um dia no calendário que limita nosso tempo para o antes e para o depois delas. Mas não passam disso. A grande questão é o que elas evocam nas pessoas. O 13 de agosto, pode não significar nada para muita gente. Não se dirá o mesmo em relação à família de Eduardo Campos.

Crianças não veem a hora de chegar seu aniversário para ganhar presentes de amigos, parentes e, principalmente, dos pais. Mesmo adultos, os mais festivos, marcam com grande antecedência a data para comemorar com amigos o aniversário. E tem os aniversários das grandes conquistas. Os aniversários de fundação. Tem aniversário para tudo que se queira.

De fato, não posso deixar de dizer, do mesmo modo que há alguém que neste momento comemora, também há quem esteja chorando. É paradoxal isso, porque muitas vezes ocorre de uma pessoa próxima com quem se tem grandes laços afetivos, falecer numa data comemorativa - como Natal, Carnaval e outras. Daí o mesmo tempo que é de alegria e diversão para uns, também é de tristeza e introversão para outros, que já não conseguem mais dissociar a festa do luto.

As datas tidas como "de azar", como a de hoje, por exemplo (especialmente se o 13 de agosto cair numa sexta-feira) podem ser um empecilho para uns, ao passo que podem ser razão de desafio para outros. Não raramente, o tempo é cruel com muita gente. Tanto, que uma data desafiada e vencida por muito tempo, como um simples 13 de agosto, migra inexoravelmente da superação à lamentação. Mas, esta como outras tantas, cobradas ou não, festejadas ou não, são apenas datas.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Faltando um pedaço



Muitas são as músicas que, banhadas num romantismo que exalta o sofrimento em detrimento da realização amorosa, tratam da perda da pessoa amada e, não raramente, recorrem à metonímia para dizer que "parece que falta um pedaço de mim". Ocorre-me agora, a título de exemplificação, a música do Geraldo Azevedo "De volta pro meu aconchego".

Embora não goste muito da construção, por me parecer um tanto piegas, sei da dor da perda e tenho de concordar que certas perdas (especialmente a de pessoas que nos são muito queridas) causa mesmo essa impressão de incompletude. E parece mesmo faltar algo de nós quando alguém nos falta. Por certo, porque somos a somatória de muitas pessoas, de muitas coisas, de muitas ideias. Daí nos tornamos um pouco menos quando menos se tornam as pessoas que amamos.

Entretanto, hoje uma cena me chamou tanto a atenção, que me levou a pensar sobre pedaços de nós que vão ficando por aí, Há entre meu escritório e o colégio em que trabalho dois pontos de ônibus, que sempre aconchegam tipos caricaturais capazes de despertar reflexões. Aliás, muitos já foram personagens de crônicas aqui. Hoje vi um senhor arrancar meia perna e apoiá-la no banco de espera do ponto de ônibus. Entre o estranhamento e a acomodação do pensamento, percebi que era uma prótese. E é óbvio que só poderia sê-lo, mas... sabe como é mineiro na percepção das coisas.

Imediatamente fiquei pensando um tanto de bobagem enquanto dava prosseguimento ao meu rumo. Se por um lado seria muito bom arrancarmos de nós as coisas ruins e não funcionais, por outro é sempre muito bom (demais) quando vemos que certas pessoas incorporam partes de nós nelas: ora uma fala, uma postura, um ponto de vista. E é bem isso, assim como somos constituídos de muitos, muitos são constituídos de nós. E assim seguimos, entre a completude e a incompletude.



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Super Astros



Esses dias têm sido marcados por uma beleza natural que está enfeitando o céu, principalmente, à noite: a chamada Super Lua. Independentemente de o sujeito ser ou não romântico, de estar apaixonado ou não, ela está lá, brilhando como nunca, mais próximas da Terra do que nunca. Só não vê quem for muito distraído ou quem não tiver uma oportunidade de olhar para cima. Por certo, uma perda inestimável.

Como a lua não faz em torno da Terra uma volta, digamos, perfeita, há momentos em que ela está em distância regular, assim como há momentos em que ela está mais distante e outros em que ela está mais perto. Este último recebe o nome técnico de perigeu, enquanto aquele é chamado de apogeu. É no perigeu que vemos a lua desse tamanhão todo e com esse brilho maravilhoso. Às vezes nos sentimos assim quando estamos próximos de pessoas de brilho intenso.

Já tive momentos, muitos, em que pude estar ao lado de quem considero gente muito grande. Na minha área de pesquisa (quando eu era mais ligado à Universidade), pude participar efetivamente de grupos de pesquisa liderados por ícones daquilo que estudávamos. Comecei meu pós-doutorado com a maior representante daquela linha de pesquisa no Brasil. Já dividi mesa em apresentações de congresso com sumidades internacionais. Em outras palavras, já tive o privilégio de ter astros perto de mim.

E cada um de nós, somos, em certa medida, grandes para alguém - que, por sua vez, é grande para outros que a quem serve de espelho e alvo a ser mirado para contemplação e aprendizagem. E assim, indefinidamente, temos à nossa volta um pouco da luz de outros astros que nos são maiores. E nós, por nosso turno, também refletimos nossa luz, de tal modo que, em maior ou menor grau, com mais ou com menos distância, construímos juntos todo o brilho que está no mundo. 

domingo, 10 de agosto de 2014

Ser pai da Isa e da Gabi


Pela janela do carro em movimento numa rua cheia de gente que caminhava entretida apenas no que fazia, eu gritava aos quatro cantos: eu vou ser pai!!! Eu vou ser pai!!! Não me interessava a reação delas; interessava-me apenas a manifestação da minha alegria em face da nova condição de vida que eu viria a assumir: a de pai que estava nascendo para amar sem a menor restrição. E esta alegria me visitou duas vezes, em no início de 97 e em meados de 98, quando a vida me presenteou com a Isa e com a Gabi.

Foi com muita satisfação que eu estendi as mãos para receber da vida esses dois presentes, os mais sublimes que esta minha intensa existência poderia ter ganhado. Muitas foram as noites em que me levantava para cuidar delas em suas cólicas, em suas fraldas por trocar. Tive o privilégio de tê-las em meus braços; depois, de ensiná-las a andar (a pé e de bicicleta); de criar nelas o gosto pela linguagem; a graça de sorrir e de fazer sorrir; de compartilhar valores; de dividir dificuldades; de superar obstáculos e de seguir os dias que a vida nos oferece como graça.

Apenas um obstáculo não foi possível superar. Mas ele também veio a ser um acontecimento que serviu para nos aproximar ainda mais, para nos fortalecer, para mostrar pra gente que, por maiores ou menores que sejam as dificuldades surpreendentes que a vida nos impõe, não devemos esmorecer nem usar isso para justificar eventuais fracassos. Ao contrário, devemos usar para nos estimular a reagir com força e determinação, olhando sempre para o horizonte, para a ponta do arco-iris, para o sol que há de nascer, para o dia que virá e trará mais e mais motivos para sorrir e seguir.

Não, não vão saber, nem elas nem ninguém, o quanto as amo, o quanto ganho de vida a cada momento que olho para elas, o quanto sou renovado em esperança a cada sorriso que vejo em seus rostos, o quanto me alegro a cada vitória que obtêm, o quanto eu me motivo com as palavras de incentivo que dou a elas; o quanto me contento com cada minuto em que estamos juntos. Não me importa mesmo que elas nem ninguém saibam disso. O que me importa é que ser pai dessas preciosidades é ter sentido em existir, é ganhar da vida um presente inestimável a cada dia.

sábado, 9 de agosto de 2014

Véspera de dia dos pais



Hoje é véspera do Dia dos Pais e, com toda certeza, um dia absolutamente importante para muita gente, sobretudo, para filhos e pais, mas também para aqueles que atuam como pais, sem o ser. Também vale a pena dizer a esses também: um feliz Dia dos Pais. Nem nem vou entrar aqui na infrutífera discussão para se saber se pai é que gera ou quem cria; se o que vale é ser pai biológico ou adotivo; se é ser pai ou padrasto...

Do mesmo modo, o outro lado da moeda tem os filhos, que podem ser filhos biológicos ou não. Tem as histórias loucas que esta vida guarda para cada um: desde a adoção (por exemplo) até aqueles que mesmo tenho pais biológicos acabam sendo criados por tios, por avós ou por qualquer outro responsável familiar. Ou não. É difícil acreditar que ainda aconteça isso, mas ainda ontem li notícia de que em Brasília uma moça escondeu a gravidez o tempo todo; deu à luz uma menina em um banheiro, colocou-a em uma caixa e a abandonou à frente do portão de uma casa que não era a dela.

No meu caso, a coisa é complicada, mas não tão complicada como o último caso que contei acima. Na verdade, é como o penúltimo. Como uma folha antiga que se desprende de uma árvore e deixa de ver o crescimento de outras folhinhas menores que ainda desfrutavam de sua sobra e que aprendiam com ela a se aproveitar da seiva vital, meu pai também se desprendeu de nós quando eu ainda tinha 4 anos, vivia à sua sombra e aprendia com ele modos de absorver a vida.

Esse fato fez com que minha vida tomasse uma guinada significativa, na medida em que foi seguido da vinda de minha mãe para São Paulo - vinda que fez com que eu passasse a morar com meus avós por anos. Afora questões emocionais, privações e quetais, cresci com minha mãe em SP a partir do final dos anos 70. E foi aqui que, com 14 anos, passei a estudar mais, a trabalhar desde os 14 anos e, no final dos anos 90, me tornar pai. Pais como o meu e pais como eu merecemos parabéns, cada um a seu modo, sobretudo, porque damos à existência alguém para existir, com tudo que isso implica.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Meias arreadas



Futebol sempre esteve entre as minhas paixões. Menos, no entanto, que minhas filhas. E talvez menos que a música - sobretudo, agora, que hérnias, bursites e sacroileítes de vez em quando me tiram o gosto de jogar. No cenário de uma partida de futebol, muitas coisas chamam a atenção. Quem já entrou num estádio como Morumbi ou Maracanã ou Santiago Bernabeu... quem já entrou num lugar desses, sabe bem da beleza que é aquele tapete verde e aquelas linhas e redes brancas.

Tem sempre aquele jogador que já disputou muitas partidas de futebol. Que ao longo de sua carreira construiu muitas experiências e que chega a um ponto em que começa a descuidar do jogo em si, porque ele não é mais o sentido de sua prática cotidiana. Não, não é que ele passe a fazer as coisas de qualquer jeito. Ao contrário, continua fazendo com toda dedicação todos os fundamentos: domínio de bola, passe, marcação, desarme, reposição, cabeceio, chute, finalização - entre outros.

Entretanto é visível que seu corpo começa a dar sinais de quem já não tem mais o mesmo vigor e a mesma disposição/disponibilidade para as partidas. Assim, já não utiliza mais a camiseta por dentro do calção (e nem é por marketing), por exemplo. Ou já não utiliza mais caneleiras para se proteger das pancadas. Ou, ainda, não mantém estendidas as meias; antes tem-nas arreadas. Não se sente mais essencial no jogo; apenas mais um que compõe uma equipe.

Provavelmente, o barulho das redes na hora do gol já não lhe seja mais atraente - embora ainda se empolgue com as vozes que descem da arquibancada para ovacioná-lo. É possível que apenas a consciência de sua importância na equipe o mantenha indo para o campo. Tantos gols feitos, tantas faltas sofridas, tantas vitórias obtidas e tantas derrotas sofridas tenham perdido o viço da juventude, de quanto vivenciava tudo isso com intensidade. Sabe que, como suas meias, em breve, estarão fora dos pés, ele também estará fora dos campos. E o futebol não será menos encantador sem ele.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Na casa errada



Dali sempre me impressionou, onde quer que seja ou no que quer que seja. Em livros ou em grandes telas; aqui ou lá no Museu Reina Sofia, em Madri. Sempre impressiona pelo grau de estranhamento que ele costuma provocar em que aprecia sua obra. Assim como a obra dele, muitas coisas no dia a dia nos tiram desse estado de torpor provocado pela rotina e nos colocam numa situação de desconforto, que leva o cérebro gastar alguns segundos para se realocar.

Esses dias, quando chegava em casa da rua com minha filha mais velha, eu e ela, bastante cansados, íamos encontrar em casa minha filha mais nova. Temíamos que ela já estivesse dormindo. Como já era tarde, voltamos com alguma pressa para casa - como sempre -, estacionamos - como sempre -, recolhemos as coisas do carro - como sempre -, e, como sempre, entramos no elevador, pressionamos o botão do andar e subimos.

Descemos e já fomos direto para a porta. Estranhamos, porque a luz estava acesa e havia barulho de conversa na sala. Logo quis ver o que era, porque não esperava encontrar mais de uma pessoa em casa. Abri a porta e já estiquei o pescoço para enxergar rápido. Tal não foi minha surpresa quando me deparei com quatro pessoas sentadas na sala a me olhar com olhos de estranhamento. Logo reparei que aqueles móveis não eram os meus... e... que aquela não era a minha casa.

Havíamos apertado o botão do andar errado. Descemos no andar debaixo. Mas, hall igual, porta e maçaneta iguais, quase tudo igual. Logo estampei um sorriso amarelo e pedi desculpas fingindo sorriso descontraído. Fechei a porta e entre riso e vergonha, voltei para o elevador, subimos um andar e entramos em casa. Estou aqui pensando em quantas vezes não entramos na vida das pessoas sem que houvesse ali nada de nosso.