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terça-feira, 15 de outubro de 2019

Professor de cada dia


Dia 15 de outubro é considerado o Dia do Professor no Brasil. Estamos precisamente nele agora, enquanto escrevo este texto. Para mim, sinceramente, mais do que um dia do professor, considero cada dia o dia do professor. Ou dito de outra forma, acredito que todos nós, professores totalmente envolvidos com o seu trabalho, são professores do dia. Ou seja: ensinam para a vida vivida no seu miúdo, na delicadeza de cada minuto que compõe todo o dia de todos os dias.

É curioso que o Dia do Professor seja tão próximo de outras duas datas tão importantes: a do Dia das Crianças e a do Dia de Nossa Senhora. Em ambos os casos, existe uma relação profunda com o 15 de outubro. E é justamente esta relação que eu gostaria de explorar aqui para reforçar o orgulho que todos nós, professores, devemos ter da nossa atuação - essa tão nobre arte de formar pessoas para a vida.

Não há a menor sombra de dúvida sobre o fato de que o professor que lida com crianças sabe muito bem como é esse período da vida em que existe um universo inteiro a se descortinar. Um período em que há um corpo todo na efervescência de seu desenvolvimento. Isso sem contar as infindáveis condições de se desenvolverem ou fortalecerem valores, conhecimentos e práticas que vão ajudar a formar a mulher, o homem, o cidadão... a pessoa. Mais interessante ainda é que nesse processo, o professor também se forma, recicla-se, renova-se, vê-se de novo uma criança pela prática da empatia.

De igual modo, assim como seu dia está ligado ao das Crianças, também está diretamente relacionado ao de Nossa Senhora, na medida em que, na imanência do seu trabalho cotidiano, ele não pode perder de vista a dimensão do transcendente, que ora é alívio, ora é apoio, ora é a sustentação da esperança de que sempre vale a pena investir no ser humano, sempre vale a pena investir em si como humano. Nesse sentido, que todas as formas imanentes e transcendentes venham a nosso favor, a fim de que possamos retribuir a arte de viver cada dia professando.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Entre o olhar e o ver



Há poucos dias publiquei no Instagram e no Facebook a imagem acima, à qual juntei um pequeno texto que dizia: "olhar a vida é assim como numa foto - podemos ver o que brilha, o que tira o brilho ou o que está no meio. Com o texto, pretendi apenas lembrar que a opção de olhar é nossa, uma vez que podemos direcionar o foco do nosso olho para onde quisermos. No entanto, as coisas que olhamos são o que entra pelos nossos olhos, mas elas não são necessariamente as coisas que vemos, isto é, não são aquilo que interpretamos. Há algo entre o olhar e o ver.

Se, por um lado, temos a liberdade para olhar para qualquer coisa que esteja ao alcance das possibilidades da nossa visão, por outro somos limitados em nossa interpretação. Isso porque diversos aspectos de natureza emocional, e sociocultural podem condicionar a interpretação que damos para o que vemos. Quem convencerá uma criança de que a sombra de um galho em sua parede não é o sinal da presença de um monstro nas redondezas de sua cama? Quem convencerá uma pessoa previamente desconfiada de que o que ela acha que é pode não ser?

Que mistério terão as coisas? Ecoa-me aqui na mente o verso de Fernando Pessoa (na verdade, do seu heterônimo Alberto Caeiro) no poema "O guardador de rebanhos": o único sentido oculto das coisas é que elas não têm sentido oculto algum. As coisas não têm significação; elas têm existência". Nós é que lhes atribuímos os significados e os sentidos. Assim, limitados e fortemente pressionados por nossas crenças, emoções etc., somos levados ao pior dos erros: julgar como realidade aquilo que é apenas o que achamos. Dessa forma, as coisas deixam de ser elas mesmas para serem o que achamos que são. A partir daí, sempre as veremos como queremos e não como são.

Brincamos de Deus e resolvemos dar vida para o que era apenas uma coisa. Um fato mal interpretado, mal visto, passa a guiar todas as nossas atitudes quando olhamos torto, enxergamos obliquamente e nos damos o direito de pensar como Parmênides, filósofo pré-socrático que dizia: "o que é, é; o que não é, não é nem pode vir a ser". Em tempos de modernidade líquida (Zygmunt Bauman), essa ideia soa até engraçada - para dizer o mínimo. Na foto que publiquei, fará toda diferença olhar para o que brilha, para o que tira o brilho ou para o que está no meio. Na vida também.

sábado, 5 de outubro de 2019

Superação sempre


"Quero toda essa vontade de passar dos seus limites e ir além" é um dos versos mais bonitos entre todos os que Ivan Lins já compôs. A vontade de superar os limites é um desejo que deve ser alimentado por todos, desde que se entenda por limite um ponto máximo a que alguém pensa ter ido. Seja no âmbito pessoal, seja no interpessoal; seja na vida escolar, seja na vida profissional; independentemente de ser para curto, para médio ou para longo prazo - seja onde, como, quando e quanto for, o sentimento de superação é um dos mais agradáveis que podemos ter na vida.

O que o torna agradável é a liberação de dopamina no cérebro, uma substância que nos desperta a sensação de querer passar por algo de novo; trata-se da sensação de prazer e de satisfação. Muitos sentem isso em atividades físicas, intelectuais, artísticas. Muitos o sentem quando recebem reforços positivos, elogios e reconhecimento em geral. Outros tantos sentem isso quando se colocam um limite e o superam. Às vezes conseguem sozinhos; às vezes, com ajuda de alguém, mas sempre em busca de um "desenvolvimento proximal". Em busca do próximo degrau.

Um dia ter acreditado que não conseguiria correr nem dois quilômetros e hoje ter a certeza de que consigo correr uma prova de rua como a São Silvestre (15km) é uma sensação absolutamente reconfortante. Ver minhas filhas tímidas sentido-se à vontade no palco de um teatro; ver minha esposa nadando e mergulhando depois de superar um trauma de infância; ver meus alunos aprendendo, tempos depois de terem me confessado que não acreditavam mais em si... são fatos que me fazem querer "toda essa vontade de passar dos meus limites e ir além".

Todos nós deveríamos ter um limite a superar: uma reação emocional negativa; um hábito prejudicial que pode minar a saúde; uma deficiência na aprendizagem de determinado conteúdo; uma prática esportiva (como a da foto acima) até então impensável; um problema de relacionamento antigo; uma língua estrangeira a ser dominada; um sonho que pode deixar de ser impossível. Para tanto, é preciso alimentar a vontade de passar dos próprios limites e ir além.



quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Saber olhar

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"Olho e não vejo nada" é um verso da música "Ando meio desligado", cantada pela Rita Lee - tanto recentemente quanto na época de sua banda inicial, os Mutantes. Muito interessante notar que existe diferença entre olhar e ver. Mais interessante ainda é a possibilidade que todos temos de olhar para tudo que estiver ao nosso alcance e vermos apenas aquilo que podemos ver - quando olhamos.

Isso me lembra o famoso versículo que se encontra na Carta de Paulo aos Coríntios, na qual ele diz "agora vemos em parte". E de fato, sempre vemos em parte. É claro que ele dizia que só veríamos plenamente quando estivéssemos na outra dimensão da vida - a eterna. No entanto, nesta vida terrena, material e circunscrita às nossas limitações, sempre vemos em parte.

Muitas vezes não vemos a realidade em sua inteireza por conta de problemas ligados à visão (ao olho especificamente ou ao nervo ótico - que conduz ao cérebro os estímulos captados por nossos olhos). Mas em outras oportunidades, mesmo desfrutando de visão perfeita, acabamos vendo de modo defeituoso, parcial, limitado. Isso se dá porque entre os que os nossos olhos captam e o que o cérebro interpreta tem um longo caminho, que está ligado às crenças, às expectativas, às emoções e a tantas outras variáveis, que só comprovam o quão complexo e delicado é o ato de olhar.

Em meio às limitações que nossa condição nos impõe, há coisas boas. Podemos nos educar a olhar para ver mais e para ver melhor. Temos a possibilidade de selecionar e de direcionar a atenção para o que queremos ver. Nesse sentido, entre o que me faz bem e o que não me faz, eu posso escolher. Entre o que me traz esperança e o que me limita, eu posso escolher. Não significa ignorar a existência do que não é bom, mas dar às coisas a atenção que lhes é merecida, conforme o bem o mal que podem despertar em mim. Para certas coisas, eu olho e não vejo nada ou vejo de forma diferente. E, em outras, nas quais muitos não veem nada, eu fixo o meu olhar.