"Scrivimi, poca voglia di parlare allora, scrivimi" é um bonito verso de Nino Buonocuore, na música Scrivimi, que trata de uma relação em que alguma forma de distanciamento impede a possibilidade de diálogo frente a frente. Daí, entre vários outros, o pedido para que se escreva quando houver pouca disposição para falar. Isso me faz pensar na baixa qualidade de gerenciamento de relações. Me faz pensar no silêncio e na página branca como resposta.
Muitos de nós certamente já passamos por isso. Experimentando, muito provavelmente, os dois lados: seja dando o silêncio e a página em branco como resposta; seja recebendo como resposta a página em branco e o silêncio. É claro que o silêncio é, muitas vezes, uma demonstração de sapiência, como tenta provar o Eckart Tolle, em O Poder do Silêncio. Mas também pode ser sinal de falta de educação, de indelicadeza mesmo, de indiferença até.
Tem um outro lado a se considerar nisso. O lado que é o mesmo lado nosso. Nosso interior. Quando jogamos perguntas para dentro. E, para nossa surpresa, ouvimos como resposta apenas o eco dos nossos questionamentos. Tem coisa que não é para ser perguntada nem respondida por outro, senão por nós mesmos. Não é um divã, uma poltrona ou uma cama que vai favorecer uma resposta límpida.
Sócrates praticava com seus alunos, nas suas magnas aulas peripatéticas, a maiêutica - um método pelo qual fazia seus alunos perceberem que a resposta para a qual se dirigiam estava dentro deles mesmos. Como um efeito bumerangue, a pergunta era recebida (e respondida) por quem a havia lançado. Quase 2500 anos se passaram desde Sócrates. E continuamos fazendo perguntas para nós mesmos. Vendo páginas em branco. Ouvindo ecos mudos.
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