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terça-feira, 16 de julho de 2013

Cimento e lágrima

"Subiu na construção como se fosse máquina. Ergueu no patamar quatro paredes sólidas. Tijolo com tijolo num desenho mágico. Seus olhos embotados de cimento e lágrima" são conhecidos versos da música Construção, de Chico Buarque. Mais uma de suas obras primas. Importante notar o tamanho dos versos: todos têm 12 sílabas poéticas. Importante também notar cada palavra final: são todas proparoxítonas. Em termos de poesia, isso é construção rara.

O tamanho regular dos versos e a posição regular da sílaba tônica de cada última palavra parece atribuir monotonia à música. Mas a trama contada não confirma isso. O trecho a que me referi trata especificamente do trabalho do personagem que, como máquina, tijolo por tijolo, perfeitamente, ergue quatro paredes sólidas; já como homem, embota seus olhos com cimento e lágrimas.

Esta semana está sendo de recados importantes para pessoas que se entregam mais ao trabalho do que à vida. Eu, por exemplo. Tomada pelo agravamento de uma hérnia lombar, além de outros problemas físicos menores, mas não menos doloridos, uma amiga minha foi proibida de continuar trabalhando. O trabalho em excesso provocou esses problemas e os agravava a cada dia. Consciente disso, ela optou por não diminuir sua carga. A vida tomou outra medida.

Amanhã, um grande amigo meu, médico, diabético (a quem já me referi aqui) passará pela amputação de meia perna, em razão do agravamento de um pequeno ferimento que começou há dois meses. Retardou o tratamento para não atrasar o trabalho. Tomou esta medida conscientemente. A vida conduziu à outra opção. Absolutamente triste com os dois fatos, peço a Deus pelos meus amigos e começo a escutar o recado da vida para não embotar meus olhos com cimento e lágrima.


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