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terça-feira, 26 de março de 2013

Urgência dos outros

Estava irritado o meu amigo naquele dia. Cara fechada, boca que só não ia mais pra frente por falta de elasticidade dos lábios. Parecia ter uma sobrancelha só, de tanto que uma se lançava contra a outra como se  quisessem se desafiar a ponto de uma expulsar a outra do rosto do meu camarada. Dos olhos parecia que sairiam faíscas se alguém tocasse naquele assunto que consumia todo o seu humor.

Fiquei na minha. Aguardando que ele saísse do seu transe. Para esse estado de espírito, os antigos usavam a palavra enfezado, para ilustrar justamente o estado em que se encontra a pessoa que está tão incomodada, que parece estar envolvida em fezes. Daí o nome enfezado. Se eu falasse isso pra ele, ele seria bem capaz de me ofender e me mandar para onde eu não quereria ir.

- Meu! - disse ele retornando à vida - Essas pessoas não têm o mínimo de respeito com a gente, viu?

- Que pessoas, FG? Do que você está falando, rapaz?

- Uma fulana hoje, ah cretina!!

Quando FG se referia assim às pessoas, era sinal de que a coisa tinha saído de seu controle. Porque ele normalmente é um sujeito tranquilo. Até quando está muito nervoso, toma o cuidado de, ao usar uma palavra forte demais, referir-se ao fato e não à pessoa. Continuou ele, esbravejando:

- Aquela incompetente do caramba ficou folgando o dia todo, com tititi pra cá, tititi pra lá, nhem nhem nhem daqui, nhem nhem nhem dali, e no fim do dia, bem no fim, me mandou uns relatórios pra eu ver. Coisa que ela tinha de ter mandado ainda de manhã. Aquela... - preferiu respirar e socar a mesa. De leve, mas socou, que eu vi. Nossa taça de chope até tremeu.

- E ainda veio me cobrar pra eu andar rápido, rapaz! Olha que atrevida!!! - claro que elogiou a mãe da moça...

- Que que você fez, então?

- Tive dúvida, não. Passei a mão no teclado e mandei logo um e-mail pra ela, com cópia pro supervisor. Falei do tempo, dos prazos, do tamanho dos relatórios, da importância de uma leitura atenta e responsável que eu faço questão de fazer. Falei de tudo, que era pra aquela... pra aquela (pensou, pensou e, sem escolher direito, continuou) pra aquela incapaz aprender a fazer o negócio certo!

Pensei comigo que FG estava coberto de razão. Tem gente que não tem a menor noção e é capaz de achar que o mundo gira em torno de si; pessoas que acham que tudo se encerra onde chega o nariz delas; gentinha incapaz de enxergar o outro - ou quando enxerga, é pra achar que o outro está a seu serviço. Nada, porém, que eu disse aqui, já contaminado pela indignação do meu amigo, resume melhor do que a frase que ele utilizou para encerrar o e-mail que mandou para aquela sua companheira de trabalho. Disse:

- Evite ser vítima da urgência para não envolver outras pessoas numa urgência que é só sua.


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