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segunda-feira, 18 de março de 2013

Sempre nos falta algo

Uma figura esse FG. Ele sabe que eu estou ali na padaria, mais ou menos no mesmo horário, quase todo domingo, tomando um café, folheando algum jornal e vendo muita gente passar, vendo muito tempo passar. Tal não foi minha surpresa, quando me deparei com ele entrando ofegante na padaria e quase atropelando um velhinho de boina que, com o susto, deixou cair seus pães.

Desculpou-se o meu amigo. Gentil, fez questão de comprar outros pães e repor a perda que provocara. O velhinho pegou o pacote novo de pães do jeito que recebeu. E se mandou enraivecido. Resolvido o incidente, FG veio até mim, me abraçou, deu risada dos pães derrubados e, depois de algumas perguntas pró-forma, cuja resposta não interessava, fez um esforço para se lembrar de algo. Grande esforço, por sinal, dado o tamanho do ponto de interrogação que se desenhou em seu rosto. Era tanto, que parecia estar dividindo 268 por 13. E sem calculadora. De repente, lembrou-se e, como mágica, toda aquela interrogação caiu, como os pães. Jogou a interrogação para mim:

- Ever (era assim que ele me chamava), tava tentando lembrar uma palavra pra te perguntar já faz tempo, sabe? Que negócio significa a palavra fugaz?

- Ô, meu! De onde vem essa dúvida? - eu quis saber.

- Sei lá, cara. Com o tempo, aprendi a gostar de música e ficar olhando a letra. Daí, tava ouvindo uma música no rádio. Gostei. O radialista falou que chamava fugaz. Gravei o nome pra baixar na net, né? Depois veio outra música: Lulu Santos. E o radialista: fugaz. Já achei que o cara tinha se embananado todo porque deu o mesmo nome pra duas músicas diferentes. Aí, rapaz, quando fui baixar as duas na net em casa, vi que uma era com dois L e S no final, e a outra (que doideira) era sem L, e com Z no final. Fiquei cabreiro. Não pensei duas vezes: domingão eu tiro essa dúvida.

- Você tem bom gosto, FG. Seguinte: a gente fala que alguma coisa é fugaz quando ela dura pouco. Acaba rápido. - Mandei uma comparação pra facilitar -. Igual a vida do pãozinho que você derrubou aqui. Durou menos do que deveria. Ele teve uma vida fugaz.

A dúvida ia crescendo no rosto dele. Senti isso principalmente quando ele desviou seu olhar do meu, e o fez passar pela parede da padaria, atingir a parte externa, e dali se perder na imensidão do céu. Mas, aos poucos, sua consciência voltou. E assim que voltou, ele expressou sua conclusão:

- Ahnnn...

- Ahnnn o quê, rapaz?

- É igual quando eu gostava pra caramba daquele carro?

Aí fui eu quem disse seu característico "Ahnnn"?

- Se liga. Eu era vidrado no carro. Fiz um esforço danado pra comprar o bicho. Quase chorei de emoção quando saí com ele da loja. Morria de orgulho das pessoas me verem com ele. Adorava entrar nele, dirigir até cansar. Ia até devagarzinho pros lugares, só pra poder estar mais tempo nele, curtir ele e tal. Nem que fosse pro lugar mais perto de casa, eu ia com ele. Deixava ele sempre limpinho. Comprava presente pra ele: cera, gasosa aditivada, cheirinho, adesivo e o caramba. Aí, não passou três meses e eu já não via mais graça no carro. É isso, Ever?

- É isso, FG! - reforcei -. Lembra quando você comprou seu DVD? Você me falou que ia passar todo domingo vendo filme, show, documentário etc. Alugava um filme atrás do outro. Depois passou a comprar os filmes. E estava lá, firme com o DVD. Se divertiu um tanto com ele. Mas, logo depois de alguns meses, aposentou o coitado, para assistir as suas coisas pelo computador, on line.

- Ah, Ever. Mas o banco do carro começou a me dar dor nas costas. E os filmes no computador, eu não precisava sair de casa.

- Não, não. Não to te julgando, não, rapaz. So to te explicando que sua paixão pelo carro e sua paixão pelo DVD foram um bom exemplo do que é fugaz.

Antes que ele pudesse replicar o que eu falei, seus olhos se depararam com o velhinho dos pães caídos entrando na padaria. Ele tinha cara de poucos amigos. Com uma frase lacônica, ele encerrou nossa conversa:

- Ó! Tava faltando um pão!

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