Valeu a visita!

Daqui pra frente, divirta-se trocando ideias comigo.
Conheça meu outro blog: http://everblogramatica.blogspot.com.br

sábado, 30 de março de 2013

Sob controle

Era difícil ver FG impaciente. Fora de si, então, bravo feito um bicho, esbravejando como um sargento irritado, isso era quase impossível. Sempre muito controlado, ele parecia não ter sistema nervoso; parecia, sim, ter sistema "calmo". Achava que ele fosse o sujeito mais calmo do mundo, a pessoa mais calma que eu já tivesse visto em toda minha vida.

Mas, para minha total surpresa, tem um tio dele que chegou a recomendar que FG procurasse um spa, que tomasse ginseng, que procurasse dormir mais e que, pasme-se: que tentasse dormir mais para, quem sabe assim, conseguir se manter tranquilo, porque para ele tudo indicava que seu sobrinho andava esquentadinho, irritadiço. A continuar daquele jeito, não dava outra, poderia infartar.

FG me contou que esse tio dele jogava futebol de vez em quando. E que usava o futebol para, digamos, extravasar  para botar pra fora sua raiva supostamente contida, sua revolta, sua indignação. Teve um dia até (um domingo que o chamado dia do atleta de fim de semana) que o famoso tio achou ter exagerado em campo e batido muito nos adversários, desrespeitado, vilipendiado, xingado mesmo. E achou que foi tanto, que ao final do jogo, embebido em litros e litros de vergonha, foi pedir desculpas a um por um dos jogadores adversários. Quase unanimemente, segundo conta FG, os jogadores responderam que sequer haviam reparado nervosismo nele. Disseram mais: que ele, extremamente nervoso, é igualzinho a cada um deles dentro de sua mais perfeita tranquilidade.

Contou também da vez que, ao voltar do futebol, cansado e já distraído (meu Deus! imagine-se distraído um homem que é mais calmo que vento em lugar fechado) vinha dirigindo. Naturalmente, naquele estradão, que mais parecia um colchão para os pneus de seu carro e para os pneus de seu abdômen, acabou cedendo.     Dai, o resultado não podia ser outro: bateu, ainda que de leve, no carro de outro motorista. Assim que percebeu o choque, despertou, olhando para a cena, lamentou-se e disse:

- Caramba, vou perder o jogo de hoje da TV...

Não, não é de se exagerar, como o pessoal faz, dizendo que o tio do FG é como aquele baiano que deitado na rede com um dos pés no chão, avista ao longe uma tartaruga quase cega de tão velha vindo em sua direção e já toma logo providência: pergunta pra mãe se ela tem remédio contra mordida de tartaruga...

Se não se pode exagerar por um lado, por outro pode-se confirmar que ele adoeceu. Já avançado em idade, uma coisinha daqui foi agravando outra ali, um órgão comprometido aqui foi prejudicando outro ali, e assim foi até que perceberam que ele precisava de um médico. E assim foi: enfraqueceu tanto, que teve de ir ao hospital, onde ficou muito tempo até se recuperar. E pensa que ele estava preocupado? Nada.

Em uma das vezes, que foi quando o conheci ao acompanhar FG em uma visita ao querido tio, conversamos um pouco. Se bem que qualquer pouco com ele é muito, porque às vezes ele demora tanto para responder, que quando responde eu a gente já nem se lembra do que havia perguntado. Foi numa dessas perguntas que eu quis saber como é que ele realmente estava. Ele me respondeu, com toda calma do mundo:

- Olhe, nada que esteja sob controle.

Nenhum comentário:

Postar um comentário