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sexta-feira, 22 de março de 2013

Nossas necessidades

- Meu! Dá uma olhada, cara! Dá uma olhada. Não. Uma só, vai?! Escolhe uma mesa qualquer desse bar, qualquer uma, não precisa nem ser as com mulher bonita. Tenta contar quantas estão segurando o celular e quantas não estão. Vai?! Conta? Pode ver: as que não estão com os celulares na mão, tão com o danado na mesa. Aproveita e olha um pouco mais pra ver quantas não olham pro celular e tocam nele procurando uma mensagem, um e-mail, um post, um twit ou um like.

- Ô, tá por dentro em FG?! - incentivou um amigo, dentre os mais novos que estavam ali com a gente. Mas é isso mesmo, meu amigo. O problema é que o que está na na mão daquelas mulheres é tanta coisa... é calculadora, agenda telefônica, agenda de compromisso, bloco de anotações, rádio, gravador, computador que roda Office e acessa as redes sociais, é calculadora, GPS, televisão, dicionário, é jogo, é biblioteca, audioteca, é videoteca. Na verdade, só de vez enquanto é que esses aparelhos funcionam como telefone.

Enquanto esse amigo se preparava para tomar do chope um gole da caneca que já estava segura  por ele no ar, FG tomou a palavra, porque julgou importante contar uma experiência pessoal pra ilustrar o que chama de dependência absurda que as pessoas têm do telefone celular. Antes, porém, fez questão de marcar seu território:

- Eu acho um desrespeito o que essas pessoas fazem - falou enquanto passava a mão sobre seu próprio celular na mesa. Mano! Mesmo estando a poucos metros de distância, as pessoas preferem mandar mensagem do que telefonar ou do que se aproximar de verdade. Pode ver, quando um carro para no farol. Se for uma família grande dentro desse carro, pelo menos metade das pessoas estará com o telefone à mão. Não, eu mesmo, ó: ...  - E ia meu amigo introduzir seu relato de experiência:

- Não, eu mesmo, inclusive aqui nesse bar, uma vez tava uma vontade danada de ir no banheiro e precisava ir, rapaz. Tinha tomado chope demais. Me levantei, rapaz, no limite do meu limite de suportar aquele aperto, e fui procurar um banheiro. Cara, era a conta certa de tempo: eram dois espaços em sintonia: o que faltava para minha bexiga explodir e o espaço que faltava para eu chegar no banheiro.

- Outro amigo, que acompanhava atentamente, como todos nós,  a narrativa de  FG, tomou a palavras  interveio para falar com um certo tom de inteligência aprisionada:

- Cara, nas horas de mais aperto, como essa que o FG está contando, o limite parece o máximo dos máximos pra gente aguentar justamente quando a nossa casa está próxima, não é?

Nisso, outro amigo já emendou histórias, por exemplo, da filha dele que já subia o elevador desatando o cinto, já entrava em casa desabotoando a calça e já entrava no banheiro com a roupa já a postos. - todo mundo riu, talvez por identificação, talvez pelo reconhecimento da graça da situação mesmo. Mas, logo a seguir, FG tomou a palavra e lembrou:

- Então, meu! Como eu tava contando - falou com um certo ar de irritação... Foi nesse bar aqui mesmo. Eu tava indo pro banheiro, mais rápido que o pensamento... já estava chegando lá, já com a mão na maçaneta, girando a dita cuja, quando percebi que uma mão estava na maçaneta, outra estava fechada, igual mão de cara pão-duro: daqueles que mergulha numa piscina com uma aspirina na mão, e ela chega seca, intacta do lado de lá. Era assim que estava uma das minhas mãos. Mas, peraí, pensei: cadê meu celular?

FG disse que tinha tirado a mão da maçaneta para apalpar os próprios bolsos à procura de algum vestígio do seu telefone celular. E nada. Pensou então que alguém poderia telefonar para ele ali, naquela hora, ou mandar uma mensagem importante. E se isso acontecesse e ele estivesse sem o celular? Mais: e se os outros amigos da mesa resolvessem vasculhar o telefone ali esquecido e fuçar até encontrar fotografias indevidas, cartões comprometedores e outras coisas? Não teve dúvidas o meu amigo. Continuou seu relato:

- Voltei correndo da porta do banheiro. Vim que vim, derrubando bandeja de garçon, tropeçando em quina de mesa deixando a perna mais roxa que hortênsias de Gramado; voltei como um relâmpago, um tiro. Capturei o ingrato do celular e deixei ele junto comigo, que é de onde nunca devia ter saido. E dalí, rapaz, dali, rumei de volta pro banheiro.

Nossa ansiedade era grande para saber o fim daquela história hilariante.

- Mano, nem liguei que eu tava num bar. Corri pro banheiro igualzinho à filha dele: desatando o cinto e abrindo a calça. Por sorte, meu, quando eu já tava sentido extravasar, cheguei na porta do banheiro e, graças a Deus, não tinha ninguém pra entrar comigo. Pensei, "putz! que alívio!!" Agora vai... poderia relaxar toda a gostosura que é desapertar-se de uma situação dessas. Mas quando eu levantei a cabeça procurando uma porta aberta... nada! um mictório vazio... nada. Aí, rapaz, o desespero foi grande.

A gente já estava morrendo de rir, quando ele completou.

- Rapaz! Tive dúvida não: já cheguei chegando num camarada que usava um dos mictórios e comecei botar pra fora aquele aguaceiro todo, que já ia batizando o chão, a perna do cara e tudo que estava pela frente. Lógico: o cara ficou tão puto comigo que me deu um empurrão, mas um empurrão tão forte que meu telefone foi mergulhar no poço de ureia que preenchia o mictório vizinho. Dali de onde eu tava, eu só pude ver os iconezinhos por baixo daquela superfície amarela. E pelo que vi, ninguém tinha ligado ou mandado mensagem. 

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