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sexta-feira, 29 de março de 2013

De rastros e lembranças

A discussão acalorada que havíamos tido outro dia no bar e que levou FG a dizer uma das coisas mais marcantes dos últimos tempos ainda ecoava na nossa cabeça, tal foi sua força, sua intensidade, sua contundência. O que ele disse sobre o silêncio do espaço onde tudo explode sem que se possamos ouvir o mínimo barulho ainda calava em cada um de nós.

Tomávamos um café no shopping, sentados em uma mesa dessas de muito pouco espaço que há nessas lojas estrangeiras de café. O ângulo em que estávamos sentados permitia-nos ver uma loja de perfumes, que deixam a gente com a impressão de estar no paraíso.

- Ever, como é bom passar na frente dessas lojas de perfume, cara. Olha, se só passar na frente delas já é ótimo, entrar, então, é uma tentação! Não dá nem vontade de sair. Ainda bem que daqui a pouco a gente vai lá comprar os presentes das mães. E é bem isso, né, Ever: pra mulher (e ainda mais pra mãe), na dúvida se deve comprar perfume.

Perfume é uma coisa boa mesmo para dar e para receber como presente. A meu ver, se, por um lado, ele é uma maneira de enfeitar o momento presente - porque funciona para o tempo presente como uma forma de enfeite, de adereço da pessoa; por outro lado, o uso de um perfume pode trazer efeitos benéficos que só serão colhidos muito adiante. Por exemplo, um coração já meio apaixonado pode acabar de se entregar a uma paixão, se estiver bem motivado pela fragrância que enreda o sujeito.

- Cara, ce deve ser muito doido, meu. É só um perfume, Ever! Que viagem é essa? Pra você parece que tudo tem que ser interpretado, meu! Dá licença, viu? Dá um tempo, meu! Até parece que você esquece daquele poeta que você me falou outro dia, como era? o... Roberto... alguma coisa... Roberto... como é?, caramba?, Roberto Carneiro, Caseiro, putz!, como é o nome dele?

- Sei, não, FG. Por esse nome aí, eu não sei quem é, não.

- Cê me decepciona, viu, Ever! Me decepciona! Aquele poeta, rapaz! Aquele, como é que você não lembra? Foi você que me falou dele! Eu tenho certeza!

- Mas o que foi que eu falei dele?

- Eita, meu Deus... o homem tá com amnésia... Pois você falou que esse poeta aí, o Roberto Carneiro, falava que não tinha mistério nenhum nas coisas, e que o único mistério das coisas é elas não terem mistério algum.

- Alberto Caeiro!

- Que seja, Ever, é tudo igual!

- ...

- E depois, vale mais saber a poesia do cara do que decorar o nome dele.

Tinha lá razão o meu amigo: só saber o nome do poeta sem saber o que ele diz é pouco produtivo.

- Mas, cê sabe, Ever, cê falou aí que os perfumes podem fazer melhorar o presente e o futuro, né? Mas eu acho sabe o que mais?

- Não FG, diga aí, por favor...

- Olha, eu acho que os perfumes levam a gente é pra o passado, porque quantas pessoas e quantos acontecimentos, ou quantas pessoas ligadas a quantos acontecimentos não estão ligadas por meio de um perfume? Pra mim, os perfumes são igual portas pras coisas do passado.

- Verdade, FG. Às vezes, só de uma pessoa passar com seu perfume característico, o rastro que aquele cheiro deixa funciona como escavadeira de sentimentos e sensações. O aroma liga a danada da escavadeira e começa a colocar pra fora coisas que estavam tão bem guardadas...

- Isso tem a ver com o espaço, viu, Ever?

- Sério? - perguntei verdadeiramente curioso.

- É. Sério. Do mesmo jeito que um feiche de luz, que a gente vê hoje no céu, é um rastro de luz de coisas que aconteceram há muito, muito tempo lá em cima; do mesmo modo, as coisas que vêm à tona na nossa memória hoje são só rastros de coisas que já aconteceram com a gente há bastante tempo.

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