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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Remando e rumando




Não chego em casa hoje com as mãos na cabeça; mas Camões na cabeça. Especialmente em seus versos "Olhai de que esperanças me mantenho. Vede que perigosas esperanças, que não temo contrastes nem mudanças, andando em bravo mar, perdido o lenho". Trata do sujeito que se reconhece em meio a um mar bravio e sem remo, a esmo, lançado mais ao sabor das águas do que de dos próprios direcionamentos que ele mesmo pode dar.

Ora ensopado de esperança que lhe faz recorrer aos próprios braços para se locomover sobre as ondas e se proteger de eventuais tempestades, ora encharcado pelas lágrimas que resultam da luta da derrota contra a vitória, continua a se mover e a ser movido de um lado para outro, sem noção de seu destino, mas fazendo aquilo que sua razão ou seu instinto - e às vezes a confusão dos dois - o orientam a fazer.

Essas palavras me fazem lembrar de uma das leituras mais emocionantes que fiz com meus alunos. À época, eram alunos de 5º ano. Li com eles o livro do Amyr Klink: "Cem dias entre céu e mar", no qual o autor relata sua travessia de barco a remo, de Portugal ao Brasil.Tinha ninguém com quem ele pudesse contar. Era ele e Deus. Tudo que ele tinha era sua experiência com o mar e seus conhecimentos do mar e, sobretudo, de navegação.

Mas nem todo mundo tem um Amyr Klink dentro de si e não pode contar com muito mais do que um pouco de força e muito de sorte. Assim, com os (muitos ou poucos) recursos que tem à disposição, somados à ajuda que pode vir daqui e dali, o náufrago segue. Se não tiver conhecimentos de orientação espacial na água, estará remando. Apenas. Ou melhor: estará rumando. Apenas. E como diria Drummond: "José, pra onde?"

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