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domingo, 19 de outubro de 2014

Falta (in)finita




Todo falante de Língua Portuguesa, com conhecimento mediano sobre sua língua e, portanto, com um domínio relativo sobre o conjunto de palavras que a formam, sabe - por pesquisa ou por ouvir falar - que apenas a nossa língua tem a palavra "saudades". E não são muitos os que se orgulham disso. Mas em toda língua sempre há uma série de palavras que não encontram similares em outras.

Lenine, cantando "Meio Almodovar" com Juca Novais (autor da música), apresenta um verso muito bonito e que dá uma visão muito interessante (embora não nova) visão sobre a falta. Ou sobre as saudades. "Eu morro de saudades do que não aconteceu". http://letras.mus.br/lenine/1823264/ . Na literatura também se vê o tratamento da perda sob esta ótica. E é com um lusófono: Mia Couto. Se a falta do que se perdeu é algo já com que se lida com mais frequência, como lidar com a falta do que não aconteceu? Como lidar com o que não tem condição alguma de vir a acontecer?

Um claro exemplo do sentimento de falta daquilo que se perdeu, para mim, está na música  "Pedaço de mim", de Chico Buarque. Será possível descrever melhor a falta do que o modo como ele faz, ao dizer: "Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu... saudade dói latejada, assim como a fisgada no membro que já perdi" - em me pergunto: dá pra ser mais claro que isso? Acho pouco provável, então vale repetir: a falta dói latejada como uma fisgada no membro que já perdi.

Deve haver diferentes modos de lidar com a falta. Sim, porque a falta não é uma coisa só. Há diferentes faltas, não só como eu disse acima, mas como ainda direi. O que se faz quando ela é finita: ou se espera ou se vai em busca daquilo que falta - seja uma pessoa, uma coisa, um bicho, um objeto, uma ideia... Mas, e quando a falta é infinita? E quando não há a menor possibilidade de reaver o que se perdeu? Não sei se vale viver enlutado, ou se vale ir em busca de um sonho inalcançável - como fez Dom Quixote. Não sei. Neste caso, a resposta falta.

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