Ir além

Há muito tempo não tenho um domingo como este, assim produtivo em todos os sentidos: pessoais, familiares, profissionais... enfim, foi um domingo em que fiz tudo que gosto de fazer. Como já é tradicional, todos as manhãs de domingo sabem que irei ao Museu do Ipiranga me exercitar. E como sempre passo um bom tempo de alongamento antes de partir para meus cinco quilômetros entre caminhada e corrida.

E é bem este o ponto que quero abordar hoje. O Museu tem sido para mim um lugar muito útil. Ali tenho tomado decisões importantes ao pensar muito enquanto corro. Ali tenho fortalecido minha musculatura, bem como o funcionamento dos meus pulmões, do meu coração. Ali tenho feito leituras extremamente agradáveis. Só neste final de semana, entre o fim da tarde do sábado e a tarde de hoje, li "O Cavaleiro Inexistente", de Italo Calvino, além de ler a "Medeia" - uma tragédia grega, de Eurípedes. Simplesmente sensacionais. Me senti acrescido ao concluir ambas as leituras.

Me senti acrescido também ao final do treino desta manhã. Normalmente vou para bater 5km, dos quais estava habituado a intercalar um quilômetro andado para cada quilômetro corrido. Hoje cheguei lá querendo me aperfeiçoar em termos de resistência, para que eu possa correr no final do ano uma prova de 6km. Quis, em princípio, correr três km e andar dois. Mas não consegui: ao final do segundo quilômetro eu já estava bem consumido. Respirei fundo, me hidratei e de uma volta andando.O propósito passou a ser fazer a penúltima volta correndo e andar a última.

Mas quando estava concluindo o quarto, a 200m do final, decidi continuar correndo mais 500m e andar os últimos 500. Novamente me desafiei a ir mais longe e decidi concluir o percurso correndo. Dito e feito. Ao final, tinha feito 2km correndo, seguido de 1km andando, mais 2km correndo. Fui além do que eu imaginava suportar. Como raciocinou Medeia, eu teria dado uma de Sísifo, se não tivesse aceitado o desafio que impus a mim mesmo. Foi como se o Cavaleiro começasse a existir.