Criança faminta diante de um banquete. Aquela criança que há muito espera um presente e, não mais que de repente, se vê diante dele e de tudo que o envolve. Assim me senti hoje quando me aproximava do pé da Cordilheira dos Andes.
Eu, minhas filhas e o guia subimos de carro cada uma das 60 curvas que há entre a base e o topo das Cordilheiras. Logo no começo, se vê que o clima vai mudando à medida que se sobe. Deixamos Santiago com uma temperatura de 30 graus, para encontrar garoa no início da subida de onde corre um lago pequeno com o que seria água de neve - uma água predominantemente branca. Quanto mais se subia, mais caia a temperatura.
No meio do percurso, uma parada em um mirante natural: estarrecedor de tão bonito. O corpo ficou com inveja dos olhos e quis agucar-se: o ouvido tentou escutar o vento, a pele experimentava já uma temperatura beirando os 10 graus, o nariz engolia o cheiro da vegetação, e a boca degustava um manjar de natureza inigualável. Não teve jeito: de onde eu estava, fui subindo a pé a montanha, e via um universo de escancarando sob meus pés.
Voltei dali uns 20 minutos, para retomar o carro e concluir a subida dos 3.000m de altitude. 3 mil. Se no meio do caminho já estava frio, lá no alto do morro, o vento ainda mais gelado parecia querer congelar o corpo e a alma da gente. Depois de 2 chocolates quentes, me animei a subir a pé outro trecho de morro. Dali eu, com a respiração bastante ofegante, só escutava o barulho que meu corpo produzia - cada passo, cada respiração, cada batimento no peito. Sim, era o coração (o "cordis") e a Cordilheira em sintonia, tal qual um dia eu havia sonhado, um presente que eu quis ter.
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