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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Cede à sede




Gosto de um poema de Drummond em que ele diz:
"Gastei uma hora pensando em um verso 
que a pena não quer escrever. 
No entanto ele está cá dentro 
inquieto, vivo. 
Ele está cá dentro 
e não quer sair. 
Mas a poesia deste momento 
inunda minha vida inteira."

Ocorre com todos e é o que enfrento agora. Estou há quase uma hora diante do computador, a fim de publicar meu texto de hoje. Mas já fiz muitas coisas: li notícias, vi manchetes, respondi emails, olhei Fb etc., mas nada de eu conceber uma ideia sobre a qual escrever. Tanta coisa boa aconteceu neste dia, mas nada que me inspire tanto, a ponto de se transformar em texto que tenha introdução, desenvolvimento adequado e conclusão.

O horário avançado, seguido do cansaço por um dia em que não parei sequer 1 hora (e isso é literal) é, por certo, um dos motivos pelos quais nenhum tema me chama para escrever. Nenhuma ideia me seduz a ponto de eu querer escrever  um texto inteiro. Me sinto como aquelas pessoas impassiveis diante de qualquer estímulo, por mais convidativo que possa ser. Alguém que cede à sede diante do mar de água potável. Alguém que morre de fome diante de uma mesa farta posta para ele.

É preciso respeitar o momento em que a fonte começa a minguar. Isso me lembra Chico Buarque, que, interrogado sobre estar escrevendo romances, em vez de escrever canções - belíssimas como sempre -  deixou gravada justamente esta frase na mente: tem que aceitar que um dia a fonte seca. E é justamente isso que pode ir nos guiando para outras práticas: assim como ele migrou da canção para o romance, e de vez em quando aparece com canção nova e shows, também nós devemos aceitar o movimento natural de nossa memória e nosso coração. Essa harmonia é que vai nos trazer à tona o verso que despertará a poesia que já nos auxiliar a expor a poesia da vida inteira.


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