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domingo, 9 de novembro de 2014

Alegria triste



Chico César é um cantor que muito me encanta com seus versos bem escritos para melodias cativantes. A maneira como brinca com as palavras é fascinante para mim. Por exemplo, quando ele diz "A contenteza dos tristes, tristezura dos contentes". Vê-se claramente o conflito presente na coexistência dos sentimentos, como se ambos pegassem o microfone para cantar, cada um executando uma melodia melancólica simultaneamente a uma melodia festiva.

Era bem esse o sentimento que caracterizava (bem grosso modo) o homem barroco. Seus conflitos sempre aflorados se faziam ver nas palavras, nas esculturas, nas pinturas, nas canções e em tantas outas manifestações que se sintetizam claramente no discurso religioso, fervoroso de pregadores como Antônio Vieira, ou na poesia de Gregório de Mattos - dois autores cujos manuscritos eu pude conhecer e pesquisar com alguma profundidade.

Os alunos de terceiro ano do colégio onde trabalho vivem esse sentimento a partir de amanhã, quando começa a última semana de aula deles. Para muitos, como é o caso da minha filha, estará se rompendo um processo que começou desde o Infantil 2. Sim, é muito tempo. Desde antes do "pré" até o terceiro ano do médio. O sentimento que eles têm agora é similar ao de um homem barroco do século XVII - digno, portanto de um bom discurso retórico.

Por um lado, a contenteza dos tristes se alegra com o fato de ter vivido tantos anos, ter superado tantas etapas, ter experimentado dificuldades, feito muitas provas e chegado até aqui. Prontos para as últimas. Por outro lado, a tristezura dos contentes canta a melodia dos momentos de tanta alegria que vai se esgarçar, os amigos queridos cujo contato vai se perder ou rarear, os professores queridos que vão ficar para trás, as aulas, as provas, os trabalhos... tudo chega a um fim. Não ao fim.

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