Na maioria das vezes, a gente quer tudo. Quer abraçar o mundo com os pequenos braços que a natureza deu pra cada um de nós. Como bons adolescentes, nós acabamos achando que o mundo cabe em nossas mãos. Depois, chegados à idade e à vida adulta, vemos que o mundo é um tanto maior do que os nossos olhos poderiam ver. Igualzinho àqueles que achavam que o mundo acabava na linha do horizonte, no traço azul que parece separar o céu e o mar.
A gente precisa aprender a valorizar as porções, os pequenos pedaços, as pequenas vistas, os pequenos sabores. Sim: muita vezes um pouquinho de vinho do Porto é bem melhor do que se empanturrar de outra bebida alcoólica. Outras vezes, um pedaço de um doce gostoso é infinitamente melhor do que um quilo dele. Não é incomum também que a visão do mar ao longe, tomado da janela, é mais bonito do que o próprio mar com toda a sua agitação na areia. Sem dúvida é muito melhor sentir o sabor de um dos ingredientes no prato e distingui-lo dos demais, do que abocanhar insensivelmente um tanto dele mesmo.
Na vida também é assim. A duras penas aprendi a valorizar as pequenas porções de alegria do dia, em vez de ficar esperando que uma grande e incomensurável alegria viesse me visitar. Aprendi também que nem sempre (ou quase nunca) essas coisas vêm à nós, assim inconsequentemente. Logo vi que deve haver um movimento nosso na direção delas, por pouco que possam durar, por pequenas que sejam. Isso porque são alegrias, são sabores para a alma, são aromas para o espírito.
Cazuza cantava que o que lhe interessava eram as "pequenas porções de ilusão". Não importa de que sejam as porções: sejam de ilusões, sejam de doses de realidade; sejam de sabores ou de aromas; sejam de visões espetaculares, sejam de audições que acalentam o espírito; seja do que for - é preciso que valorizemos a importância das pequenas porções que, juntas, dão o todo da nossa alegria de ser, de estar e de viver.
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