Gosto do poema de Camões no qual ele defende a ideia de que tudo é composto por mudanças. Naquele poema, em sua visão de mundo desconcertado, ele acredita que as mudanças sejam predominantemente negativas: "Continuamente vemos novidades/ diferentes em tudo da esperança/ Do mal ficam as mágoas na lembrança/ E do bem, se algum houve, as saudades". Embora eu não seja tão pessimista quanto ele, devo reconhecer que há muita verdade naquilo que diz.
Mudança, para mim, particularmente é a principal característica daquilo que está vivo - desde entidades abstratas como as línguas, passando por ideologias, por seres inanimados e por seres animados, como nós. Animado é o aspecto daquilo que tem alma (do latim anima). Algumas coisas são mais resistentes e, por essa razão, demoram mais a mudar. Outras desejam (a seu modo) ser diferentes, mas o modo como desejam é frágil, pusilânime, incapaz de produzir a mudança supostamente pretendida.
Vejo alunos meus mudando seus hábitos de estudo, mudando seu estado cognitivo, mudando suas práticas, mudando até seu modo de falar, integrando à sua própria maneira de se expressar um pouco do meu jeito de falar e de pensar. Do mesmo modo, mudo constantemente em razão do meu contato diário com eles. E são centenas deles por ano, o que significa uma probabilidade enorme de eu ir absorvendo um pouco de cada um e me tornando em algo que nunca terá um ponto final.
Vejo minhas filhas mudando (moldando) seu modo de pensar, falar e agir. Em grande parte por influência dos amigos, dos professores, e também de nós, seus parentes mais próximos. Vejo-as assumir estratégias semelhantes às minhas para lidar com questões cotidianas. Vejo-as tocar instrumentos de um modo parecido com meu jeito de tocar. Neste final de semana tive o privilégio de receber delas o pedido para elas mudarem minha casa, começando pela sala. Não nos cansamos de contemplar o bem que fez para todos nós o fato de desejar e executar a mudança. Camões veria que há muitas mudanças para melhor.
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