Nos olhos dos outros

"São seus olhos" é uma resposta que pessoas mais tímidas, mais modestas, mais recatadas, costumam dar quando recebem algum elogio que julgam estar acima daquilo que realmente veem de si mesmas. E, de fato, muito da imagem que existe de nós mesmos está nos olhos das pessoas que olham para nós. Por certo, um tanto há que vem de nossos próprios olhos.Ou melhor, de algo anterior ao próprio olhar, porque temos uma concepção de certa forma arraigada daquilo que somos, pensamos e fazemos.

Os olhos dos outros, especialmente daqueles que nos amam e, sem a menor economia, direcionam para nós os mais ricos olhares, enxergam uma beleza que não costumamos ver. Pelo menos, não na dimensão que dão à nossa imagem. Por sua vez, os olhos dos que economizam tudo, mesmo quando estamos em altíssimo grau de esforço para aparentamos uma beleza além da natural, tendem a colocar na nossa frente uma lente de binóculo invertida, que nos apequena em tudo que somos, inclusive, no mínimo de belo que podemos aparentar.

Esse mesmo olhar econômico, que tende a nos apequenar, olha para os esforços que empreendemos e não consegue ver um genuíno desprender de energia em prol de um objetivo nobre que visa ao bem de si mesmo e dos outros. Visualiza os extremos da ponte: a escassez que deixa sempre em dívida; o excesso, que soa como anomalia. Por sua vez, o olhar não econômico, não precisa se fartar de visões de esforço para reconhecer nos gestos, palavras e atitudes, o empreendimento de energias positivas. Enxergam com leveza e gratidão cada pequena demonstração de interesse.

De fato, quando estamos diante de alguém (e sempre estamos, na presença ou na ausência) e podemos olhar nossa própria imagem em seus olhos, por certo vemos uma imagem distorcida. Isso porque, naturalmente, a curvatura dos olhos do outro nos entorta e nos emoldura ao seu formato. Mais: o tamanho dos olhos refletirá uma imagem normalmente pequena. Porém, o brilho natural do globo ocular e o esplendor da íris permitem que nos vejamos mais fulgurantes.