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sábado, 17 de maio de 2014

Ex-jardim



Um dia teve orvalho que banhava cada pétala de rosa colorida a rescender os mais puros aromas. Fragrâncias de existência passeavam por ali. Um monte de rosas enfileiradas em posição aleatória ao sabor do vento. Sob elas dançavam sombras contentes, sombras felizes por serem sombras de um movimento da vida que brotava a cada dia, bebendo a seiva e corando-se ao sol. Um belo jardim.

Um dia teve espinhos tão bem irrigados pela seiva interna e pelo orvalho externo que, embora não deixassem sua natureza  de espinho, não feriam como tais, não assustavam como tais, não rechaçavam o toque como tais, não arranhavam a mais tenra e macia pelo que com eles entrasse em contato. Eram espinhos que, como parte das rosas, serviam-lhes de adorno.

Um dia os ventos bateram menos do que costumavam e as rosas sentiram-se asfixiar e passaram a respirar ofegantes. Pouco tempo depois o sol passou a oscilar entre o calor escaldante e indiferença de uma tarde sem luz, embora não escura. Mais tarde um pouco, a seiva cansada não mais corria sob o jardim, e, quando o fazia, não mais beijava as raízes fazendo nascer-lhes sorrisos de gratidão.

Um dia as pétalas passaram a olhar para baixo; sua cor logo se confundia com a da terra, que, seca como o mais árido dos desertos, recebia incomodada o caule por cima e a raiz por baixo. Por sua vez os espinhos, fortes e cada vez mais pontiagudos feriam os pés que por eles passassem, assustavam os olhos que se atrevessem a mirá-los. As sombras já não dançavam por não contentes; o aroma não rescendia mais por não existente. Um dia foi jardim.

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