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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O adulto de fora e o de dentro



Eu e Milton Nascimento temos pouco em comum, bem pouco. O fato de nós dois sermos mineiros, a coloração de nossa pele. Eis aí as semelhanças que consigo enxergar entre mim e ele. Embora não decorra disso o gosto que tenho por suas músicas, há de minha parte grande identificação como as coisas que são cantadas por ele. Naturalmente refiro-me aos versos. "De um gente que ri quando dever chorar, e não vive: apenas aguenta" é um trecho que sempre me faz parar e ouvir com atenção.

Hoje, depois de sair da academia com a camisa literalmente ensopada, dirigi-me ao banho. Apenas porque gosto de cantar quando estou sozinho, coloquei-me a cantar sob a água fria que refrigerava meu corpo depois de uma hora de exercício. A música que me vinha à mente era "Bola de meia, bola de gude", na qual ele relata a existência de um menino dentro dele; um menino que estende a mão a cada vez que o adulto corre risco de cair.

"Toda vez que o adulto balança, ele vem pra me dar a mão". A cada vez que cantava esse verso, em minha mente passava uma letra de música silenciosa e de sentido diverso, chamando a minha atenção para o fato de que dentro de muita gente grande, em vez de um menino, há outro adulto; um adulto que não deixa cair, mas que também não deixa saltar. Incita o salto apresentando-o como um prato a um faminto e, no entanto, põe correntes nos pés, tão pesadas quanto a consciência de gente honesta quando mente.

Postos frente a frente numa batalha que, de tanto esforço, faz encharcar a camisa com suor e sangue; postos com o corpo incendiando sob as águas de um lago gelado, o menino e o adulto do Milton Nascimento, o adulto e o adulto que projetei impedem o avanço e se incomodam com a estagnação. E, assim, seguem os dias num movimento de "partida e chegada" que não leva nem traz a lugar algum, como "dois lados da mesma viagem".

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