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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A água e o gato escaldado



Todo mundo conhece ditados populares, principalmente porque eles têm a capacidade de resumir em poucas palavras uma situação de alta complexidade. Às vezes, com um humor que disfarça no riso a gravidade da situação. Às vezes, com uma gravidade que faz calar qualquer possibilidade de surgimento de algum riso. Entre tantos que povoam nosso secular cotidiano, penso aqui, por exemplo, naquele que diz que "gato escaldado tem medo de água fria".

Explicar ditado popular deve ser tão sem graça quanto explicar piada. Sem graça para quem explica. Sem graça para quem recebe a explicação, sobretudo, porque tem uma aura de obviedade que chega a ser irritante para ambos os lados. Vou, mesmo assim, me atrever (e já me desculpar) a explicar que escaldar significa queimar algo pelo efeito da água fervente. Por essa razão, se passar pela experiência de ser escaldado, qualquer gato passará a temer até água fria.

Tenho pensado nesses dias, principalmente considerando que a consciência dos meus 45 anos tem-me chegado com mais força, em como eu já deveria saber uma série de coisas. Não vou dar uma de Sócrates e dizer que "tudo que sei é que nada sei". Mas vou dar uma de mim mesmo e dizer que tenho vergonha de não saber algumas coisas, sobretudo, no que tange aos relacionamentos interpessoais e destes em relação aos contextos em que ocorrem. Já fiz muitas coisas que hoje eu teria algum receio de fazer, justamente para não me escaldar. Algumas coisas que me dão prazer, por exemplo, como cantar. 

Já desafinei bastante, já não achei o tom no qual deveria encaixar minha voz. Já perdi a hora de ir buscar minha filha de alguma festa em plena madrugada. Já não soube achar a razão para guiar meu discurso na hora em que faltam a paciência e o equilíbrio. Já quis deixar de estar em certas situações nas quais eu sempre quis estar. Em todas elas, tenho uma vontade imensa de obter algum sucesso. Entretanto, a água quente que me escaldou em situações anteriores libera um calor tão forte, que eu dou um passo para trás desconfiado, sem saber se o calor é da água ou da minha imaginação.

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