"Passado é um pé no chão e um sabiá. Presente é a porta aberta. E futuro é o que virá. Mas, e daí?" O franzino de corpo e imenso de qualidade artística Gonzaguinha canta esses versos na música Com a Perna no Mundo. Uma lição para a vida, para se mirar nos fatos que se dão à nossa frente e recolocar em pauta o que já passamos, o que estamos vivendo e o que havemos de viver.
É curioso como uma porta aberta realmente permite que possamos lançar nosso olhar tanto para ela, a porta, quanto para o que está depois dela e para o que está antes. Sabemos quem está diante da porta, quem já passou por ela e imaginamos quem poderá passar. Mais curioso ainda é que, ao exercitarmos esse tipo de olhar, podemos claramente vislumbrar o que está imediatamente diante dos olhos quanto o que está para trás dela. Podemos, dessa forma, não só ver o presente e o passado, como também criar expectativas que conduzam ao futuro aquilo que é presente ou passado.
Duas experiências hoje (e meu hoje é mesmo uma porta aberta) me fizeram lançar meu olhar para longe de mim. Na primeira vez, conversei com uma grande amiga com quem trabalho há mais de 10 anos e, agora licenciado, coloco em xeque minha volta. Quer dizer: entre um girar e outro do suco, entre um girar e outro do café, aquela porta aberta me fazia olhar o futuro. Dali, meus olhos corriam pelas pessoas e fatos que estariam ou deixariam de estar á frente da porta.
Já agora à noite, recebi de minha mãe uma fotografia intrigante que remexeu imagens que estavam localizadas para bem distante da "porta aberta". Era a foto da casa em que morei até meus 4 anos. Já faz 40 anos que eu sequer vejo aquela casa. Outros tantos anos que eu nem vislumbrava as pessoas que ficaram para trás. Engraçado que, lembranças, vozes, movimentos vinha junto com uma rajada de lembranças que precisaram ser interrompidos. De fato, o passado é "pé no chão e um sabiá": o pé nos conduz aos recônditos da memória nos quais ainda se ouve o canto do sabiá. "Mas, e daí?"
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