"Não tenho muito tempo. Tenho medo de ser um só. Tenho medo de ser só um alguém pra se lembrar", canta Fernandinha Takai, que eu adoro. Já a citei aqui em algumas oportunidades. Sua voz frágil e delicada, suas composições simples e aprofundadas... tantas coisas em que ela faz lembrar a Nara Leão... tudo isso me faz ter muito gosto ao ouvi-la. Tanto no Pato Fu, quanto em seus CDs solo, é sempre muito agradável.
Saía da casa da minha mãe hoje, onde sempre almoço dominicalmente. Depois de tudo, de conversar, almoçar, brincar com meu sobrinho, minha irmã e meu cunhado; depois de ver tios e primos, era preciso voltar pra casa. Afinal, o supermercado ainda me esperava e todas as obrigações normais de casa. Nos despedimos todos e nos desejamos ótimo final de semana. Boas lembranças deste dia.
Ao lado da casa da minha mãe funcionam alguns estabelecimentos comerciais. Dentre eles, um buffet infantil onde sempre tem festa. É assim todo domingo. Desta vez, enquanto passava à frente do buffet, notei um senhorzinho saindo do carro para a festa. Claramente ele não me viu nem viu que eu o vi. Vi a ele e suas rugas, vi as manchas depositadas em seu rosto, vi a dificuldade de seus movimentos, apoiando-se com cuidado e, visivelmente, com dor.
Achei muito bonito. Nada daquilo que poderia ser impeditivo de ele ir à festa da criança, conseguiu detê-lo. Seria seu neto? Sobrinho neto? O que seria, não importa. O que importa para aquela criança felizarda é o fato de o cansaço daquele velhinho, suas muitas marcas de expressão no rosto, suas mãos cansadas, sua expressão de dor... enfim: o que realmente importa é que nada disso o tenha impedido de ir à festa e fazer parte das lembranças daquela criança e de muitos que ali estavam. E de um sujeito que nunca mais o verá. Eu.
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