"E eu não sabia que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé". Assim finaliza Drummond um de seus mais conhecidos poemas, intitulado Infância. Ali ele narra um dia de sua vida, no qual ele fala do pai, da mãe, do irmão. Fala do café preto ("café gostoso, café bom") que ele tomava naquele "dia branco de luz", no qual, sentado entre mangueiras, lia a história de Robinson Crusoé. Ao analisar sua vida, acaba concluindo que ela era mais bonita do que a história que estava lendo.
É curioso, e, ao mesmo tempo, triste, o fato de não ser incomum o tanto de vezes em que deixamos de valorizar pequenos ganhos, pequenos avanços e passamos a depositar apenas nos grandiosos feitios o nosso olhar admirado. O nosso "uau..." e todas as interjeições que podemos expressar. Parece que esquecemos que casas são feitas de tijolos. Que tijolos são feitos de argila ou de qualquer outro material, que é ínfimo em relação a eles. Se não olhamos o todo e as partes com a devida justiça, cometemos injustiça contra nós mesmos.
Lembro das orientações sempre presentes de meu professor de contra-baixo, quando nos via desanimados diante de tanta coisa que ainda tinha para aprender. Era uma turma de cinco alunos, para os quais ele não se cansava de lembrar o quanto dominávamos do instrumento e da teoria musical em nossas primeiras aulas, e o quanto dominávamos naquele momento de desânimo. Era uma fala constante que nos fazia respirar novos ares e encher os pulmões para uma nova jornada de aprendizagem.
Hoje, recebi um e-mail de um aluno que atendo há pouquíssimo tempo. Aluno de Ensino Médio, que nunca havia tirado nota acima da média em Português. Segue a transcrição de sua fala: Olá, Ever! Eu estou bem, e muito feliz também! Tirei 6,1 na prova de gramática, o que não é louvável, mas me traz muita tranquilidade, porque é minha primeira nota acima da média em L.P.! Digo pra mim mesmo que é dessas pequenas coisas que partimos para afirmar o quanto nossa história pode ser mais bonita do que a de Robinson Crusoé.
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