"As palavras saem quase sem querer, rezam por nós dois. Tome conta do que vai dizer. Elas estão dentro dos meus olhos, da minha boca, dos meus ombros. Se quiser ouvir, é fácil perceber", são versos cantados com a firme e singular voz da mato-grossense Vanessa da Mata. A música fala de uma das coisas que mais me encantam: a palavra. Quem me conhece sabe que, para mim, a palavra é a grande responsável pelas coisas que há, pelas que hão de existir, bem como pela falência do que não existe mais. As palavras abraçam e abandonam.
A gente que é pai se orgulha de algumas coisas assim pequenas que para uns soam como obrigação e, para outros, como a coisa mais comum do mundo - digamos - familiar. Acho que o tempo, os afazeres, os pequenos e grandes estresses, o acúmulos de pequenos detritos no coração vão fazendo os sentimentos e a capacidade de reconhecimento se solidificarem de tal modo que, para algo ser valorizado, precisa ser grande, caro, difícil - quase um trabalho de Hércules.
Mas as coisas não precisam ser grandes para serem reconhecidas como importantes. Elas só precisam ser inteiras, como dizia o maior dos poetas modernistas portugueses: Fernando Nogueira Pessoa. Elas só precisam partir de uma alma íntegra, consciente e desinteressada, que age motivada pelo gosto do agir, pelo prazer de promover o bem, pela satisfação de propiciar condições para que algo aconteça.
Poder dizer palavras de incentivo, de reconhecimento, de valorização diretamente para aqueles a quem geramos é algo que parece conectar as existências; algo que dá a impressão de superar os frágeis limites dessa vida tão marcada pela ausência de marca, uma vida cada vez mais desprovida de providências em prol do próximo. Motivar e valorizar os gestos cotidianos de minhas filhas me dá a suave sensação de que minhas palavras abraçam as duas e lhes fortalecem a alma, o espírito, o sentido de existir.
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