Fazia muito tempo que eu não sentia isso novamente. Uma
sensação que se faz perceber aos poucos, num crescendo que vai culminar com as
raízes, o tronco e toda a parte copada. Completamente embebida, fica, assim, tomada pela água que verte do céu,
ensopada. Como qualquer veículo motorizado, assim chegou a chuva. De início, um
barulhinho ao longe, oco e intenso. No interior desse veículo vinham resquícios de memória.
Parecia o barulho da chegada de um carro em chão de cascalho.
Sim, esta foi a sensação que despertou em mim o barulho da chuva que nos presenteou com sua
visita no final da madrugada de ontem para hoje. Veio de mansinho, tomou todo o
lugar que queria tomar e desfilou verticalmente seus fios de água. Esse movimento de fios me conectava a algo e, como toda certeza, fazia
qualquer um se confundir a respeito do que era água descendo e penetrando o chão,
daquilo que estava fazendo o movimento contrário.
Se, por um lado, a sensação era indescritivelmente boa e
desejável por todos os sentidos; por outro lado, o sentimento que ela despertava
também era bom. Não foi difícil associá-la com a própria suavidade do som dos
doces sorrisos dados na infância; das discussões, das comemorações... daqueles tempos em que viver não ia além da
obrigação escolar e de uma partida de futebol com os melhores amigos nas ruas –
próximas de casa.
De fato, os sentidos que se dão em um momento como este
reascendem o passado e reavivam uma série de outras coisas (sensações,
sentimentos, experiências, palavras, planos perdidos no tempo... lembranças de
certos momentos...). Ter a cabeça cheia das coisas boas que foram vivenciadas é
um grande passo para a vivência de um presente pleno de sentido e de um futuro
cheio de mais esperança. É ter dentro de si um terreno úmido e fértil para o cultivo de boas lembranças.
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