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segunda-feira, 17 de março de 2014

Um tanto do tanto tampado



Esta de hoje é uma noite de lua cheia. Bem cheia. Daquelas que refletem bastante a luz recebida, iluminando o caminho dos amantes, a trilha dos perdidos, a mente dos confusos, a razão dos emotivos, a emoção dos racionais. Só que não. Há tanta nuvem, que a lua fica escondida. Impossível vê-la em sua totalidade. Por conhecimento prévio, e só por isso, sabemos que ela está ali. Mas não se vê.

Lembrou-me Pessoa, como Ricardo Reis, em um poema que já citei aqui algumas vezes: "Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive". Está ali ela. Inteira. E eu tenho consciência disso. Volto para a varanda. Me apoio no parapeito querendo presentear meus olhos. Mas não a vejo. Tanto de mim, tanto de nós, é sabido que está aqui, que está aí, que está. Um tanto desse tanto, tampado.

Com o olhar voltado para cima, absolutamente insatisfeito, mas super compreensivo com o fato, entendo que há razões para ela não aparecer. O tempo se organizou de tal modo que reuniu entre mim e o firmamento uma camada espessa de nuvens que parece apenas esperar o momento para desaguar sobre todos nós aqui embaixo. Já vejo raios. Ouço relâmpagos. Em breve janelas e varandas estarão fechadas para mim. E a lua ficará mais distante ainda.

Aqui dentro, lanço o olhar para dentro de mim mesmo, como representante de um imenso contingente de pessoas que se querem inteiras, que se põem todas em tudo que fazem, que querem brilhar em sua totalidade e viverem altas. Nem todos o conseguiram. Ainda. Falta descobrir, literalmente, as nuvens que impedem o brilho. Falta descobrir-se, descortinar-se, desvelar-se.




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