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domingo, 9 de março de 2014

Pessoas ensimesmadas



Não é incomum eu perceber alguma coisa somente depois de muito tempo que ela está ali. Avistei assombrado uma árvore grande e de tronco fino à beira do rio aqui na Ricardo Jafet. Recuso-me a acreditar que ela sempre esteve ali e que eu jamais a tinha visto. Mas a possibilidade é grande, bem grande, por sinal.. Duvido, igualmente, que alguém a teria transportado e plantado à beira de um rio que é margeado por uma avenida tão grande. É assim com construções (o que é absolutamente evidente) e é assim com aplicativos de telefone, por exemplo (o que é menos evidente).

Hoje, enquanto fazia meu alongamento para correr no Museu do Ipiranga, observei que no lugar onde sempre me alonguei passa um caminho de formigas. Vi quando me agachei pretendendo alongar a coluna. Chamou-me a atenção uma formiga que carregava uma folha, no mínimo, umas quatro vezes maior que ela. Parei o alongamento e fui dar a atenção que aquela formiga e toda a sua leva de formigas sempre mereceram. Devo ter pisado muitas delas em outras oportunidades. Elas, por sua vez, nunca me incomodaram.

Findado o alongamento, fui correr e, em um raro momento em que olhei para cima, vi que à frente do palácio há alguns pilares em cujo topo fica esculpida a imagem de uma águia. Belíssima, por sinal. Assim como às formigas, nunca a tinha reparado. Exuberantes, como se fossem as sentinelas do palácio, lá estão elas. Imponentes. Imóveis. E, até hoje, pelo menos, invisíveis. Domingo que vem vou saudá-las silente. Assim como as formigas, elas nunca puseram os olhos em mim. Nem eu nelas. Embora elas sempre estivessem ali.

Não sei, não sei. Às vezes temo que, assim como as construções, como árvores, como formigas e esculturas, que sempre estiveram onde estão, mas que nunca as vimos, muita coisa esteja passando intocada pelos nossos olhos. E nós não damos mesmo por elas. O pior é se isso estiver acontecendo também com pessoas. Podem estar passando invisíveis ao alcance de nossos olhos. Há pessoas que andam ensimesmadas. Esperam mais ser vistas do que verem. Daí, num gesto de estranhamento, se deparam com o que ou com quem sempre esteve debaixo de seus olhos.


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