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sábado, 8 de março de 2014

Moscas, males e nadas



Lembro com muitas saudades do carinho que minha avó tinha por mim (cafunés no colo), do modo como me protegia (se mexerem com você, vão estar mexendo comigo!), das muitas broncas que me deu (por jogar bola descalço e me ferir quase sempre)... Lembro de sua voz cantando ao som do arrasto dos chinelos ("Pisa na fulô, mas não maltrate meu amô"). Agora o que eu lembro quase sempre é de uma lição que eu deveria ler todos os dias ao acordar e ao dormir: dizia ela, muito sabiamente, que Deus nos deu dois ouvidos e uma boca justamente para ouvirmos mais e falarmos menos.

O ditado popular já ensina muita gente que tem ouvidos para ouvir. Minha avó - finada Dona Elvira - dizia um: "Quem fala demais dá bom dia a cavalo". Eu nunca entendia aquilo fora de sua literalidade. Só pude viver com minha avó um pedaço da minha infância. Outro ditado veio me esclarecer aquele. Quem de nós não conhece o famoso "Em boca fechada não entra mosquito"? Apesar do nojo que o ditado gera, é uma grande verdade. E no nojo está sua força: o mosquito não é para a boca, ainda mais se consideramos os lugares abjetos onde costuma pousar. Metaforicamente, há muita coisa nojenta que está na boca de muita gente - e não deveria.

Pepeu Gomes - evidentemente em outro contexto - já cantava nos idos anos 80 que "você pode comer baseado baseado em que você pode comer quase tudo. Porque o mal nunca entra pela boca. O mal é o que sai da boca do homem". Sábio Pepeu - que já foi considerado um dos maiores guitarristas do mundo - em época de Ditadura, de proibições, queria se opor àquilo que de mal se falava.

Nos anos 90, Renato Russo com sua Legião Urbana cantava a música Índios, um de seus muitos sucessos de frases de efeito que têm o poder de guiar comportamentos. Nessa música, ele diz que "fala demais quem não tem nada a dizer". E, ao que parece, também outra verdade (mas não absoluta, como toda verdade). Às vezes, mesmo cientes disso, deixamos escapar moscas, males e nadas de nossa boca. Saudades de D. Elvira.

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