Para correr hoje, coloquei um boné que tem o símbolo dos MAPUCHE, povo que deu origem ao que é hoje o Chile. Foi como se ao colocá-lo na cabeça e começar a sessão de alongamento e aquecimento, eu tivesse estabelecido uma conexão meio Avatar com o que vivenciei no começo deste ano, quando fui conhecer in loco aquela inigualável região andina.
Corria me lembrando das emoções que vivenciei ali, tanto pelo contato direto com o povo de lá, arranhando meu portunhol tal qual uma agulha de vitrola sobre disco de vinil, quanto pelo contato direto com a cultura material de lá: desde as coisas pequenas como a comida típica até às incomensuráveis, como as próprias cordilheiras - uma das imagens mais bonitas que hão de ficar guardadas na minha memória para sempre, porque aquilo é de uma beleza fora do comum. A neve não faz a menor falta para que fique espetacular.
Depois de percorrer 5km entre caminhada e corrida, entre um gole de água e outro, entre umas gotas de suor e outras que faziam sua corrida vertical por mim, julguei que era hora de reduzir. Reduzi, tomei água e voltei a caminhar... só que em sentido contrário ao do fluxo normal dos que também corriam ali. Experiência interessantíssima, porque comecei a associar aquela volta pela pista de corrida a uma volta pelos meus últimos 5 ou 10 anos de vida. Via tudo por um ângulo diferente.
Com toda certeza, a mesma sensação que eu tinha enquanto voltava na direção contrária à do fluxo dos que corriam, eu teria se ingressasse memória a dentro, revisando fato por fato daqueles que marcaram o que sou hoje. Sem a menor sombra de dúvida, olharia para aqueles acontecimentos com outros olhos, com outra postura, com outros sentimentos. E é muito provável que o ponto da pista de corrida onde estou hoje não fosse o mesmo se eu tivesse agido de outra forma. Entretanto, já dizia o poeta: "pra frente é que se anda".
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