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segunda-feira, 24 de março de 2014

O olhar cheio de nada



Estou aqui aprendendo a tocar uma música tão antiga quanto eu, de um artista respeitadíssimo - bem mais velho do que eu. A música: "Like a rolling stone". O artista: Bob Dylan. Ambos dispensam apresentações, mas não reflexões. Ele pela imensa contribuição que deu não só à música, mas também ao próprio jeito de pensar de sua época. Ela, por revelar uma mudança de curso na vida que deixa qualquer um pasmo, desejando se agarrar a qualquer galho de beira de abismo, a qualquer crença em um mundo melhor, a qualquer palavra enganosa com sabor de boia para quem se afoga em alto mar.

A letra é de uma força desconcertante. E dela eu destaco aqui um que acho nocauteante: "...as you stare into the vacuum of his eyes...". No contexto, no auge de sua miserabilidade, alguém espera um acordo de quem sequer considera a possibilidade disso. O olhar desesperado dá de cara com o vácuo do olhar do outro, que lhe é superior. Dois olhares cheios de nada. Um, desesperado. Outro, indiferente. Um querendo invadir para encontrar alguma esperança. Outro, esperando inerte para não ser invadido.

Na verdade, o olhar vazio é apenas uma questão de perspectiva. O olhar vazio é uma vista; um ponto de vista, ao mesmo tempo em que é uma questão de ponto de vista. Um olhar perdido pelo espaço indefinido - "like a rolling stone". A vista sem prazo de voltar. Ele ainda não está cheio de estar vazio.

O olhar vazio pode estar se enchendo da saudade do que perdeu. Pode estar pleno do futuro que não chegará. Pode estar repleto de um presente que não o preenche. Um mirante sem paisagem. Óculos escuros no breu da madrugada. 



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