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terça-feira, 9 de outubro de 2012

O nosso ideal

"São tantas coisinhas miúdas roendo, comendo, arrasando aos poucos o nosso ideal", canta Gonzaguinha, excelente músico que cantou as relações do homem consigo mesmo, com o outro e com a vida. Assim como o pai, brilhante músico. Assim como o pai, morto precocemente. Pensando no contrário do que rói, come e arrasa nossos ideais, é preciso afirmar que há coisinhas miúdas que fortalecem nosso ideal. Vou me referir a três delas aqui.

1 - O prédio onde minhas filhas moram tem um cachorro, sem raça definida, querido por todos, preto, bonito. E velho. Muito velho. O olhar sem cor e incapaz de distinguir quase tudo. Audição comprometida. Pernas arcadas. À espera do fim. Enquanto esperava minhas filhas descerem para eu levá-las à escola, uma cena me chamou a atenção. Um rapaz, desses com todo tipão jovem e desencanado, de quem eu no meu preconceito jamais esperaria tal atitude, parou sua caminhada apressada diante do cachorro. E ficou ali por por cerca de um minuto acariciando sua cabeça com as duas mãos. O porteiro, veio lhe trazer uma correspondência. Ele estendeu uma das mãos, pegou a correspondência, prendeu-a entre os dentes e voltou a mão para acariciar o cão com as duas. Isso não deve ter levado sequer um minuto. Mas está gravado pela eternidade em minha memória.

2 - Ontem fui ao Shopping almoçar. Depois de pagar o tíquete do estacionamento, enquanto me dirigia à  escada rolante, avistei uma família grande, integrada também por uma menininha ainda no carrinho de bebê. Ostentada com orgulho por todos que acompanhavam, ela chamou minha atenção e, como não resisto a crianças, parei minha trajetória ao pé da escada rolante para fazer graça para aquela menininha: toquei-lhe o queixo, o pescoço, o bracinho e sua mão; fiz sons que a fizeram rir. Todos rimos. Quando me levantei para sair, ela não abria a mão para largar a minha. Brinquei mais um pouco e saí. Quando cheguei ao carro, não achava meu tíquete de jeito nenhum. Voltei para o caixa, e lá estava ele. Eu o havia deixado cair enquanto brincava. Aquela família o havia devolvido ao caixa.

Hoje, minhas filhas entraram no carro com um presente em mãos. Sem mais, sem menos, o estenderam para mim. Era claramente um CD, num pacote da Fnac em que elas haviam escrito "Parabéns, pai". Quando o abri, para minha surpresa, ali estava o disco que há muito tempo eu havia elogiado para elas. Disse também que pretendia tê-lo e que poderíamos comprá-lo quando fôssemos à Cultura. O tempo passou. Antes, porém, de irmos à livraria, depois desse tempo todo, me deram o CD como presente. Claro que me emocionei. Afinal, esses e tantos outros são gestos de vida que deixam mais forte o nosso ideal de vida.

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