Quando Chico César canta que "sua presença me faz rir em dias feitos pra chover", ele faz mais do que uma antítese ou um paradoxo indireto; faz mais do que uma hipérbole; mais do que uma divisão regular do verso. Dizer que a presença de alguém transforma em sorriso o que era para ser a inundação de lágrimas é mais do que dizer, é inculcar, é despertar a vontade de vivenciar essa experiência.
Será isso o belo? Será esse o efeito misterioso da poesia? Será esse o jogo que os poetas tanto adoram praticar? Será essa a magia? Será essa a elegância que Aristóteles recomendava a todo bom uso da linguagem?
Dizer com graça, com sabedoria, com perspicácia, com sensibilidade... é mais do que dar aos olhos o brilho uma imagem; mais do que dar aos ouvidos a carícia de uma sonoridade; mais do que despertar no cérebro uma relação entre contexto, significante, significado e sentido. Construir assim as frases é imprimir na alma do outro a nossa alma; é dar de nós ao outro; é dar às palavras vida - a nossa vida.
Mais: é fazer das palavras o veículo que nos conduz por entre aqueles que existem conosco - em dias feitos para arder ao sol, ou "em dias feitos pra chover".
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