Um verso do
Arnaldo Antunes: "Meu coração bate sem saber que meu peito é uma porta que
ninguém vai atender". Gosto muito da poesia de Arnaldo: seus jogos de
palavras, sua simplicidade aliada a uma densa profundidade sempre me dizem mais
do que aquilo que está escrito. Um, e apenas um, dos aspectos possíveis desse
verso que citei há pouco é o fato de o coração insistir em bater, movido pela
esperança de ser atendido, de dar/receber atenção, de nos salvar da letargia
que nos engole muitas vezes.
Dada a
personificação presente no verso, esse "comboio de cordas" - como o
chamaria Fernando Pessoa - revela o papel da esperança dentro do indivíduo. Ela
vem ali, feito água mole batendo em um peito empedernido, para gritar a
possibilidade em face da dificuldade "im-posta" reinante. Vem para,
com seu canto ritmado - allegro ma non troppo -, fazer soar sua voz harmônica
aos ouvidos do silêncio absoluto.
Ora, quem impõe o
silêncio e ensurdece a alma? Quem anestesia o sentimento e amarra braços e
pernas?
"É preciso
ouvir a voz que vem do coração", canta Milton Nascimento. É necessário
saber que algo é possível. É urgente se permitir alcançar. É imperioso querer.
É essencial ter esperança. É vital despertar o alguém que é constantemente
chamado à vida pelo coração. É crucial desatar os nós que impedem que
alguém se depare com a felicidade.
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