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domingo, 23 de junho de 2013

Dois gumes

"Quero ter alguém com quem conversar; alguém que depois não use o que eu disse contra mim", canta Renato Russo em uma de suas músicas pouco reproduzidas, chamada Andrea Dória. Gosto do andamento, da letra... gosto até do que não gosto, isto é, do verso que antecede aos que usei para iniciar esta reflexão: "eu sei, é tudo sem sentido".
 
Eu não sei mesmo se as coisas não fazem sentido. Eu não sei se elas fazem todos os sentidos possíveis. Eu não sei se elas fazem os sentidos convenientes. O que sei é que sentidos são feitos pelo uso da linguagem - de todo tipo de linguagem - de acordo com o contexto de produção da interação. Muitas vezes, um gesto, uma roupa, uma palavra que se pretende significar uma coisa pode significar uma coisa pra um, outra pra outro, outra pra outro, e assim indefinidamente.
 
Às vezes a gente se cansa de ser mal interpretado e/ou de ser interpretado segundo a conveniência do interpretante. Naturalmente a gente deve fazer isso também com os outros, num processo que insiste em existir mobilizado sabe lá Deus pelo quê: um processo que entra num moto-perpétuo e vai entortando caminhos, minando relações, enfraquecendo motivações, arrefecendo ânimos.
 
Apenas em momentos convenientes e depois de alguma forma de frustração com a gente, é que as pessoas usam contra nós algo que lhes dissemos. É triste. É revoltante, mas é a vida. Esse é justamente um dos efeitos da linguagem. Numa faca de dois gumes, ela banha sempre o lado que estiver mais próximo da vítima. Muitas vezes, a gente é mesmo ambíguo e polissêmico, consciente ou inconscientemente. Daí é mesmo merecido que o plurissignificativo se corte; daí é mesmo merecido que seja mal entendido e que suas palavras se voltem como lança contra ele.

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