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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Reconhecimentos

Sim, sim. Era fato: eu tinha exagerado com meu amigo. Na tentativa desesperada de fazê-lo entender que é preciso aceitar ajuda, dei vazão a um turbilhão de sentimentos que acabaram fazendo um efeito diferente do que eu pretendia. O clima ficou bem pesado, e parecei que estávamos brigando. É assim a linguagem: às vezes parece que ela tem vida própria. Que ela gera ou destrói possibilidades de vida, eu não tenho dúvida. Só não sou capaz de acreditar ainda que ela tenha vida em si mesma.

Mas aquela conversa que evoluiu para discussão, em face da resistência do meu amigo a receber ajuda, acabou resultando no que queríamos depois de alguns dias. Ele resolveu procurar ajuda. Isso foi, na verdade, o resultado de muitos momentos de introspecção e de lento reconhecimento de FG acerca de sua própria condição. Ele sentiu, claro que sentiu, a dureza da minha fala, que caiu sobre ele como uma bigorna na cabeça de quem passa desavisado.

- Eu sei, Ever. Eu sei, meus amigos. Vocês têm razão.

Ainda não me sentia devidamente calmo para falar qualquer coisa para ele. A sensação é de que tinha descarregado um trem de carga sobre ele. Naquele momento, eu preferi me calar. Mas os demais não fizeram o mesmo.

- Você vai fazer o quê, FG? - disse o Poeta, sem perceber que exagerava a rima. Aliás, ele sequer percebia que rimava. Às vezes me pergunto se ele percebe que já automatizou o funcionamento do seu cérebro para expressar-se por rimas.

Alheio a esta minha reflexão, FG, foi lacônico.

- Vou procurar ajuda.

- Da gente?

Não, não era a nossa ajuda que ele iria buscar. O que precisava receber de nós, em maior ou menor medida eu não sei, ele já tinha recebido. Mais explícito e mais intenso, difícil.

- Faz tempo que penso em tentar descobrir a causa de eu não aceitar ajuda e de querer ajudar sempre. Vou procurar um psicólogo.

Cada um de nós, que já tinha tido sua experiência com terapia, passou a mão na carteira em busca do cartão de um terapeuta. Mas foi o mais novo, que mais rápido que todo mundo, sacou o celular, digitou a letra de busca em seu smartphone e já veio com o número pronto. Não deixamos também de passar nossas indicações pra FG, que tomou nota de tudo. Ele finalmente não só reconheceu que precisava aprender a aceitar ajuda, como também a tentar entender porque prefere não ser ajudado.

- Ô, meu, aproveita esse período que você vai entrar em férias. Coloque sua cabeça em ordem, rapaz.

Todos nós nos colocamos à disposição de FG para qualquer coisa que ele viesse a precisar. Como o clima ficou meio pesado, sugeri que fizéssemos a  saideira. Fiz questão de olhar fixamente para FG e de lhe dizer, sem palavras, que o estimava muito, que lhe queria muito bem, que disponibilizava a auxiliá-lo no trabalho, nos estudos, no que quer que fosse. Parece-me que ele percebeu isso. Ao final da saideira, ele me deu um abraço daqueles que superam os discursos convencionais em larga escala. Um abraço de amigo.

Então me pus a pensar a respeito de mim mesmo, para investigar se estou indo para o mesmo caminho de FG, isto é, se estou me encaminhando para o trabalho excessivo ou se busco um equilíbrio no que faço e no modo como distribuo meu tempo cotidianamente.

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