Valeu a visita!

Daqui pra frente, divirta-se trocando ideias comigo.
Conheça meu outro blog: http://everblogramatica.blogspot.com.br

terça-feira, 16 de abril de 2013

Bem preparado

Estava todo orgulhoso o meu amigo. Nós o esperávamos porque ele ia chegar um pouco mais tarde que todos nós hoje, para a cerveja de sempre. Quando amigos se encontram para tomar uma cerveja, quase nunca o mais importante é a cerveja. Antes, o mais importante mesmo é a conversa, é o encontro, é a amizade sustentada e fortalecida, renovada e reconfirmada a cada "causo", a cada piada, a cada bate-papo.

Pois que estávamos no que já seria a metade do tempo que pretendíamos ficar ali, quando, sem mais demora, sobre FG as escadas, com aquele seu olhar curioso que parece um anzol a fisgar tudo o que está a seu alcance. Assim que sua vista foi capaz de nos avistar, seu olhar se lançou para cima, sua cabeça projetou-se para frente, seus punhos se cerraram e se erguerem com os dedos apertando-se contra a palma da mão, num claro gesto de vitória, um gesto inequívoco de que uma grande dificuldade tinha sido superada.

Assim que seus passos nos alcançaram (também pudera: estávamos parados), ele fez questão de abraçar fortemente a cada um, como quem comemora a vitória de um campeonato. Dava pra ouvir em seu coração o grito de uma torcida apaixonada: "É campeão!! É campeão!!

Tomei a palavra antes dos demais amigos e perguntei, sem rodeios:

- E então, FG? De onde tanta alegria, rapaz? - eu quis saber. É lógico que eu sabia, mas não poderia tirar dele o gosto de dizer. E ele não titubeou: respondeu para mim como se estivesse falando para todo o bar. Muitos até baixaram suas canecas para que seus goles não tirassem atenção do que iria dizer meu amigo.

- Pô, meu, cês sabem quanto tempo eu tô lá no meu trabalho?

- Mais de dez, véi - respondeu um dos nossos amigo, rimando, como sempre.

- Então, Poeta, mais de dez anos lá. No começo da semana passada, logo na segunda, o diretor pediu pra mim fazer uma palestra pra todos os colegas, falando de produtividade...

Meu amigo foi interrompido pelo que chamávamos de Poeta - por razões óbvias:

- Pera FG: você disse "mim fazer"?

- Eita, além de poeta, você é professor agora, é? - quis saber meu amigo, com o humor já um pouco alterado. Visivelmente, não concordou com a correção pública que lhe fez o rimador. - Nem quem é professor me corrigiu, rapaz!

Recuperando um pouco do controle, sentou-se e pediu a sua cerveja. Logo em seguida, contou.

- Povo, passei a semana tenso, tremia que nem vara verde, quase não respondi e-mail, telefone e o escambau. Dormi tarde, li tudo que eu tinha em casa e que podia ajudar. Eu pensava todo dia, toda hora naquela situação, na hora que chegasse...

- Fala logo, então! Como é que foi a apresentação?

- Foi 10!!! Na hora que me chamaram, e eu lá no meio do povo, eu respirei tão fundo, que deve ter faltado ar pra alguém. Meu coração eu acho que dava pra escutar a mais de dois metros de mim. Minha mão era engraçada: tava geladinha, mas suava que era uma beleza.

Aqueles sinais eram claros de quem estava muito nervoso às vésperas imediatas de um evento importante. Curioso, o Poeta logo lhe perguntou:

- FG, você é uma peça. Fala: como você saiu dessa?

- Ah, rapaz. Lembrei de uns caras que o Ever vive citando aí, e que eu nem sei quem é. Sei lá, ele fala de um que fala que o segredo de tudo é tentar manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.

- Não é bobo, não. Aliás, muito esperto. Diz pra nós: deu certo?

- Olha, aqueles metros da minha cadeira até o palco pareciam quilômetros. Mas foi o tempo necessário pra fazer o que o Ever recomenda. Fui respirando, respirando, tentando acalmar o coração e manter a coluna reta. Nem vi como cheguei lá na frente. Liguei o datashow, abri o arquivo, cumprimentei o pessoal é mandei bala.

Elogiável a coragem de FG. Fiquei muito feliz por ele ter se lembrado de algo que aprendera comigo. Não perdi a oportunidade de elogiar - sem rimas, como teria feito o Poeta.

- FG - passei meu braço pelo ombro dele e dei dois tapas nas costas, como costumeiramente os homens fazem quando querem elogiar, e continuei - meus parabéns, cara! Realmente é uma vitória sua, não só a oportunidade de falar para seus colegas na empresa (e isso a pedido de seu diretor!!!), mas principalmente sua vitória sobre o medo, a tensão, o nervosismo etc.

Os colegas iam ensaiando um aplauso descompromissado, quando eu completei:

- Mas, olha, meu amigo: o segredo da vitória nem foi você conseguir acalmar seu nervosismo. O segredo, meu chapa, foi você ter se preparado bem. 

Meu amigo, que chegou orgulhoso, naquela hora radiava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário