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sábado, 13 de abril de 2013

Contra a ruína dos tempos e o silêncio da distância

Eu não sei mesmo se é verdade que nada dura para sempre. Toda vez que digo isso, me vêm à mente, primeiro, o verso "nothing lass forever" (Guns'n roses); depois: "o pra sempre sempre acaba" (Renato Russo) e, por último "sempre não é todo dia" (Oswaldo Montenegro). Poderiam vir uns tantos outros, que estão aí à disposição para ilustrar nossas falas, para orientar nosso pensamento.

Em geral, essas falas vêm em um contexto de relacionamento amoroso e servem como justificativa generalizada para o final da relação. Entretanto, não estou completamente convencido de que isso se dê em outro tipo de relação: nas amizades, por exemplo. Evidentemente, muitas se rompem inexplicavelmente, em rompantes ou em pequenas fraturas diárias. Mas amizades há em que o tempo não é fator de ruína.

Pensei essas coisas num átimo de segundo quando FG me lançou uma pergunta daquelas que ele sempre faz - perguntas que lembram lanças, setas, flechas que atravessam o pensamento de quem as ouve. Ele quis saber se entre aqueles meus 5  grandes amigos havia um que, distante ou presente, representava uma amizade duradoura, resistente às ações do vento, das águas, das ventanias e das tempestades que às vezes caem como intempéries sobre os amigos.

- E aí, Ever? Responde, meu! Que viajada que você deu agora, hein!

- Rapaz, pensei tanta coisa, que fiquei até atordoado. Pois então, FG. Tem sim. Por coincidência, falei com um desses amigos ontem. Na verdade ele me acessou pelo facebook. A última vez em que o havia visto foi num aniversário. Não lembro mais se foi em aniversário meu mesmo ou de meu casamento. Lembro bem demais da cena de vê-lo entrando em casa, como uma surpresa, daquelas absolutamente inesperadas - porque fazia, no mínimo uns 15 anos que não nos víamos.

- E como é que ele soube do seu endereço e te achou, se nesse tempo das cavernas aí não tinha nem facebook, nem orkut, nem messenger nem nada?

- Isso é incrível. De algum modo, minha mãe o localizou, provavelmente pela lista telefônica. (era uma época em que recebíamos gratuitamente pesadas listas telefônicas em casa).  Depois de atualizarem informações rápidas sobre o destino dele e o meu, minha mãe não perdeu a oportunidade de convidá-lo para vir à festa que eu tinha organizado. Iria como uma surpresa. Apareceria como uma surpresa. E assim foi.

- Legal isso da sua mãe, meu!

- Rapaz, eu não sabia mesmo. A hora em que abri a porta, a aparição lenta dele, que ia se formando a à medida que o vão da porta ia se aumentando, veio crescendo uma série de lembranças de tanta coisa legal que fizemos quando jovens. O abraço que lhe dei deve ter traduzido a imensa gratidão que sinto por ter tido o privilégio de sua companhia. E o abraço que recebi, imagino, teve um pouco esse teor também.

- Bacana, cara. Devem ter conversado um monte.

- Um montão mesmo, FG! Quando adolescentes, se não estávamos na escola, com certeza estávamos em alguma outra atividade. Apesar de estudarmos em escolas públicas diferentes, não perdíamos a oportunidade de compartilhar momentos juntos - ele, eu e uma outra turma suficientemente grande para formar um time de futebol de salão.

- Faziam o quê, naquela época em que ligação telefônica ainda se fazia por orelhão?

- Rapaz, futebol era nossa maior diversão. Jogávamos à noite durante a semana. E jogávamos o dia todo enquanto durasse o fim de semana. Sempre tinha uma partida para disputar - foi tanto que alimentei por muito tempo o sonho de ser jogador profissional. Ah! se chovia, a gente ficava em casa, óbvio... aquela galera inteira disputando longos campeonatos de futebol de botão ou partidas intermináveis de War ou de Banco Imobiliário.

- Meu, que mais, cara?

- Ah, sei lá, FG, não precisa ter muita coisa, não. Aliás, o que menos importava era a quantidade de coisas que fazíamos. A gente se envolvia com os jogos de tal forma, que o tempo passava por nós como bons ventos. O que importava mesmo era estar. Estávamos ali, mesmo sem saber, nos construindo e construindo a cada dia uma amizade que atravessaria a ruína dos tempos e o silêncio da distância.

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