"Eta vida besta, meu Deus". É assim que Drummond conclui o poema Cidadezinha Qualquer. Depois de afirmar que "Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham", ele fecha com esta chave de ouro: "Eta vida besta, meu Deus".
Esse itabirano sabia das coisas. Se, por um lado, reverenciava as características da vida no interior, especialmente no plano das relações pessoais e familiares, por outro - como se lê em Sentimento do Mundo, Drummond clamava contra o que não fazia sentido no mundo. Um olhar local que não perde o global. E vice-versa. O um e o todos. O um no todos. Para ele, de besta, a vida não deve ter nada.
Esses versos dele vêm à minha mente agora neste final de dia em razão de uma experiência que vivenciei no final da tarde. Quando a vida da gente vai entrando num ponto em que ou tudo vai muito devagar ou em que tudo vai muito depressa... tão depressa ou tão devagar, que começa a perder o sentido, parece-me ser a hora de colocar o pé no freio. Ou no acelerador - dependendo do caso.
Coloquei-me hoje numa situação que há muito acalentava, mas que não tinha tônus suficiente para dar o primeiro passo em direção à mudança. Como dizem, o primeiro passo é o mais difícil de todos. Mas, uma vez dado para nos tirar da chamada "zona de conforto", é preciso dar o segundo passo, o terceiro... até reajustar a vida àquilo que acreditamos ser o melhor. É preciso lançar-mo-nos aos desafios que abrem perspectivas fascinantes; desafios que vão nos colocar à prova; que fazem a vida deixar de ser besta.
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