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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O caminho para o triz

Chico Buarque, numa de suas mais belas músicas (Beatriz), canta que o "pra sempre é sempre por um triz". Trata-se de um verso revelador e instigante, paradoxal e inquietante, porque o "pra sempre", que tem o poder de criar uma sensação de saciedade infinita, de eternidade, de plenitude... o todo-poderoso "pra sempre" pode ser impiedosamente reduzido a um triz. Um imenso tecido de seda, uma imensa bolha de sabão, um incomensurável fio de lã... destroçado a ponto de só restar um triz.

Aliás, um triz é a figura de um fio, a mais ínfima das partes de um todo, um quase nada. O triz é o remanescente, é a leve lembrança de algo que ainda luta para existir, é o resto, é a ruína. É a letra que antecede o ponto final. É o quase fim de uma relação amorosa. Como canta Renato Russo, na música intencionalmente chamada "Por enquanto": "Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre? E o pra sempre sempre acaba".

Chegar ao triz é o resultado de ter traçado o caminho que foi da magnitude à quase insignificância, da plenitude à escassez, do tudo ao quase nada. Ora, se existe essa direção que faz as coisas definharem, há o caminho inverso, que transforma o pequeno em imenso, o anão em gigante, o bite em terabite. Existe o caminho do fortalecimento, da ascensão, do engrandecimento, da valorização, do reconhecimento.

Talvez aí resida o ponto inicial da fenda que corrói qualquer relação que se pretenda "pra sempre": no reconhecimento. A falta dele é (como canta Paulinho Moska) "um grão de sal no mar do céu". A falta constante do reconhecimento transforma o grão em grãos, e estes em uma avalanche que desaba e põe a relação a caminho do triz. Ora, é preciso escolher a cada dia o caminho a tomar: reconhecer o outro ou ser indiferente a ele. É preciso atender o que sugere o mesmo Moska: "deixe que o beijo dure, deixe que o tempo cure, deixe que a alma tenha a mesma idade do céu".

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