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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Horas gastas bestamente

A expressão "horas gastas bestamente" é parte de um poema de Elisabeth Bishop, que - dada uma significativa sincronia - me foi enviado por ocasião da minha postagem de ontem. Lindíssimo, o poema trata de perdas como algo sem mistério, como nada sério, como arte que deve ser aceita. Isso para qualquer coisa: desde algo de valor material, a algo como as "horas gastas bestamente".

Ao ler o poema, senti-me gratamente acrescido na reflexão muito simples que havia feito ontem. Lembrei-me de Vinícius de Morais, no Monólogo de Orfeu (da peça Orfeu da Conceição - que já tive o privilégio de representar no teatro), que em uma arrebatadora confissão de amor para Eurídice, sua amada, faz referência ao inesgotável prazer que lhe dá a presença de sua querida, quando ela vem com aquela "charla antiga" e lhe traz "aquele contentamento, aquele orgulho de rei..."

Quantas coisas boas me vieram à mente e me trazem agora as mesmas sensações. Tantas, tantas, mas tantas vezes me vi sozinho em um campo de futebol ou em uma quadra, ou ainda no muro da rua onde jogava, quando menino. Eu e a bola, por horas e horas a fio. Meus olhos se esbaldavam com a imagem, meus ouvidos eram massageados com o som da bola na parede, no chão ou na rede. Meus pés se deleitavam com o prazer do contato com a bola.

Tantas, tantas, mas tantas vezes me vi no meu quarto, sozinho, trocando as horas de sono pelo prazer de tocar minhas mãos nas cordas do meu violão. Aquelas cordas de nylon claras, aquela madeira fria e macia, aquele som que me dizia as palavras que eu mais queria e precisava ouvir, aquelas músicas extraídas com um limitado número de acordes... tudo aquilo (eu, a bola, o violão e o passado) foram "horas gastas bestamente", inteiramente responsáveis por muito do que sou hoje e pela imensa alegria que sinto só de lembrar. 

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