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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Herança

Quase todas as cerimônias de formatura têm algo em comum (além dos discursos, das becas, dos canudos e dos chapéus jogados para cima): a música "Como nossos pais", do Belchior. Interpretada com mais intensidade pela Elis Regina, a letra dessa música tem um verso que soa como um hino dos formados. Salvo engano meu, eles o cantam como se estivessem anos-luz à frente dos que os geraram, mas eu tenho a impressão de que o verso diz o contrário disso: "Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Em outras palavras: reproduzimos os pais. 

Ora, se viver e ser como os pais for algo digno, legítimo, edificante... que não paire dúvida: é bom ser e viver como eles. O gosto pela vida; o respeito a si, ao outro e ao mundo; o cultivo de bons valores; a valorização do que é justo e verdadeiro; a batalha honesta pela vida; enfim: tudo aquilo que torna a existência melhor deve ser conscientemente herdado com muito orgulho dos pais. O interessante é que essas coisas não se entregam em aulas, não se compram em mercados, não são sorteadas. Antes, são produto de muitos ensinamentos que se dão mais na prática do que na teoria.

A vida consentiu que meu pai se retirasse do nosso convívio quando eu ainda tinha entre 4 e 5 anos. Minha referência masculina passou a ser meu avô - que hoje, beirando seus 90 anos, nos deu a graça de sua presença e a beleza de seu sorriso transparente, sincero e carinhoso. Vê-lo para mim é sempre uma alegria muito grande, porque nosso amor é recíproco. O tanto que observei este homem na minha infância e o quanto ouvi dele depois de adulto me dão claras noções do tipo de vida que devo levar, do tipo de valores que devo cultivar.

Naturalmente meus pensamentos me conduzem agora para o que minhas filhas herdarão de mim. Para as coisas que não lhes foram entregues em aulas, nem compradas no mercado ou sorteadas. Para o que elas perpetuarão daquilo que puderam absorver no convívio comigo. Para a herança imaterial e imarcescível que está sendo construída nelas dia após dia. Para o que elas tiverem apreendido do meu modo de ser e de viver, e que, por conseguinte, influenciará o modo como elas serão e viverão.

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