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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Palavras para ferir

"Eu não sei dizer nada por dizer", canta Ney Matogrosso na música "Fala". São palavras que sempre norteiam o que digo e o que escrevo. Não gosto nem um pouco quando não há sabor nas minhas palavras, quando não há vida nelas, quando não há essência, enfim: quando são palavras que seriam satisfatoriamente substituídas pelo silêncio. Palavras cuja ausência sequer seria percebida.

Claro: se não gosto de falar ou escrever palavras insossas, insípidas, também não suporto ouvi-las ou lê-las. Acho mesmo que é pela palavra que a gente move o mundo, que a gente se move e move os outros (e vice-versa, claro). Nesse sentido, penso como Belchior, ao cantar suas palavras tão incisivamente: "eu não sei cantar como convém, sem querer ferir ninguém". Aqui está a beleza da palavra latina "fero", que significa justamente o movimento de "levar" ou "trazer" algo a alguém: um golpe, um gesto, uma palavra.

Há palavras que parecem ter o peso de uma realidade muito maior do que a do simples som que as reveste. Algumas trazem o aroma da vida. Ou o odor da morte. Outras há que acariciam nosso rosto como se fossem brisa molhada pelas ondas do mar. Outras há, ainda, que parecem mover o chão aos nossos pés, arrastando as placas tectônicas das nossas certezas, das nossas crenças, dos nossos sentimentos. Palavras que nos tomam pelo ombro e nos agitam como folhas de árvores penteadas pela ventania.

Como é possível "ferir" por meio da palavra, é preciso cuidar para que ela conduza boas coisas a quem nos ouve ou nos lê. Mesmo que seja palavra ríspida, árida, dura, ela deve promover o bem, a vida. Deve edificar, deve "a bem soar". As coisas estão por aí, nas mais diversas formas de existir. Como canta JQuest, "tudo está parado esperando uma palavra. Diz aí".

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