Rodrigo Santoro está entre os atores brasileiros mais competentes, tanto em sua carreira local quanto na internacional. Entre os filmes em que ele atuou (como "300 de Esparta", "As panteras" e outros) eu prefiro os nacionais, como "Bicho de sete cabeças" e "Abril despedaçado". Já entre esses dois... a escolha é bem mais difícil, porém pelo que gostaria de desenvolver aqui, vou escolher o último. E, depois, o primeiro.
"Abril despedaçado" conta histórias de famílias que, no árido Nordeste brasileiro, gastam seu tempo na elaboração e execução de emboscadas para matar, por vingança, membros de outra família, que também mataram por vingança. Decorre disso um derramamento de sangue que, de tanto acontecer, passa a ser tido como normal, como parte da norma. Dessa forma, um grão de areia que incomodou um bisavô - de tanto ir e vir na ventania da vingança - vira um imenso rochedo que esmaga o bisneto.
Greves que são feitas em universidades públicas e particulares brasileiras guardam alguma semelhança com o que descrevi acima, na medida em que questões de natureza política e administrativa que envolvem apenas certos cargos e funções, em vez de serem resolvidas em seu devido âmbito e com a devida competência dos dirigentes, acabam se tornando uma imensa parede que desaba sobre quem está sentado, querendo estudar.
Dias, semanas, meses em que a ventania das greves gasta e desgasta a base de uma participação social estudantil que poderia ser extremamente mais bem aproveitada se tomasse uma forma menos grave, uma forma grávida de bons ventos. É preciso desviar o curso daquele grão de areia que vai se tornando em rochedo esmagador, em um "bicho de sete cabeças", que nem os 300 de Esparta conseguem deter.
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