"Pra frente é que se anda" é um verso de Chico Buarque. Não é qualquer um, até porque é difícil dizer que ele tenha escrito qualquer um verso, e muito menos um verso qualquer. A música em que tal verso se encontra é um diálogo longo, colocado num ritmo de samba triste com falas carregadas de tristeza - por um lado - e de tentativa de incentivo - por outro. Um atento ao que ficou para trás; outro querendo impulsionar para frente.
Maestria para compor músicas com diálogo assim, só me lembro de outro carioca igualmente genial: Paulinho da Viola, com a magistral Sinal Fechado. Coincidência ou não, esta música tornou-se conhecida em um disco do Chico Buarque. E é bem isto mesmo: se é pra frente que se anda, também é pra frente que se corre. Seja em pistas físicas, seja em pistas da memória.
No domingo passado, enquanto corria meus parcos quilômetros e deixava minha mente também se exercitar movendo-se para longe da direção dos compromissos cotidianos, passei por um casal que fazia sua caminhada. O senhor e a senhora caminhavam para frente. Eu corria para frente. Por um momento, enquanto eu seguia pista adiante, minha mente parecia voltar-se para contemplar, por meio da imagem daquele casal, a história que estava para trás.
Havia naquelas passadas perenes uma história, independentemente do que possa representar muito ou pouco tempo. Havia um conjunto de acontecimentos bons e ruins, celebrados e não; havia ali momentos festivos e momentos de crise; havia ali uma pista que ambos tinham percorrido e que justificava o fato de estarem naquela pista física, passando por mim, para me ensinar que pra frente é que se anda - por mais que o passado fique incrustado na gente.
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